Parabéns professores-trabalhadores!
Com a ascensão do nazifascismo, que se iniciou com o golpe de 2016, vários educadores e educadoras foram (e são) perseguidos por exercer a educação crítica
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Dia 15 de outubro. A data que celebramos nossa profissão. Somos lembrados e valorizados com palavras pomposas e frases emocionais.
Romantizamos e somos romantizados como "aqueles que trabalham por amor à profissão". Sim, temos esse dom, mas somos trabalhadores e trabalhadoras. Assalariados, mal remunerados, explorados pelo sistema. Trabalhadores e trabalhadoras ameaçados por projetos acintosos como “Escola Sem Partido”, homeschooling, a reforma do ensino médio, a militarização das escolas, o voucher da educação.
Mas somos resistência e lutaremos pela educação verdadeiramente emancipadora, que formará mais do que alunos e alunas capacitados tecnicamente, mas que serão cidadãos e cidadãs questionadores, críticos. Mesmo que isso tenha um preço, ainda mais inflacionado em tempos reacionários como os de hoje.
Cito aqui um exemplo que me marcou profundamente, e que seria um dos primeiros casos de perseguição contra nossa profissão e de ataques à liberdade de cátedra, em mais um abuso contra nossos direitos constitucionais.
Era o ano de 2017, no campus da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP) em Piracicaba-SP. Na ocasião, o professor Marcos Sorrentino, durante a quarta edição da “Jornada Universitária em Apoio à Reforma Agrária” (JURA), participou de uma oficina no gramado da instituição junto aos companheiros e companheiras do MST, que foram compartilhar saberes com os educando em uma atividade de extensão, cujo objetivo é justamente a aproximação do meio acadêmico com a sociedade.
Eis que os reacionários, alinhados com o agronegócio, decidiram abrir sindicância contra o professor. Curiosamente, esses mesmos indivíduos nada falam quando corporações e grandes empresas privadas dos setores dos agrotóxicos e fertilizantes químicos ocupam os mesmos espaços para divulgar e fazer negócios com seus produtos, e até mesmo usando instalações públicas para desenvolverem suas pesquisas.
Esse foi um exemplo que mostra a situação de retaliação ideológica, indo contra o verdadeiro papel da universidade como um espaço de liberdade, emancipação e pesquisa voltada ao benefício da sociedade.
No ensino básico não é diferente. Perseguição que vai desde filmagens em salas de aula, críticas às postagens de redes sociais pessoais, e até pelo adesivo em seu carro ou a cor da camiseta que usa.
Com a ascensão do nazifascismo, que se iniciou com o golpe de 2016, vários educadores e educadoras foram (e são) perseguidos por exercer a educação crítica e questionadora. Não se pode mais falar de desmatamento e cortes das verbas de proteção ambiental, pois mesmo que sejam repertórios para os vestibulares e Enem, a realidade é demais para essa gente. Defender a Ciência e a importância do SUS, mostrando a necessidade de investimentos e não o corte e seu desmonte, ainda mais em tempos de pandemia e negacionismo científico, também não pode. A verdade incomoda.
Educação sexual então? Nem pensar! Mesmo que ela seja fundamental para esclarecimentos e prevenções de infecções sexualmente transmissíveis, que voltam a crescer entre esses jovens, tal como os casos de estupro, que somente com educação e empoderamento podem ser combatidos. Denunciar e mostrar os agrotóxicos em nossa água e alimentos, ilustrando com pesquisas científicas é demais para eles. Afinal, contra fatos não sobram argumentos, apenas retóricas vazias e fake news.
Por isso incomodamos. Por isso querem nos intimidar e até mesmo criminalizar nossos atos. Mas resistimos, lutamos e esperançamos! Somos imprescindíveis à sociedade, ainda mais em tempos de negacionismo e de conhecimento raso e tendencioso. Somos aqueles que auxiliam na formação de uma sociedade consciente, antirracista, justa, igualitária e verdadeiramente inclusiva.
Assim, não nos venham desejar felicidades se suas atitudes não condizem com suas palavras bonitas que nos rodeiam uma vez ao ano. Dispensamos seus cumprimentos se nos demais dias nos perseguem e querem nos calar por suas estapafúrdias e estúpidas teorias. Dispensamos seus cumprimentos “da boca para fora” se insiste em defender governos corruptos, genocidas, racistas, preconceituosos e lesa-pátria. De gente hipócrita estamos fartos!
É tudo tão inacreditável, ainda mais quando me lembro da famosa frase, dita no século passado, pelo poeta alemão Bertold Brecht: "que tempos são esses que temos que defender o óbvio?". Mais do que defender, temos a coragem de defender o óbvio e mostrar muito além daquilo que nos é imposto goela abaixo. Essa é nossa função social.
Diariamente tentam nos matar, mas esquecem que somos sementes! Sementes fortes e que resistem perante os abusos e absurdos a que somos submetidos. Sementes que geram frutos e proliferam o conhecimento que destrói mitos. Somos professores e professoras com orgulho sim, mas conscientes de que temos que lutar pela sociedade e por nossos direitos sem qualquer medo e, acima de tudo, com unidade e representatividade enquanto classe social.
Aos camaradas de profissão, meus parabéns! Lutar e resistir sempre!
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