Pacheco, sua cadeira no Senado pertence à Dilma Rousseff

"Pacheco, se não fosse Dilma Rousseff, aliás, o que fizeram com aquela mulher, você jamais[1] seria senador, tampouco, presidente do Senado Federal. Explico"

Rodrigo Pacheco e Dilma Rousseff
Rodrigo Pacheco e Dilma Rousseff (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado | Ederson Casartelli)


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Este texto na verdade é uma carta, um desabafo e uma solicitação ao presidente do Senado da República, Rodrigo Pacheco. Nem sei se chegará até suas mãos, querido. Nem imagino que lerás. Todavia, é meu dever lembrar algumas cenas de farsas no jogo civilizatório brasileiro.

Pois bem! Pacheco, se não fosse Dilma Rousseff, aliás, o que fizeram com aquela mulher, você jamais[1] seria senador, tampouco, presidente do Senado Federal. Explico. 

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Lembremos que Dilma foi duas vezes na mesma década vítima da podridão de um sistema (neo)colonial mesquinho e fétido. No primeiro, em 2016, sofreu um golpe quando ainda Presidente da República. Sem qualquer crime com nexo de causalidade que se sustentasse em júri simulado de alunos em avaliação no terceiro semestre do curso de Direito, Dilma foi injustamente apeada do cargo mais importante deste País. Dois anos depois, em primeiríssimo lugar nas pesquisas[2] para ganhar a cadeira de senadora da República, Dilma sofre novo golpe: um arranjo jurídico-midiático faz brotar das profundezas do limbo fascista, tendo como principal articulador da montagem o ex-juiz, Sergio Moro, que “obrigou” que o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci[3], montasse um teatro para uma delação premiada (mentirosa) em que envolvia a cúpula do PT, entre as quais, Dilma Rousseff em suposto escândalo. Faltavam pouco mais de 48 horas para o pleito eleitoral que consagraria Rousseff na tribuna dos seus algozes, no Senado, onde deram o golpe fatal para seu afastamento. 

Vamos repetir o núcleo desta informação? Dilma em primeiro nas pesquisas; Moro, o juiz ladrão “rouba um palco” e forja uma cena; Palocci surge neste teatro e mente[4] descaradamente a atingir o PT e, óbvio, a Dilma; a eleição acontece dois dias após e Rodrigo Pacheco herda a cadeira que seria de Dilma, não fosse a “decepção” do eleitor mineiro com uma mulher que novamente era “espancada”, torturada pelo sistema podre das elites nacionais. 

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Falo isso, Pacheco, mas você não tem nada a ver com o que Moro e o conluio dos poderosos fizeram a fim de destruir o PT, Dilma e Lula a fim de não restar nem pó deles no imaginário da sociedade. O que, ao inverso, quis dizer aqui é que os Céus – após a intervenção maldosa do homem – escolheram, por algum motivo, você para substituir a Dilma. E, olha só!, não apenas te tornas senador, como ocupas o lugar mais importante do Poder Legislativo brasileiro. É neste ponto que desejo realmente chegar.

Foi o “ovo da serpente” de um fascismo inédito no mundo, cuja faces somam, além do autoritarismo típico desse regime, ademais, uma espécie de cafetismo barato (perdão pelo neologismo que uso para dizer sobre promotores de um sistema de prostituição política vil), que chocou nesta quadra da história. Entretanto, precisamos corrigir as tragédias na história.

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É perceptível seu jeito sério de conduzir as coisas da República. Aparentemente, um homem probo, de bondade própria e protocolar na defesa da democracia. Muito embora reúna minhas críticas ao seu silêncio tantas vezes quanto aos crimes de Bolsonaro, sobretudo, vendo as milhares de mortes na pandemia da COVID-19 e pouco, ou nada fazendo para inibir as cruezas do Governo, ainda assim o sr. carrega algo legal dentro de si; és um bom ser humano.

Neste sentido, venho finalmente lhe pedir: ajude a tolher de uma vez por todas qualquer ameaça à democracia deste País. Ajude mais: pensando (e visualizando a imagem) das crianças Yanomami, vítimas do que há de mais cruel (Hannah Arendt nos memoriza sobre a “banalidade do mal”) no humano; lembrando de milhares de pessoas que, sem oxigênio por pura omissão do Governo, morreram asfixiadas e agonizantes; imaginando as periferias de sua Minas Gerais, milhões de pessoas passando fome na mais dura fotografia que possa representar o significado de fome quando lhe chega ao cérebro esta palavra, peço que não meça esforços para, de um lado apoiar os instrumentos à verdadeira punição dos criminosos – todos os aliados de Bolsonaro que crimes como estes comentaram e ainda tripudiaram das pessoas vulnerabilizadas – e, de outro, tendo coragem de propor a cassação de qualquer colega seu no Senado que continue a sugerir a banalidade do mal (em todos os sentidos). 

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Gostando o sr. ou não de Dilma Rousseff, porém, sabendo que és um homem justo (de boas intenções, ao que parece) e reflexivo, faça isso por ela; por uma reparação histórica às cruezas que fizeram a esta mulher[5]. Todavia, faça mais ainda: pelo sr., que é muito jovem e tem absolutamente tudo para galgar ainda mais robustez no pacto com a história e a política do Brasil. Ademais, faça mesmo pelo povo brasileiro: não aguentamos mais tanta dor, tanto deboche às nossas vidas, tanto desprezo (desprezíveis seres que brotam das castas coloniais e continuam a mandar no Brasil, normalmente, por mais dinheiro ou por mais poder). No mais, desejo-lhe sucesso neste novo biênio de sua Presidência!

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[1] Evidentemente que escolhi essa palavra para elucidar o impacto da ideia. Claro que sei que o sr. seria senador em algum momento. Sua competência e habilidade lhe darão vários cargos ao longo de sua carreira. Contudo, se não tivessem injustiçado a Dilma como fizeram, talvez seus planos, Pacheco, seriam adiados, como os dela o foram.

[2] Pesquisa Data Folha, por exemplo: Dilma: 29%. Pacheco era o terceiro colado empatado tecnicamente com Carlos Viana, ambos na casa de 15%. Veja mais em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/eleicoes/2018/noticia/2018/10/02/pesquisa-ibope-para-o-senado-em-mg-dilma-29-viana-17-pacheco-15-pinheiro-14.ghtml.

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[3] Veja mais sobre a delação articulada por – parafraseando Tancredo Neves –“Canalhas! Canalhas! Canalhas!”. Entre as pesquisas, segue esta opção: 

 https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/01/politica/1538428364_331167.html

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[4] Veja mais sobre as investigações da PF que demonstraram que as delações tinham objetivo político: acabar com a eleição de Fernando Haddad e de outros petistas em 2018:

 https://www.conjur.com.br/2020-ago-16/delegado-pf-mostra-delacao-palocci-foi-inventada.

[5] Nunca é demais lembrar que Rodrigo Pacheco, na época, deputado pelo PMDB, votou “Sim” pela cassação de Dilma Rousseff. Veja o seu discurso:  https://www.youtube.com/watch?v=HQmZN_8_zGA.

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