Outro retrato de um país em chamas

O crime corre solto, os presídios são pocilgas cruéis, e isso não vale apenas para o Rio Grande do Norte ou para o nordeste, vale para todo o país

Ataques criminosos no Rio Grande do Norte
Ataques criminosos no Rio Grande do Norte (Foto: Reprodução/PM-RN | Reuters)


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Pois é, vamos lá: tem o tal atentado planejado contra o manipulador provinciano semianalfabeto que atende pelo nome de Sergio Moro, temos os juros escorchantes impostos pelo Banco Central comandado pelo neto daquele Roberto Campos original, tem os esbarrões entre os presidentes da Câmara e do Senado, e isso sem mencionar Jair Messias, a filharada e uma dona Michelle cada vez mais saltitante e saliente, toda fru-fruzinha.

 Resultado: o que acabamos de ver no Rio Grande do Norte vai acabar na vala da normalidade, do esquecimento, da mesma forma que outras rebeliões de extrema violência ocorridas principalmente em estados do Nordeste, mas também ao longo do país nos últimos tempos, foram esquecidas ou quase.  

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 É como se a sequência assombrosa de atentados, tiroteiros, destruição e mortes fosse natural.

 Todo mundo, ou quase todo mundo, sabe que já faz um bom tempo, pelo menos uma década, que há uma disputa ferrenha entre grupos armados pelo controle de territórios Brasil afora, mas com crescente foco no Nordeste.  

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 O fogo é mais feroz entre o PCC, Primeiro Comando da Capital, que partiu de São Paulo para avançar em outros rumos, e o Sindicato do Crime, uma dissidência do grupo.   

Pois é: nenhuma novidade, e esse quadro preocupante é encarado com certa naturalidade, como se fosse normal que de repente, em apenas três dias – mais exatamente entre 13 e 16 de março –, tenham ocorrido atentados em 39 dos 167 municípios do Rio Grande do Norte.  

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A capital ficou sem coleta de lixo e sem hospitais, sem aulas e sem transporte, sem comércio, um monte de veículos foram incendiados, e por aí vai.  

 A governadora Fátima Bezerra pediu ajuda ao governo federal, foram mandadas para lá tropas e grupos de força especial, mais de 70 pessoas foram presas, sabe-se lá quanta gente morreu, enfim, um clima de tensão máxima. E pronto: quase não se fala mais nisso.

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Acontece que, ao menos desta vez, a confusão e a violência não foram causadas por disputas entre os tais bandos rivais pelo controle de vastas áreas nos municípios do interior e também na capital.

Não, não, o que aconteceu foi o contrário: Sindicato do Crime e Primeiro Comando da Capital se uniram, numa pausa insólita, para protestar contra o que acontece nas cadeias do Rio Grande do Norte.

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  Um relatório do ministério dos Direitos Humanos e Cidadania aponta que foram encontradas evidências de tortura física e psicológica, falta de alimentação, de assistência em saúde, falta de higiene e superlotação, entre outras barbaridades.  

 Os ataques a serviços públicos, ao comércio, à população, foram então um grito de alerta disparado pelos criminosos que estão soltos para denunciar a ação dos criminosos responsáveis pelos presídios.  

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 Claro que tanto o governo do estado como os órgãos da chamada segurança dizem que nada disso, que é pura disputa entre bandos criminosos pelo controle de espaço nas cidades.  

 Seja lá o que for, trata-se de mais uma constatação clara: o crime corre solto, os presídios são pocilgas cruéis, e isso não vale apenas para o Rio Grande do Norte ou para o nordeste, vale para todo o país.  

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 E rebeliões acontecem e acontecerão país afora, e as regiões irão variando conforme a época. Da mesma forma, também irá variar o grau de violência, sempre para mais.

 O mais terrível é que não há solução à vista. E cada vez que essa brutalidade acontece, logo depois vem alguma outra notícia tipo a ameaça contra o tal de Sergio Moro, e tudo volta à normalidade.

 Ou seja: mais explosões de violência, mais incêndios, mais horror.

 Até quando? Pois é.  

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