Palhaço da política
Na análise do jornalista Alex Solnik, o discurso de posse do novo chanceler, Ernesto Araújo "foi o discurso de um integralista"; "Sem tirar nem por. Ele citou José de Alencar, tupi guarani, fez a saudação "anauê", prometeu uma cruzada contra o comunismo. Alinhou-se com a extrema-direita mundial. Não faltou nada"; ele ainda acrescenta que "Araújo também declarou que admira EUA, Israel, Hungria, Polônia e Itália. Nunca se viu o chefe da diplomacia brasileira dizer uma barbaridade dessas", condena
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia – Os integralistas foram fundamentais para a implantação do Estado Novo. Um deles, o capitão Olympio Mourão Filho foi encarregado pelo seu chefe, Plinio Salgado, de redigir de próprio punho um documento no qual descreveu o que seriam instruções do Komintern soviético para o Partido Comunista tomar o poder no Brasil.
Era uma fraude grotesca, - uma fake News - mas a imprensa deu manchetes de grave ameaça comunista sem ter sequer lido o texto – afinal, era secreto –, apavorando a população e Getúlio Vargas usou esse pretexto (que a história denominou "Plano Cohen") para proclamar uma ditadura de direita que mais tarde ficou conhecida como Estado Novo.
Getúlio chamava os integralistas de "palhaços da política". Eles macaqueavam os fascistas de Mussolini. Se vestiam de preto e desfilavam na Esplanada do Flamengo em marcha militar, empunhando bandeiras com o seu símbolo, o estigma – uma versão da suástica nazista –, cumprimentando com o braço direito estendido (como Hitler) e gritando "Anauê" em vez de "Heil, Hitler".
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Nacionalistas ferrenhos, adoradores fervorosos do tupi guarani e de José de Alencar, seu foco principal – como o dos fascistas italianos - era combater greves e manifestações comunistas a ferro e fogo.
Os embates, com armas de fogo e porretes, se davam à luz do dia, nos locais mais movimentados da então capital da República. Não raramente resultavam em mortos e feridos.
Havia muitos integralistas no governo Getúlio, inclusive Francisco Campos, o autor da constituição de 37, conhecida como Polaca.
Dois meses antes de decretar a sua ditadura, Getúlio se reuniu com Plínio Salgado. Avisou que em breve iria promover uma guinada na política que redundaria no fim dos partidos, salvo o Partido Integralista Brasileiro. Além disso, prometeu nomeá-lo ministro da Educação do novo regime.
Até então candidato a presidente da República, Plinio viu ali a chance de consolidar o Integralismo. Retirou a candidatura e resolveu ajudar Getúlio, entregando-lhe de bandeja o "Plano Cohen".
O Estado Novo seria decretado no dia 15 de novembro de 1937, para simbolizar a refundação da República. No entanto, notinhas vazadas nos jornais acerca de movimentação estranha no governo levaram Getúlio a antecipar seu golpe para o dia 10.
Colado ao rádio, como a maioria dos brasileiros, Plinio Salgado esperava ouvir o que Getúlio lhe prometera: que o Partido Integralista seria mantido e ele seria ministro.
Mas Getúlio traiu o acordo. Anunciou o funeral de todos os partidos políticos. Inclusive o P.I.B. E nem tocou no ministério para Plinio Salgado.
Os integralistas se recolheram. Por um tempo. Na madrugada de 11 de maio de 1938, assim que Vargas se recolhe para dormir, uma tropa de galinhas verdes assemelhada ao Exército de Brancaleone invade o Palácio Guanabara com o intuito de assassinar o presidente e tomar o poder. Num comunicado via rádio, à 1 da manhã, um porta-voz do grupo anuncia:
"Tomamos o poder! O governo foi deposto! Brasileiros, a postos"!
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Alzira, filha de Getúlio, que está no palácio, pede ajuda aos ministros mais próximos, por telefone, mas se surpreende com as reações:
"Goes Monteiro me disse nada poder fazer porque também estava cercado em seu apartamento. Francisco Campos transmitia palavras de solidariedade admirativa e passiva. Filinto Muller confirmou o prévio envio de tropas e espantou-se de que não houvessem chegado ao destino".
"Não fiquei sabendo como, quem nem porque" relatou Alzira em suas anotações "o general Eurico Gaspar Dutra foi o único membro do governo que conseguiu atravessar a trincheira integralista. Não pude apurar também o que aconteceu depois que se retirou, novamente transpondo o cerco do inimigo. Aconteceu muita coisa mais que eu soube, que me contaram, que descobri, que li. Mas não vá o sapateiro além do sapato. Eu não vi".
Somente quatro horas depois da invasão do palácio chegaram as tropas de Filinto. Sete integralistas foram executados a tiro de revólver nos jardins do palácio. O líder do ataque, o ex-tenente integralista Severo Bournier foi encarcerado numa masmorra onde morreria depois ao contrair tuberculose.
Mais de 1500 pessoas são presas nos dias seguintes, fossem ou não integralistas. Octavio Mangabeira, que contestara a instauração do estado de guerra; Armando Salles de Oliveira e Júlio de Mesquita Filho, dono de "O estado de S. Paulo" partiram para o exílio.
Plinio Salgado, no entanto, presumível mentor do "punch" não foi processado na Lei de Segurança Nacional.
Lembro tudo isso porque o discurso de posse do novo chanceler, Ernesto Araújo foi o discurso de um integralista. Sem tirar nem por. Ele citou José de Alencar, tupi guarani, fez a saudação "anauê", prometeu uma cruzada contra o comunismo. Alinhou-se com a extrema-direita mundial. Não faltou nada.
Araújo também declarou que admira EUA, Israel, Hungria, Polônia e Itália. Nunca se viu o chefe da diplomacia brasileira dizer uma barbaridade dessas. Não apenas por demonstrar preferência por regimes ou mandatários autoritários. Mostrou que tem lado. E – o pior – o lado errado. Em apenas uma frase ele destruiu o que a diplomacia brasileira vem construindo desde os tempos do Barão do Rio Branco.
Ao dizer que admira aqueles quatro países, menosprezou grandes parceiros comerciais do Brasil, como a China, potências como a Rússia, como a França, como a Alemanha, criando animosidade totalmente desnecessária e que piora o clima de negócios com esses países.
Se estivesse vivo, Getúlio o chamaria de "palhaço da política".
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