Para integrantes da campanha de Lula, está na hora de aprender a bater

“É uma campanha dura. Vai cada vez mais se intensificar e polarizar. O Lula falando em amor no primeiro turno não faz mais sentido”, diz fonte a Denise Assis

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: REUTERS/Mariana Greif)


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Por Denise Assis, para o 247 

O legado da reeleição desequilibrou o jogo num país em que os políticos de modo geral não sabem separar a máquina pública dos seus interesses pessoais. O que está no posto, por exemplo, desde que desceu do parlatório, ao encerrar o seu discurso de posse, já deu início à campanha pela reeleição. Foi só o que fez nos seus quase quatro anos de mandato. 

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Fora a campanha diuturna, montou equipes de sustentação a esse plano, e uma máquina azeitada de fake News e de embaralhamento do jogo, onde inseriu os filhos, seguidores ideológicos – vide Damares Alves – e as Forças Armadas, que o seguiram por mimos que vão desde próteses penianas, a medidas que permitiram a soma de soldos e salários na casa de quase um milhão, como foi o caso de seu candidato a vice, Walter Braga Netto.

O resultado foi a chegada ao pleito à base de ameaças e uma onda de medo – a contabilidade do número de mortos e feridos perpetrados por seus seguidores já é considerável -, que vem preocupando a campanha do ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo um dos coordenadores. “Essa mentira sobre a instalação dos banheiros unissex, está no nosso radar. Já a estamos colocando no mesmo nível de desgaste da mamadeira de p..., na campanha do Haddad (em 2018)”, chegou a dizer uma fonte da coordenação da campanha que conversou com o 247.

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Outro ponto a ser considerado pela coordenação é que a onda de medo entre os eleitores tem a nítida intenção de desestimular os eleitores de irem até às urnas votar. “Temos de fazer uma campanha forte, a fim de estimular os nossos eleitores a irem votar.” De acordo com sua avaliação, já há um certo receio de ostentar os botons, adesivos e a camiseta com a face de Lula estampada, coisa que em todas as eleições era comum, e o uso do vermelho.

Entra aí a discussão em torno da sugestão da ex-candidata e senadora Simone Tebet, da opção pela cor branca, a fim de trazer o voto dos indecisos. Segundo a fonte, esse não é um ponto para o partido e nem sequer para Lula, que acolheu a sugestão e até compareceu em suas últimas aparições, ostentando o branco. O militante segue o seu coração e escolhe as suas cores. Sempre foi assim e a sugestão de Tebet foi encarada desta forma: apenas como uma sugestão.

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As imagens do último feriado, consagrado à Nossa Senhora Aparecida, reforça o que diz o integrante da campanha de Lula. Os bolsonaristas estão cada vez mais agressivos a fim de manter o medo na militância, principalmente no Sudeste e no Sul. Bêbados, trajando a indefectível – e agora abominável – camiseta da seleção, um pelotão de choque de bolsonaristas cercou e impediu o trabalho de uma equipe da TV Vanguarda, do Vale do Paraíba, e reproduzida pela Rede Globo. Isto, depois de em seu sermão o arcebispo de Aparecida do Norte, D. Orlando Brandes, ter cobrado definição religiosa (visivelmente de Bolsonaro, batizado pelo pastor Everaldo no Rio Jordão), e mandar um recado: “Temos muitos dragões que Maria vai vencer: do ódio, da mentira, do desemprego e da fome”. Os fanáticos de Bolsonaro partiram para cima dos jornalistas, descarregando sobre eles a ira que não podiam despejar contra o arcebispo.

Sobre abstenção, além do fator medo, há também uma certa desmobilização natural, ou perda de interesse. O eleitor - analisou a fonte -, depois que elegeu no primeiro turno o deputado e o governador por quem nutre simpatia, ou tem mais proximidade, se desinteressa pela eleição. “No segundo turno essa parte já está resolvida. Se pegarmos os dados ao longo dos anos, sempre a abstenção no segundo turno é maior. Isso acaba nos preocupando”. 

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Havendo comparecimento, reina confiança no comitê lulista. Do ponto de vista de agenda o foco continuará sendo o Sudeste. Há, porém, uma forte convicção de que dá para ampliar a margem de eleitores para Lula no Nordeste – ainda mais depois que Bolsonaro menosprezou a região, onde, segundo ele, os analfabetos tendem a eleger o Lula.

A conversa com essa fonte se deu dois dias antes da caminhada pela Bahia, mas a opinião no comitê já era a de que lá seria um dos locais para ampliar bastante a votação. A presença de Lula na capital, Salvador provou que os prognósticos estavam certos. Um mar vermelho tomou conta da orla da capital baiana, independente dos pedidos de Simone Tebet. Os lulistas vestiram a camiseta sem medo de ser feliz. Foi estimada a presença de cerca de 500 mil pessoas atrás do trio elétrico.

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Outro ponto de honra é segurar Minas, o que na avaliação da fonte, “não está muito fácil por causa da atuação do Zema”. A ressalva, é a de que embora exista a parcela Lula/Zema, o fato de o governador ter sido eleito por 56,41% dos mineiros já no primeiro turno, requer cautela e muito trabalho no estado, segundo colégio eleitoral do país. “Ele entrou na campanha. Temos que cuidar. O Lula esteve lá, vai voltar, depois vai para Varginha...”, antecipou.

“A gente entende que essas atividades que aconteceram em Campinas e Belo Horizonte, as caminhadas, estão resolvidas. Cria uma onda boa do ponto de vista de público. A questão de rua está bem. Agora contamos com esses apoios que a gente avalia de muita importância”. Por exemplo, o apoio do prefeito Waguinho, de Bolford Roxo. “Houve muita comemoração, porque era um eleitor que não era nosso. Por isto que esse tipo de apoio é bom”. 

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A campanha do ex-presidente vai também centrar fogo em São Paulo e Rio. Em São Paulo, há uma ressalva. O foco não será apenas o interior. “Se você pega as regiões metropolitanas: Vale do Paraíba, Baixada, Sorocaba e grande São Paulo, só aí você tem 80% do eleitorado paulista. Diante de tal conclusão, e da certeza de que o público já aprendeu a associar Lula a Alkimin, a coordenação decidiu usar mais o vice pelo interior, na busca do eleitor mediano, conservador. “O Alkimin está entrando bastante nos programas tanto do Haddad quanto do Lula”. 

Outra conclusão: “é uma campanha muito dura. Ela vai cada vez mais se intensificar e polarizar. Principalmente nos comerciais. Vamos bater forte. Cansamos de apanhar. Aprendemos a bater também. O Lula falando em amor no primeiro turno não faz mais sentido”. Segundo a avaliação da campanha, “o eleitor não vai perdoar o Lula ficar sendo chamado de ladrão e não reagir. Não pode levar desaforo para casa. Está sendo uma campanha forte e intensa”, destacou.

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Por essas e outras ficou decidida a emissão da Carta aos evangélicos. “O problema é que tem uma parte que acredita que o Lula vai fechar igrejas, a outra acredita que ele fez pacto com o capeta. Então o Lula precisa responder. Para isto vai ser direcionada a carta. Temos de mover ações para esse público, o religioso, porque se você não faz nada eles acreditam que é isto mesmo. A omissão passa a impressão que é verdade”. 

A fonte esclarece que não será uma carta com o objetivo de ser lida nas igrejas pelos pastores. “É uma carta dirigida a esse povo, lançada nas redes sociais. Se o pastor quiser ler nas igrejas, tanto melhor. Aí é uma ação política da militância nessa área. Melhor que leia, mas é uma carta para o público das redes sociais. Ela não é para a cúpula dos evangélicos. Pelo contrário. É uma carta aos evangélicos”.

Sobre os apoios que não param de chegar, resumiu: “o Lula dá direito às pessoas de opinarem sobre aquilo que pensam. A campanha do Lula ficou ampla. São amplos os setores. Ele hoje representa a democracia. Vem gente de todo tipo. Você veja que veio o povo que foi do governo Fernando Henrique Cardoso... Todo esse povo tem opinião”. Não necessariamente a opinião dos novos “adeptos” não é o que está contido no programa do Lula, mas ele considera legítimo as pessoas opinarem. “Até porque, no segundo turno a pessoa não vota no candidato. Ela vota naquilo que ela não quer. E para votar contra aquilo que ela não quer, as pessoas têm que ter um motivo”. E não faltam motivos para barrar a permanência de Bolsonaro no poder. O país não aguenta mais quatro anos de truculência, isolamento, ódio e ameaças.

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