Oxigênio versus asfixia
Um Reitor que exerceu um mandato é uma pessoa com uma biografia respeitável, cujas opiniões nos interessam. Na luta contra a asfixia, apenas oxigênio não basta. É preciso sensatez. Sobretudo, inteligência, remédio que, para falar a verdade, não abunda, como a cloroquina, para distribuir a granel, neste governo.
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Muitas vezes, diante dos eventos, custamos a alcançar a carga metafórica que armazenam, indo além de seus limites, do ponto de vista do que significam. Isto na medida em que, ultrapassada a impressão inicial, algo em curso aponta para fenômenos profundos que, à primeira vista, não se alcançava. E não estamos falando de literatura, ainda que esta, frequentemente, acerte, querendo dizer mais do que realmente diz.
Assim foi, por exemplo, com A peste, de Albert Camus, romance no qual uma epidemia implicava, de fato, na crise do nazismo e suas perversões. As recentes notícias da falta de oxigênio em Manaus para atender aos doentes da Convid-19, escondiam problemas que apontavam não só para a incompetência das autoridades, com o perdido general Pazuello à frente, mas para uma postura ideológica hoje gritantemente declarada. O capitão no Palácio do Planalto, nesse ponto, não mentiu sobre os seus desígnios. Pretendia “limpar” a estrutura governamental de tudo o que não lhe fosse agradável. Se fosse preciso, removeria a inteligência e a faria desaparecer do cenário, nomeando estúpidos e incompetentes para os cargos. Assim aconteceu na Educação, depois que o desbocado Abraham Weintraub caiu e, entre os designados, tivemos até gente com currículos falsos! Nas universidades, há algum tempo o governo procura afrontar a legislação não nomeando dirigentes a partir das listas dos mais votados.
Rebela-se contra a letra da lei aprovada pelo Congresso e em pleno vigor. Para não encerrar o assunto, resolveu fiscalizar os discursos dos reitores e, de acordo com o seu teor, puni-los, por via de códigos caducos da antiga ditadura militar. A Universidade Federal de Santa Catarina já vivera excessos de arbitrariedade com o reitor Luiz Carlos Cancellier de Oliva, vítima das arbitrariedades da delegada Érika Mialik Marena, agora implicada em iniciativa de forjar processos... Levaram-no ao suicídio. Infelizmente, é uma caixa de Pandora, quanto mais se remexe, maiores os monstros que dela se desprendem.
Mal concluído o episódio do Reitor Cancellier, desta feita na Federal de Pelotas, os constrangimentos dizem respeito ao ex-Reitor Pedro Hallal e ao Pró-Reitor de Extensão e Cultura Eraldo dos Santos Pinheiro, por delitos de opinião. Criticaram a condução (sem dúvida, lamentável) na administração da epidemia. Membros da CGU e do Ministério da Educação, estimulados pelo desejo de adular o chefe, não aceitaram os conceitos emitidos. Ignoram, que, nas universidades públicas, indivíduos que atingem às altas posições da reitoria, o fazem depois de vasta experiência acadêmica e científica atestada por seus pares. Não pode acontecer a escolha de um intruso, um enganador, um apadrinhado, para, de repente, depois de semelhantes processos, representar o corpo como um todo.
Um Reitor que exerceu um mandato é uma pessoa com uma biografia respeitável, cujas opiniões nos interessam. Na luta contra a asfixia, apenas oxigênio não basta. É preciso sensatez. Sobretudo, inteligência, remédio que, para falar a verdade, não abunda, como a cloroquina, para distribuir a granel, neste governo.
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