Página infeliz da nossa história
A história sobre a ditadura militar no Brasil não pode ser reescrita, pois, como dito, já está escrita
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Outubro não tarda. Contudo, até lá muita água ainda vai rolar. Por “água” entendamos tudo de bom e de ruim que possa acontecer, afinal, o que está em curso é uma luta do “bem contra o mal”, como bem disse dia desses um senhorzinho alucinado e perverso, representação do próprio mal que se abateu sobre este país. Trata-se de uma luta pesada, brutal e suja na qual o inimigo se utiliza de todo um aparato poderoso de pressão, perseguição, chantagem e falseamento de informações e notícias.
Pode isso, Arnaldo? perguntaríamos. O que se percebe, pelo andar da carruagem, sim, pode. O que não pode é artista se manifestar politicamente em eventos privados. Quando ocorre, determinadas autoridades, “induzidas ao erro”, claro, agem rapidamente. E, como num lampejo de eras passadas, voltam a assombrar a nação com os coices da censura, instrumento usado e abusado durante a ditadura militar (que também era civil), na tentativa vã de calar a voz do povo. O que se tem em casos assim é a comprovação de que filhos e viúvas das trevas impostas a este país ainda se locupletam em altos cargos da nossa dita República, bancados pelo sangue e o suor do cidadão comum.
É por essa e outras razões que o mandatário geral da nação costuma vociferar os mais hediondos absurdos contra a democracia e as Instituições constituídas, em recorrente desrespeito à Constituição Federal a qual jurou seguir, respeitar e obedecer. Como filhote da ditadura que dilacerou o Brasil por 21 anos, o referido senhor e seus asseclas se acham no direito de violar as liberdades constitucionais duramente conquistadas. Não sabem eles, na verdade ignoram, que esta nação não os tolera mais; que não aguenta mais viver na miséria, enquanto meia dúzia de escolhidos enriquecem a si e aos seus e se refestelam com o bom e o melhor, enquanto a população afunda na pobreza, no desemprego e numa tristeza sem fim.
Como se não bastassem todos os danos, inclusive as mais de 650 mil mortes causadas pela incompetência do Estado brasileiro e seus gestores, civis e militares, no contexto da pandemia, é muito triste ter que ler no noticiário notinhas do Governo, especificamente do Ministério da Defesa, enaltecendo o golpe militar de 1964. Além de ser um escárnio, um atentado à memória dos perseguidos, presos e mortos pela ditadura, a referida nota oficial é mentirosa e nefasta, em pelo menos dois pontos. Primeiro, porque o que houve em 64 não foi um “movimento”, mas um sangrento golpe, que rasgou a Carta Magna do país e violou o Estado Democrático de Direito, jogando o Brasil num abismo de trevas. Segundo, por não haver nada a se comemorar nos 58 anos do maldito golpe, assim como não há nenhum legado de paz, mas de tristeza, dor e morte.
O golpe de 1964 não se constitui, de forma alguma, como marco histórico, como delira o autor da nota, da evolução política brasileira. Seu autor erra mais uma vez ao afirmar, que o golpe militar em questão “refletiu os anseios e as aspirações da população da época”. Seguindo o que diz a infeliz nota, umas perguntinhas se fazem necessárias: Que parte da população brasileira apoiou, bancou e viu representada no fatídico golpe de 64 seus anseios e aspirações? Os “anseios” e as “aspirações” eram mesmo da população brasileira? A quem interessava um golpe militar no maior país da América Latina?
E dando sequência à enxurrada de erros e absurdos, a nota oficial do Ministério da Defesa ainda afirma que a ditadura “fortaleceu” a democracia no país. Sério? A fragilidade histórica e discursiva da tal da nota permite as mais variadas análises, o que renderia muito mais que um mero artigo de opinião, talvez uma dissertação ou uma tese. A única coisa que se salva no texto é a frase “a história não pode ser reescrita”, no que concordamos, pois, a história já está escrita. E a história é clara e objetiva ao registrar que o golpe militar de 1964 foi uma violação à democracia brasileira.
Ao se consultar os livros mais elementares sobre a história do Brasil, especificamente o período de 1964-1985, tem-se acesso aos fatos, com nomes de vítimas e algozes, bem como lugares de tortura e morte. É curioso, caro leitor, que a nota não traga nenhuma linhazinha que seja sobre isso. Por que será? A história sobre a ditadura militar no Brasil não pode ser reescrita, pois, como dito, já está escrita. A ela, no entanto, pode-se acrescentar fatos, governos e nomes. Sem dúvida, os futuros livros de história tecerão ligações entre os períodos de 1964-1985 e 2018-2022 e aos historiadores essa nota oficial será de grande valia. Para concluir, pensemos: o que aconteceria se o Ministro da Defesa da Argentina ou do Chile, por exemplo, divulgasse uma nota desse tipo?
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