Ovo da serpente na França



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       O primeiro turno das eleições regionais francesas trouxe uma lição útil para os partidos que, depois da reação espetaculosa de François Hollande aos atentados de 13 de novembro, imaginavam que o Partido Socialista tivesse descoberto uma fórmula mágica para manter-se no poder de qualquer maneira, sem encarar os problemas prioritários que atingem a população de um país onde o desemprego chegou ao patamar mais alto em 18 anos e a economia não dá o menor sinal de recuperação.

      O PS ficou em terceiro lugar na preferência dos franceses. A direita de Nicolas Sarkozy ficou em segundo. Coube aos fascistas do Front National assumir a primeira posição, com 28% dos votos. O fascismo também foi o primeiro colocado em seis das 13 regiões do país.

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       Não há nada para o celebrar neste resultado. É de se imaginar que, no segundo turno, um acordo entre os adversários da  véspera permita derrotar o fascismo em eleições que, de uma forma ou de outra, ajudam a preparar o terreno para o próximo pleito presidencial. É a primeira providência a se tomar, evidentemente.

       Mas não é a única.

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       A interpretação conservadora do resultado é conhecida. Consiste em dizer que a população votou com medo de novos atentados terroristas, o que levaria a aceitar as teses do Front Nacional pelo menos num ponto – de que é preciso aumentar a repressão sobre imigrantes e o controle sobre fronteira. Outro ponto é apagar as responsabilidades pelo prolongada paralisia econômica do país.  

     A contínua ascensão do fascismo na política francesa vem de antes. É um fenômeno que antecipou em pelo menos uma década o que hoje ocorre em outros países da Europa e só se explica pela ausência absoluta de respostas adequadas dos partidos tradicionais, em particular dos socialistas, a maior sigla de esquerda do país, aos problemas vividos pela maioria da população.

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     Eleito para a presidência como principal esperança de mudança numa Europa destruída pelos programas de austeridade assumidos pela União Europeia após a crise de 2008-2009 pelo governo Sarkozy, François Hollande desempenhou um papel pateticamente previsível e lamentável depois da vitória.

   Rejeitou todas as possibilidades de construir uma política econômica alternativa. Assumiu uma postura de principal auxiliar de Angela Merkel na condução da Europa – mas incapaz, evidentemente,  de oferecer, aos franceses, o mínimo de conforto que a primeira-ministra assegura aos assalariados alemães, recusando-se a fazer, no interior de suas fronteiras, aquilo que exige do lado de fora.

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   A maioria dos observadores costuma explicar vitórias de partidos fascistas – erradamente chamados de populistas – pela chave cultural. Fala da baixa escolarização da população, da falta de partidos políticos consolidados, pelo desapego da população aos valores democráticos e assim por diante.

  O crescimento do Front National num país que é visto como um exemplo de democracia, pluralidade de ideias, abrigo de  uma cultura admirável e assim por diante, mostra que estes fatores têm sua importância mas estão longe de impedir opções pelo horror político. (Não custa lembrar que o nazismo, mais monstruoso sistema político do século XX, não foi produzido num país atrasado do mundo subdesenvolvido, mas na Alemanha, nação mais rica e culta da Europa de seu tempo.)

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    O fascismo cresce basicamente a partir da desmoralização de partidos operários tradicionais,  que deixam de dar respostas adequadas a seus eleitores e procuram cumprir uma agenda de acomodação com os interesses que governam a União Européia. Em sua indispensável biografia política Hitler, o historiador Ian Kershaw relata as duríssimas campanhas eleitorais que antecederam a vitória do nazismo na década de 1930 como uma disputa sem fim em torno de um tema único – a criação de empregos, dizimados pelas crises sucessivas que afundaram o país após a derrota na Primeira Guerra Mundial.  

   Na França de 2015, as respostas do Front Nacional são uma perversão dos problemas reais vividos pela maioria dos franceses, que jamais serão resolvidos por Marianne Le Pen e seus aliados. Mas é evidente que o país enfrenta dramas importantes na vida real que deverão ser encarados de frente – sob o risco de alimentar ainda mais o ovo da serpente.

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