Para que serve o direito?

Temos de convir que os principais responsáveis pelas fiscalização das leis e de seu cumprimento vêm colaborando ativamente para o seu fim e a mais absoluta insegurança jurídica que este país já experimentou. Em que Tribunal da História, responderão essas pessoas por esses atos de lesa-cidadania e lesa-pátria?



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Estive, nesta semana que passou, no 1º Congresso Jurídico da Faculdade de Limoeiro. O conclave dedicado ao tema dos Direitos Humanos e o cumprimento dos tratados internacionais pelas nações contou com a participação de Juízes, promotores de Justiça, advogados e até de um ex-ministro e ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Duas coisas me chamaram muito a atenção nesse encontro: primeiro, a discussão do papel do Ministério Público no cumprimento dos Direitos Humanos; segundo, o momento muito delicado em que se encontram no mundo, na América Latina e no Brasil, os direitos humanos e do cidadão.

Tive a pachorra de aguardar até as 21:00 as falas dos ilustres palestrantes que me antecederam, nesta noite (dia 21). E fiquei curioso como ex-integrantes da PG estadual, discursavam sobre a autonomia e a liberdade do Ministério Público, no novo ordenamento jurídico, seu papel de fiscal da cidadania, garantidor de direitos etc. E me lembrava das autoridades públicas (do PSB) que governam Pernambuco. Como pode haver autonomia e liberdade de um Poder, quando seus membros são indicados ou nomeados por quem deve ser fiscalizado e responsabilizado civil e penalmente, quando ocorrem casos clamorosos de denúncia de improbidade administrativa, gestão temerária ou corrupção? - Em tese, a separação dos poderes deveria garantir a independência de cada um em relação ao outro. Infelizmente, não é assim que acontece na prática corriqueira de procuradores e magistrados em relação ao Poder Executivo.

Muitas vezes, este último encontra inúmeras maneiras de cooptar ou neutralizar as atribuições legais do Ministério Público ou da Procuradoria do Estado: desde o poder de nomeação para altos cargos, seja na magistratura, seja no MP, até os mimos da infinidade de gratificações dispensados a esses, tudo concorre para que a função precípua de controlar e fiscalizar as ações administrativas do gestor termine por restar como letra morta e decretar a impunidade dos ilícitos na administração pública. Casos de nepotismos, de favorecimento a terceiros em grandes obras públicas, superfaturamento no pagamento de desapropriações, sobrecificações na venda de terrenos públicos, etc. tudo isso passa como fatos corriqueiros e banais do dia-a-dia da administração pública, e nenhuma providencia é tomada para averiguar ou responsabilizar os gestores envolvidos nesses casos.

continua após o anúncio

Mais graves são as consequências eleitorais dessa clamorosa omissão: estes mesmos gestores caminham placidamente para uma campanha eleitoral, como se não devesse prestar o mínimo esclarecimento à opinião pública, em face da passividade daquele outro Poder que deveria, sim, ter cumprido com a sua missão constitucional. Quem perde é a cidadania, iludida com a purpurina e o glamour da propaganda enganosa do gestor público.

O segundo ponto que mereceu a minha atenção foi mais interessante. Depois de uma exposição didática da evolução do Direito e a crise que se abriu com a virada linguística na filosofia do Direito, conduzindo a uma perspectiva nominalista da Justiça e dos próprios direitos humanos, alguém pediu a palavra e perguntou pela situação dos direitos humanos na América Latina, sobretudo na Venezuela. Essa questão deu ensejo a uma análise mais ampla da situação extremamente delicada em que se encontram os DH. no mundo de hoje.

continua após o anúncio

Depois que a agenda da política externa norte-americana de "guerra ao terror" dominou a política externa da União Europeia e convenceu os governos europeus a integrarem a frente de guerra no Oriente Médio e Ásia central, num triste processo de "libanização" de vários estados considerados inimigos dos EUA., o cumprimento dos tratados internacionais de Direitos Humanos passaram a ser cumpridos "Á la carte", como disse a Anistia Internacional. Os governos beligerantes, liderados pelos EUA, passaram a submeter esses tratados a razões de Estado, nem sempre coincidentes com os interesses da humanidade ou de seus concidadãos. A face mais visível desse horizonte incerto para os DH. é o que vem ocorrendo na América Latina, com uma sucessão de golpes parlamentares contra governos constitucionais e legítimos, em benefício da execução de uma agenda econômica neoliberal e pró-mercado (Paraguai, Honduras, Brasil).

Naturalmente, esse movimento não é alheio aos interesses da política externa norte-americana, que voltou a fazer acordos bilaterais com vários países latino-americanos e a tentar enfraquecer o processo de integração regional, liderado pelos governos de centro-esquerda. E aí chegamos ao Brasil: nunca se viu uma ameaça de retrocesso tão grande, como a que estamos assistindo nesse momento: o desmonte e a deslegitimação do SUS, as propostas indecorosas de reduzir e simplificar a grade curricular do ensino médio (retirando ou flexibilizando o ensino da filosofia, sociologia etc.), o ataque às políticas de transferência de renda para a população mais pobre, a privatizando do que resta do patrimônio nacional e - mais grave - a imposição de um Estado de Exceção "episódico" que caminha a passos largos para se torna explícito e permanente.

continua após o anúncio

Continuam as manobras de um certo poder judiciário (ativista) para intervir arbitrariamente no processo político brasileiro, com prisões espetaculares, conduções coercitivas, divulgação de trechos de delações, com um único objetivo: alijar determinados atores políticos do jogo eleitoral. E tudo com a cumplicidade da mídia golpista e imoral, absolutamente sem controle democrático, que nós temos nesse país.

Temos de convir que os principais responsáveis pelas fiscalização das leis e de seu cumprimento vêm colaborando ativamente para o seu fim e a mais absoluta insegurança jurídica que este país já experimentou. Em que Tribunal da História, responderão essas pessoas por esses atos de lesa-cidadania e lesa-pátria?

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247