Países ao redor do mundo estão deixando o dólar dos EUA

A campanha global de desdolarização está ganhando força, à medida que países de todo o mundo buscam alternativas à hegemonia do dólar estadunidense

(Foto: Reuters)


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(Originalmente publicado no Geopolitical Report. Adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247)

A campanha de desdolarização está ganhando força, à medida que países ao redor do mundo todo buscam alternativas à hegemonia do dólar dos EUA.

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A China e a Rússia estão comercializando nas suas próprias moedas.

Pequim e Brasília também abandonaram o dólar no comércio bilateral.

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Os Emirados Árabes Unidos estão vendendo o seu gás para a China em yuan, através de uma empresa francesa.

As nações do sudeste asiático da ASEAN estão desdolarizando o seu comércio, promovendo sistemas de pagamentos locais.

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O Quênia está comprando petróleo do Golfo Pérsico com a sua própria moeda.

Até mesmo o jornal Financial Times reconheceu que está emergindo um “mundo multipolar de moedas”.

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Quando o presidente chinês Xi Jinping visitou Moscou em março, o seu contraparte Vlafimir Putin revelou que dois-terços do comércio bilateral dos dois países já são conduzidos em rublos e renminbi.“É importante que as nossas moedas nacionais estão sendo usadas cada vez mais no comércio bilateral”, disse Putin. “Nós devemos continuar promovendo liquidações financeiras nas moedas nacionais e expandindo a presença recíproca das estruturas finaceiras e bancárias nos mercados dos nossos países”.

O líder russo adicionou, “Nós apoiamos o uso do yuan chinês nas transações entre e Federação Russa e os seus parceiros na Ásia, na África e na América Latina”.

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Apenas uma semana após a viagem de Xi a Moscou, a China anunciou que, pela primeira vez, havia usado o yuan para comprar gás natural liquefeito de petróleo (LNG) dos Emirados Árabes Unidos.

A transação foi negociada entre a empresa estatal China National offshore Oil Company e a empresa francesa TotalEnergies, o que significa que agora as empresas eurupeias estão dispostas a conduzir transações em yuan.

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O veículo de mídia francês RFI descreveu o comércio como “um passo importante nas tentativas de Pequim de minar o dólar estadunidense enquanto o 'petrodólar' do comércio de gás e petróleo”.

A reportagem cita o pressidente da Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai, Guo Xu, que disse que o negócio encorajou “a precificação, a liquidação financeira e os pagamentos transfronteiriços em moedas múltiplas”.

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Em 30 de março, a China e o Brasil (o país mais populoso do mundo e o sexto país mais populoso do mundo) anunciaram que haviam chagado a um acordo para comercializar entre eles nas suas moedas locais, o yuan e o real.

A rede de mídia chinesa CGTN reportou que “O acordo permitirá que a China, a segunda maior economia do mundo, e o Brasil, a maior economia da América Latina, conduzam diretamente as suas massivas transaçoes comerciais e financeiras, trocando yuans por reais e vice-versa, ao invés de passar pelo dólar dos EUA”.

Eles assinalaram que a China é o maior parceiro comercial do Brasil e que os dois países realizaram mais de US$ 150,5 bilhões de comércio em 2022.

O presidente esquerdista do Brasil, Lula da Silva, instou que a América Latina desenvolva uma nova moeda para o comércio regional, que ele chama de Sur.

Apenas dois dias antes da China e o Brasil revelarem o seu acordo de comercializar nas suas moedas locais, a ex-presidenta do gigante sulamericano, Dilma Rousseff, assumiu oficialmente o seu novo papel como chefe do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB – New Development Bank) em Xangai.

O NDB, comumente conhecido como o Banco dos BRICS, foi criado pelo bloco composto pelo Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul como uma alternativa ao Banco Mundial dominado pelos EUA.

Dilma, assim como o seu alaido Lula, é uma esquerdista do Partido dos Trabalhadores do Brasil. Num discurso que o Geopolitical Report publicou em 2022, Dilma analisou o conflito EUA-China como “uma rivalidade de dois sistemas”, uma luta entre neoliberalismo e socialismo. Ela condenou as sanções estadunidenses e a “hegemonia do dólar” e clamou para que a América Latina “rompa com a Doutrina Monroe”.

Os países do Sudeste da Ásia também estão se desdolarizando.

Os ministros de finanças e governadores dos bancos centrais dos estados-membros da ASEAN (Association of Southeast Asian Nations) se encontraram na Indonésia em 28 de março.

Segundo o website de notícias ASEAN Briefing, no topo da pauta deles estavam “discussões para reduzir a dependência do dólar dos EUA, do Euro, doYen e da Libra Esterlina para transações financeiras e para passar a fazer liquidações financeiras nas suas moedas locais”.

A ASEAN está desenvolvendo um sistema de pagamentos digitais transfronteiriços que permitiria usar as moedas locais no comércio regional. O ASEAN Briefing assinalou que a Indonésia, a Malásia, Cingapura, as Filipinas e a Tailândia acordaram sobre isso em novembro de 2022.

O veículo de mídia adicionou que o banco central da Indonésia também planeja criar um sistema local de pagamentos.

O ASEAN Briefing escreveu:

O presidente indonésio Joko Widodo instou as administrações regionais a começarem a usar cartões de crédito emitidos por bancos locais e gradualmente deixarem de usar sistemas de pagamenros estrangeiros. Ele argumentou que a Indonésia precisava se defender das perturbações geopolíticas, citando as sanções dos EUA, na União Europeia e dos seus aliados que visam o setor financeiro da Rússia sobre o conflito na Ucrânia.

A Indonésia é o quarto país mais populoso da Terra, após os EUA.

Uma outra nação do sudeste da Ásia, a Malásia, está defendendo publicamente a desdolarização.

O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, se encontrou com o presidente chinês Xi em Pequim em 31 de março, quando os dois lideres discutiram planos para enfraquecer a hegemonia do dólar estadunidense e até de criar um “Fundo Monetário Asiático”.

Este é um desafio frontal ao Fundo Monetário Internacional (FMI) dominado pelos EUA – que emergiu da Confrência de Bretton Woods em 1944, a qual estabeleceu o dólar dos EUA como a moeda global de reserva.

Anwar propôs que o Fundo Monetário Asiático durante o Forum Boao, na província chinesa de Hainan.

“Não há razão alguma para a Malásia continuar dependendo do dólar”, disse Anwar, em comentários reportados pela agência Bloomberg.

O veículo de mídia adicionou que o banco centra da Malásia está desenvolvendo um mecanismo de pagamentos, de modo que o país do sudeste asiático possa comercializar com a China usando a sua própria moeda, o ringgit.

A agência Bloomber assinala:

Os comentários do líder malaio vâm apenas alguns meses depois que ex-autoridades em Cingapura discutiram sobre o quê as economias da região deveriam fazer para mitigar os riscos de um dólar que ainda é forte e que enfraqueceu as moedas lcais e se tornou uma ferramenta de política econômica.

A força do dólar é uma dor de cabeça para as nações asiáticas, incluindo a Malásia – que é uma importadora líquida de alimentos.

“Política econômica” é uma maneira rotatória de se dizer guerra econômica. As sanções unilaterais que os EUA impuseram sobre países em todo o planeta, em flagrante violação da lei internacional, estão saindo pela culatra. Muitas nações agora estão buscando alternativas financeiras, temendo que elas poderiam ser o próximo alvo.

E com o Federal Reserve (aka banco central) dos EUA aumentando constantemente as taxas de juros, o dólar se tornou tão forte que está causando danos às moedas de outros países, tornando mais caras as importações.

Até mesmo a Índia, uma aliada dos EUA, está apostando na desdolarização.

A agência Reuters reportou que o maior produtor de petróleo da Rússua, a empresa estatal Rosneft, fez um acordo com a maior refinaria de petróleo da Índia, a Indian Oil Corp, que também é estatal, para usar o marco de preço de Dubai para as vendas de petróleo, em oposição ao preço Brent.

A decisão de “abandonar o nível de preço Brent dominado pela Europa faz parte de uma mudança nas vendas de petróleo russo para a Ásia”, ela escreve.

A Reuters citou “o CEO da Rosneft, Igot Sechin, que disse em fevereiro que o preço do petróleo russo seria determinado fora da Europa, à medida que a Ásia emergiu como a maior compradora de petróleo russo”.

Diversos países africanos também estão defendendo a desdolarização.

Em março, o Quênia assinou um acordo com empresas estatais da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos para comprar petróleo a crédito, usando a moeda local do país, o shilling.

O Quênia pediu para fazê-lo porque as reservas de dólares do país africano estão baixas, à medida que paga por importações mais caras.

A presidente do conselho editorial do Financial Times e seu editor-geral para os EUA, Gillian tett, escreveu que “a agitação bancária, a inflação e uma batalha iminente sobre um teto de dívidas nos EUA está tornando os ativos baseados em dólar menos atraentes”.

Ela assinalou que o ex-economista da Goldman Sachs que foi o primeiro a popularizar o termo BRICS, Jim O'Neill, declarou que “o dólar desempenha um papel dominante demais nas finaças globais”.

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