Parem de chamar os nordestinos de pobres e burros
O Bolsa Família, além de dar mais autonomia às mulheres na decisão da maternidade, trouxe outros impactos positivos, como a diminuição de partos prematuros e queda da mortalidade de menores de cinco anos
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Caiu por terra esta semana um dos principais argumentos usados pela direita reacionária e desinformada deste país – diariamente repetido como um mantra nas redes sociais – de que os programas sociais dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff só servem para estimular a natalidade e o desemprego, e que seus beneficiários são preguiçosos e ignorantes.
A última pesquisa do PNAD/IBGE aponta claramente que nos últimos anos a queda na taxa de natalidade dos 20% da população mais pobre foi maior que a do restante da população. E esse segmento é exatamente o de beneficiários em potencial de programas sociais.
Não há como negar. Basta saber ler e ter capacidade de análise, por menor que seja. Até mesmo o conservador jornal O Globo reconheceu o fato em manchete do último dia primeiro “Queda no número de filhos é maior entre beneficiários do Bolsa Família”.
Então, basta! Chamar os nordestinos de pobres e burros é puro preconceito, aliada à mais pura mais fé.
Quantas vezes ouvimos por ai no Facebook ou em mesas de bares da elite brasileira frases do tipo: “esse povo prefere fazer mais filhos para receber mais bolsa escola do que arrumar emprego e trabalhar”; ou “é claro que não querem trabalhar, se trabalharem vão perder a boquinha do Bolsa Família, do Bolsa Escola, esses programas inventados pelo PT pra garantir os votos dos nordestinos sem cérebro”.
Segundo os números coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), famílias que recebem o benefício do Bolsa Família tiveram menos filhos que a média brasileira entre os anos de 2003 e 2013.
Enquanto o número de crianças de até 14 anos caiu 10,7% no país, entre os 20% mais pobres do país - porcentagem que coincide com o público beneficiário do programa- a queda foi bem maior: 15,7%.
No Nordeste, onde os direitistas adoram afirmar que estão os votos de cabresto dos governos petistas, a mudança foi ainda mais significativa no período analisado: houve uma diminuição de 26,4% no número de filhos gerados entre a população mais carente.
Atribuir aos mais pobres um comportamento oportunista em relação à maternidade, como se essas mães fossem capazes de ter mais filhos em troca de dinheiro é pura hipocrisia.
Beneficiários do Bolsa Família recebem R$ 35 mensais por filho de até 15 anos. Nas famílias extremamente pobres, sem nenhuma renda, esse valor pode chegar até R$ 77.
Tenho certeza que essas pessoas, que se sentam nos restaurantes caros da cidade e entre um petisco e outro fazem este tipo de afirmação, sabem muito bem o que conseguem pagar com R$35,00 ou R$77,00, ou mesmo R$170,00 ( valor médio pago a uma família do Bolsa Família ).
Será que, honestamente, eles acreditam que uma mãe pode pagar todas as despesas de uma criança por mês, com o que eles gastam num almoço ou num jantar? Óbvio que não. Agem irresponsavelmente ou de má fé.
O Portal do Ministério do Desenvolvimento Social resume bem o fenômeno:
em dez anos, o número médio de filhos nas famílias mais pobres do país caiu mais do que a média brasileira, o que prova que as mães do Bolsa Família não geram mais filhos somente para ganhar um benefício maior.
Ao analisarmos as tabelas publicadas a nova realidade fica bem clara. A redução de natalidade no Brasil geral foi de -10,7%; entre os 20% mais pobres do país foi de -15,7%; e entre os 20% mais pobres do Nordeste foi de -26,4%.
Mais cristalino é impossível. Nordestino não tem filho só pra se beneficiar de programas sociais. Nordestino pobre tem filho porque é um ser humano, tem inteligência e sentimentos como todo e qualquer brasileiro, seja ele do Norte, Sul, Leste ou Oeste.
Entre os motivos considerados pelo MDS para a queda da fecundidade estão o maior acesso à informação sobre os métodos contraceptivos e a sexualidade, além do aumento da escolaridade da mulher jovem, entre outros.
Parte da mesma teoria direitista, amplamente divulgada pela internet e meios de comunicação, de que os benefícios sociais estimulam a preguiça e que os beneficiários não trabalham, também não podem ser levadas a sério. Trata-se de completa imbecilidade.
Pesquisas mostram que adultos beneficiários participam tanto do mercado de trabalho quanto adultos não beneficiários. Em relação ao Bolsa Família especificamente, três em cada quatro adultos trabalham.
Recente pesquisa do Instituto Data Popular aponta que sete em cada 10 beneficiários do Bolsa Família moradores em favelas trabalham. Ou seja, o benefício médio pago às famílias, de R$ 170 mensais, serve para complementar e não substituir a renda do trabalho.
O Bolsa Família, além de dar mais autonomia às mulheres na decisão da maternidade, trouxe outros impactos positivos, como a diminuição de partos prematuros e queda da mortalidade de menores de cinco anos.
Os resultados foram atingidos graças ao acompanhamento pré-natal para gestantes e ao acompanhamento dos filhos nos postos de saúde, contrapartidas obrigatórias dos beneficiários.
Resumo da Ópera para os inimigos do Brasil de plantão: no lugar de criticar sem fundamentos o Bolsa Família, ou outro programa social, busquem fazer algo pelo bem do Brasil e dos brasileiros. Saiam às ruas para defender a reforma política e o fim do financiamento privado nas campanhas eleitorais; manifestem-se para que Gilmar Mendes tire da gaveta o projeto que la colocou há mais de ano; lutem contra a precarização das leis trabalhistas em votação no Congresso Nacional. Fiquem atentos aos debates realmente importantes da política nacional. A democracia e a Nação agradecem.
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