Paranóia ou mistificação - por que é tão difícil combater Bolsonaro?
Já vi muito texto falando que Bolsonaro não é um lunático. Isto é mentira. Ele é um psicótico, paranóico, oligofrênico, e ele comanda uma paranóia coletiva
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Artigo escrito com Lauro Sérgio Lima, professor de contrução civil e geólogo
Já vi muito texto falando que Bolsonaro não é um lunático. Isto é mentira. Ele é um psicótico, paranóico, oligofrênico, e ele comanda uma paranóia coletiva. O fascismo tem esta pré-condição para se instalar como projeto de dominação. Freud dizia que o fascismo era uma histeria coletiva, uma alucinação de massas. Reich, outro psicanalista, dizia que era uma epidemia de praga psíquica, que só tinha sido possível a ele se instalar na Alemanha porque um imenso exército de recalcados, frustrados, explorados, infelizes, sem perspectiva tinha sido criado, e aí, como cogumelos na chuva, o ódio nazista proliferou. Theodor Adorno baseando-se em Freud, afirmava que o fascismo é uma condição atávica de desumanização, é uma paranóia coletiva de frustrados e recalcados de subjetivados, colocados nesta condição pela exploração capitalista, que ao transformá-los em dóceis instrumentos fabris, parafusos de uma engrenagem (lembram, Chaplin, “Tempos Modernos?), os rebaixa a uma condição primitiva, onde as pulsões sadomasoquistas de morte dominam a psiquê humana, individual e coletiva. O indivíduo é desumanizado, a individualização transforma-se na desindividuação, e o ser se vê esvaziado. A separação do homem da natureza, e de sua natureza, o transforma num autômato hostil aos outros homens.
O fascismo, o nazismo criam o mal absoluto, que é extremamente difícil de combater por ser estrutural. Se querem entender o mal estrutural, assistam ao “Menino do pijama listrado”, o único que se coloca na pele do outro é o menino filho do oficial nazista. O melhor retrato do mal absoluto é a mãe do menino, esposa do chefe do campo de concentração. Ela sabe de tudo, mas finge não saber (assim como bons cristãos, devotos de São Messias Bolsonaro fingem não saber que ele defende a tortura e o extermínio). O marido era bom pai, bom marido e tinha um bom emprego com oficial nazista. Judeus queimados num campo de concentração era um detalhe que tinha de ser eliminado da psiquê, assim, como jovens negros assassinados nas favelas todo dias é um detalhe a ser ignorado, pela nossa “felicidade” de crasse mérdia. Eichmann é o retrato absoluto do mal estrutural. Funcionário chefe da ferrovia que levava aos judeus a Auschwitz, ele dizia que nunca havia matado um judeu e que seu único trabalho era que os trens não saíssem atrasados. Inclusive, disse orgulhoso em seu julgamento, que nunca um trem saiu fora do horário para os campos de concentração.
O fascismo, o nazismo só funciona partindo-se da desumanização do outro, da criação do inimigo imaginário. Adorno/Horkheimer, em seus “Elementos do antissemitismo”, in “Dialética do esclarecimento”, mostram como funciona a criação destes inimigos imaginários. Rebaixam-se as pessoas a um estado de animismo primitivo mágico, retira-se delas qualquer centelha de racionalidade. Lembram de Damares, na reunião ministerial, uma mulher em estado bruto de primitivismo mágico selvagem? Não se iludam achando que nela só há estratégia, ela é aquele ser esquizofrênico, mesmo que acredita na existência física literal do Diabo. Da mesma maneira que Eichmann era um nazista fanático, que acreditava na realidade paralela criada pelo nazismo; Damares é a personificação da realidade lunática paralela do nazismo tupiniquim. Ela não é mentirosa. É mitômana. Vive num mundo à parte, mas acredita que ele é real. Nela, estratégia de dominação confunde-se com credo fascista disfarçado de evangelismo. Os melhores inquisidores não eram perigosos só por serem inteligentes e ou bom estrategistas, eram perigosos por terem fé cega na Inquisição. Os nazistas realmente acreditavam no Reich de 1000 anos e em Hitler.
Este desgoverno é "A paranóia em estágio delirante." Damares, Bolsonaro, Weintraub e Cia são um bando de psicopatas com um discurso o tempo todo paranóico, e tão somente apelando pro emocional, não possuem nada de racionalidade em suas narrativas. O discurso do fascismo para as grandes massas nunca vai pro lado racional, pois o fascismo não dialoga com a massa de desesperados, humilhados, recalcados, naufragados, sofridos através de um discurso de razão. Apela para o simbólico, para o emocional e para o medo. Medo e raiva, transformam-se na necessidade de catarse e vingança, através da criação de um inimigo imaginário. Ainda citando Adorno/Horckeimer, basta você substituir o judeu errante, criatura mitológica, o bicho-papão de adultos que recusaram-se a crescer, (exatamente porque as condições para seus crescimento espiritual como pessoas lhes foram negadas) pelo inimigo imaginário que você desejar: comunistas, petistas, putas, gays, mulheres… o que você desejar. O discurso sádico anal do fascismo é historicamente sempre misógino, porque a mulher representaria o útero, a reconciliação, a natureza humana, a fragilidade, a humanização. Não existe fascismo ou nazismo que não seja misógino em sua essência. Homens castrados e frustrados com discursos fálicos armamentistas são característica básica do nazismo. Quando mulheres aderem ao nazismo e ao fascismo, primeira coisa que atacam é a condição feminina, não é à toa que o discurso nazista-bolsonarista no Brasil é declaradamente antifeminista = misógino.
Assim, o pobre dominado se veste na fantasia do senhor, na dialética do senhor e do escravo. Ele na sua impotência de dominados, delira que é dominante e necessita dar vazão a seus impulsos neuróticos, necessita castrar/matar os inimigos imaginários. E o tanatos (Freud), a pulsão de morte. Os impulsos sádicos anais são descarregados num festim coletivo diabólico no inimigo imaginário a ser dizimado. Assim, o pobre, humilhado, escravizado, se vê como senhor ao exterminar fisicamente seu inimigo imaginário, é o momento em que seu desejo de potência, castrado e castrador, se realiza perseguindo, linchando, matando. É uma volta bestial ao sacrifício primitivo. E o inimigo passa a ser qualquer um que seu Messias determinar. Todo processo nazista ou fascistas se personifica na figura de um líder carismático messiânico que substituiu a figura paterna castradora e violenta. O comportamento das massas fascistas em sua violência é um transe psicótico coletivo. Neste estado de loucura, não há diálogo racional que os persuada.
Há limites para a Razão e para o Esclarecimento. Em Dialética do esclarecimento, Adorno e Horkheimer discursaram exatamente sobre isto. Há um perigoso preconceito nas Ciências Sociais, erigido em dogma, de que o discurso, o logos, a “luz” é suficiente para deter tragédias ou desastres. É a fé cega no esclarecimento, preconceito científico que vem tanto do platonismo, quanto do iluminismo e do positivismo. Platão dizia que o mal era insubstancial, assim, ninguém seria mal por opção, chegando a luz, a escuridão se dissipará (o escuro não é o contrário da luz, mas sua ausência), o mal é a ausência do bem. Este discurso chega ao iluminismo e, através da ideia científica positivista de Comte, às ciências sociais, como leis do Progresso. O desastre do nazismo criou a crítica a esta ideia. No Brasil, de verdade, discutimos pouco esta crítica. O fascismo é uma construção de estruturas, não se o combate só com discursos racionais, até porque ele leva a um estado de “ausência de subjetividade”, a um não-esclarecimento. Não é possível dialogar com um fascista. Na verdade, combater o fascismo significar combater e destruir suas estruturas, o que é uma verdade básica que teremos que reaprender.
No Brasil, por exemplo, um discurso democratista confundiu-se com um discurso democrático. Não existe democracia sem autoridade e inclusive, sem o uso da força contra os inimigos da democracia. Na Alemanha, qualquer apologia ao fascismo é crime contra o Estado punido com prisão. Um discurso libertário liberal esqueceu da dialética das estruturas reais. Assim, por exemplo, não combatemos o curandeirismo messiânico e a picaretagem, com a desculpa da liberdade religiosa, e retrocedemos para uma era pré-medieval, na qual concedemos canais de televisões para picaretas que vendem feijões mágicos e pregam mortes aos gays. Um discurso tautológico e circular que pretendeu democracia sem autoridade (medo e ranço da esquerda de discutir a questão da hierarquia e da autoridade depois de 20 anos de ditadura), e esqueceu de uma premissa básica, a tolerância com os intolerantes é defesa da intolerância.
Dizer que o fascismo e o nazismo tupiniquins, que se instalam frente aos nossos olhos, é uma paranóia coletiva, não significa dizer que nossos inimigos sejam burros ou incompetentes politicamente. O bolsonarismo usou e abusou das redes sociais e de estratégias muito mais avançadas de comunicação com as massas, do que as nossas, para nos derrotar em 2018. Isto foi facilitado por três questões.
1. Nosso negacionismo e primitivismo nas redes sociais, face a uma rede bolsonarista profissionalizada, montada desde o exterior com apoio e financiamento do movimento internacional fascistóide de Steve Bannon.
2. Os limites éticos da esquerda, que sim, devem ser respeitados, mas o não entendimento que aceitar certos embates no campo do adversário nos levariam a derrotas (amplificar fake news “criticando-as, por exemplo – a esquerda recompartilhava coisas como “a mamadeira de piroca, achando que as pessoas passariam o fake news pela luneta da razão).
3. Não entender o discurso emocional atávico de Bolsonaro e tentar desmontá-lo com apelos à racionalidade.
Existe uma parcela da população brasileira, que hoje deve variar entre 20% e 30% presa no processo de paranóia coletiva do nazismo bolsonarista. Não vai ser um apelo à razão que vai nos fazer ganhar esta parcela da população. Devemos estudar o discurso nazifascista de bolsonaro e ver formas mais eficazes de tentar miná-lo junto a esta parcela fanatizada, mas, acima de tudo, temos que destruir as estruturas que financiam e estruturam o discurso fascista. As redes de fake news, as redes miraculosas de picaretagem midiática, todo o sistema estruturado do fascismo no Brasil, que hoje conta inclusive com institutos que formam lideranças fascistas jovem custeando estudo e formação para eles.
Com ou sem Bolsonaro conseguir êxito ou não no seu intento golpista, o nazi-fascismo no Brasil estruturou-se como partido orgânico e movimento e veio para ficar por um longo tempo.
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