Para vencer já no dia 2/10, Lula precisa profissionalizar as relações pessoais

"Lula não se preparou para o debate com a dedicação e o empenho necessários", escreve Luís Costa Pìnto

Lula em debate na TV Bandeirantes
Lula em debate na TV Bandeirantes (Foto: Reprodução / TV Band)


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Por Luís Costa Pinto 

(Publicado no site Platafoma Brasília)

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O ex-presidente Lula não foi bem no debate realizado no último domingo, organizado pelo pool de empresas Rede Bandeirantes, Uol, Folha de S. Paulo e TV Cultura, porque não se preparou para o evento com a dedicação e o empenho necessários. Isso ocorreu porque a agenda pessoal e familiar invadiu o rol de responsabilidades do candidato.

A noite do sábado, véspera daquele que era até então o maior teste de comprovação pública dos diferenciais competitivos e das qualidades do maior líder político contemporâneo do País, não foi dedicada a um jantar frugal e troca de informações e estratégias para o dia seguinte nos estúdios da Band. Ao contrário, um jantar animado em roda de conversa social prosaica, estendeu-se além do horário prudencial e o candidato petista viu o sol do domingo avançar sobre o relógio consumindo rapidamente o tempo de treino e dedicação para o debate.

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Jamais tal comportamento relapso, que tangenciou a irresponsabilidade, poderia ter acontecido. Lula não é candidato a presidente de si mesmo ou em razão de um projeto pessoal. Não: Luiz Inácio Lula da Silva, líder forjado no movimento sindical e uma das biografias cruciais no processo de redemocratização do Brasil, é também o único guia disponível para conduzir a Nação de volta à estrada tortuosa de civilidade e decência social que nos fazia avançar rumo à construção de um País mais solidário e inclusivo; menos desigual e perversamente dividido.

Em 2001, quando decidiu impor sua vontade dentro do PT e levar o publicitário Duda Mendonça para se entender com o Partido dos Trabalhadores e liderar a equipe de marketing da campanha eleitoral do ano seguinte, Lula corretamente identificou a necessidade de um choque de profissionalismo no ativismo envolvente e nas próprias relações políticas e pessoais. Sem aquilo, sabia, dificilmente ganharia as eleições de 2002. Para virar presidente, Lula se submeteu ao gênio personalista e brilhante de Duda, aperfeiçoou sua proverbial capacidade de se conectar com os anseios populares dos brasileiros situados, sobretudo, nos estratos mais espoliados e menos favorecidos da população, e venceu.

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O resto é História, e cá estamos de novo reivindicando a chance de escrever novos capítulos porque o epílogo proposto não pode ter inspiração, redação e edição de um canalha chauvinista como o atual presidente.

Há 20 anos, a Democracia e a busca da institucionalização das relações políticas eram valores ascendentes em um Brasil que experimentava as glórias de ter derrotado a inflação depois de subjugar uma ditadura militar sem que a sociedade recorresse às armas ou à desintegração do tecido social.

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Agora, estamos ante a ameaça real e concreta da ampla desorganização social e política, que se dará sob os escombros das instituições republicanas, caso o consórcio militar/empresarial/miliciano que chegou ao poder pelo voto na eleição viciada e ilegítima de 2018 renove a licença dada a Jair Bolsonaro para dinamitar as bases democráticas que estávamos a construir.

Cientes de que não verão País nenhum (bebo e saúdo Ignácio de Loyola Brandão), irresponsáveis capitães de empresas do que restou da mídia tradicional brasileira manipulam as cordas e distorcem o panorama informativo para inflar o que creem ser uma “3ª via” política na eleição presidencial.

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Não há, nem nunca houve, tal via.

Converteram o cenário de 2º turno, pelo qual lutam a esfolar verdades e o Jornalismo, nesta tal “3ª via” porque acreditam que Lula vencerá em 30 de outubro – mas, querem-no “domesticado”, “tutelado”, aviltado ante a própria persona política dele e posto sob o jugo da agenda que decidiram traçar no ambiente protegido e asséptico de suas empresas e do mercado financeiro. É irresponsável fazer isso, assemelha-se a convocar uma Nação inteira, espoliada e maltratada, para um piquenique trágico nas ribanceiras da caldeira de um vulcão ativo.

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Ao longo dos 28 dias de uma campanha imprevisível de um 2º turno num Brasil conflagrado, tudo será possível. Até a conversão da expectativa de vitória natural e concreta de Lula em possibilidade de derrota da única liderança capaz de exorcizar o demônio que nos ameaça porque os barões da mídia e do mercado e a plutocracia nacional só o querem domesticado, tutelado, filtrado. Esse é ônus da mídia tradicional e de seus players na plutocracia, na tragédia brasileira que está contratada e em curso em meio a essa aventura de 2º turno.

De volta ao papel que cabe a Lula, ao PT, ao PSB e às siglas e outras lideranças aliadas jogarem: o ex-presidente precisa profissionalizar o seu círculo pessoal. Isso tem de ser feito imediatamente, para vencer já no dia 2 de outubro e se impor altivamente à vendeta da plutocracia e da mídia tradicional. Mas, a profissionalização do círculo pessoal se revelará especialmente relevante e necessária depois da vitória nas urnas em razão do que segue:

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  • Ato contínuo à imposição da derrota a Bolsonaro em 2 de outubro, será essencial uma ação pragmática nos 2ºs turnos estaduais. É preciso derrotar fascistas, milicianos, extremistas em geral e neoliberais em particular – em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal, por exemplo. Minas Gerais já parece um caso perdido. Contudo, salvam-se os anéis do jogo político nacional porque, em terras mineiras, Lula colherá uma fulgurante vitória.
  • Não será tolerável, sob quaisquer argumentos ou ponderações, tergiversar e ceder à manutenção de Arthur Lira no comando da Câmara dos Deputados. O deputado alagoano é pernicioso para a Democracia, para o espírito republicano, para a moralidade pública e para a integridade das instituições e do erário. No interregno de um eventual e indesejável 2º turno nacional, ele tentará jogar o jogo do fortalecimento interno no Legislativo e conta com R$ 16 bilhões de dinheiro público mocozado no “Orçamento Secreto” para executar tal assalto à República.
  • É preciso ganhar tempo para articular saídas legais, legítimas e pactuadas com a sociedade para o esfacelamento dos mais diversos setores carentes da ação pública de um Governo: Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Bem-estar Social, Indústria e Comércio, Cultura, Relações Internacionais, agências reguladoras… ou seja, em qualquer área onde se faça necessária uma atuação de Estado. E ela é necessária em todas as áreas dada a dimensão do desmonte pelo qual o Brasil passa desde os tempos da chegada da cleptocracia (bolsa-Houaiss: governo de ladrões) de Michel Temer ao poder, usurpando a legitimidade de Dilma Rousseff, até a aventura da caquistocracia (bolsa-Houaiss: governo dos piores, dos mais perversos) chefiada por Jair Bolsonaro.

  Duda Mendonça traiu a confiança depositada nele pelo PT de forma desleal e vil. No volume 3 de Trapaça – Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro conto como tudo se deu a partir do depoimento que ele concedeu à “CPI dos Correios” no olho do furacão do escândalo que gerou a Ação Penal 470 (vulgar e inapropriadamente chamado de “mensalão”). Duda morreu no ano passado, apartado da maioria dos políticos para os quais pôs a serviço sua genialidade de publicitário.

Sucessor de Duda, o jornalista João Santana, que em 2002 era sócio do publicitário baiano e responsável técnico para dar conta das demandas de comunicação que exigiam maior compreensão científica e menos inspiração criativa, e entre 2006 e 2014 comandou o marketing petista da reeleição de Lula e das duas campanhas vencidas por Dilma Rousseff, hoje é o manipulador das cordas que fazem de Ciro Gomes o boneco de ventríloquo de comandantes tresloucados das empresas de comunicação que enveredaram pela estrada tosca da “3ª via”.

Santana, Ciro Gomes e a senadora Simone Tebet, candidata ungida no último domingo, no palco dos estúdios da Band, a mais recente bandeira desta turma que sabe fabricar vendavais para depois vender ao Governo de plantão abrigos para tempestade, sabem que a expressão “3ª via” é uma forma esperta de dizerem “queremos 2º turno”. E o querem porque desejam tutelar Lula. Para Ciro, o movimento pode render um revés que até aqui ele considera impensável: lança-lo a um humilhante quarto lugar da eleição, dando razão ao João Santana de 2014. Naquele pleito, desdenhando do então senador Aécio Neves (PSDB), principal adversário de Dilma, o jornalista baiano disse que abaixo da presidente, que seria reeleita, ocorreria uma “autofagia dos anões”. Esta autofagia está ocorrendo agora, e Ciro será engolido por Tebet em razão da misoginia, da canalhice dele para com Lula, dos ataques aos moradores de favela e das costumeiras terceirizações de culpa que promove.

O DataFolha do dia 1º de setembro não foi ruim para Lula. Líder, com 45% de intenções de voto no 1º turno, o ex-presidente está no mesmo patamar de intenções de voto que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estava em 1994 e em 1998 um mês antes das respectivas eleições. FHC tinha 44% de intenções de voto em 1994 a 30 dias das urnas – venceu a eleição com 54,24% dos votos no 1º turno. Em 1998, na 1ª eleição com reeleição, Fernando Henrique tinha 48% de intenções de voto e foi reeleito em 1º turno com 53% dos votos válidos. Lula está estável há um ano com elevado patamar de intenção de voto, de voto consolidado (mais de 80% de seus eleitores dizem que não mudarão a escolha até o encontro com a urna) e índice de rejeição razoavelmente baixo – entre 36% e 39%, dependendo da empresa de pesquisa – quando comparado com o adversário incumbente Bolsonaro – sempre acima de 52% de rejeição. Logo, profissionalizar as relações pessoais de Lula e aprimorar a preparação e as chances de uma necessária e fundamental vitória em 1º turno é algo necessário e fundamental para o País, para o Estado e para as instituições brasileiras.  

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