Ou Bolsonaro deixou delinquir ou delinquiu
"Tudo indica, no entanto, que Ferreira Dias é apenas a ponta do iceberg. A CPI está revelando um enorme esquema de corrupção dentro do ministério da Saúde em meio à maior pandemia dos últimos 100 anos, na qual está envolvido o presidente da República. Resta saber se ele deixou delinquir, ou participou da delinquência", escreve Alex Solnik
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Tanto Dominguetti quanto os irmãos Miranda denunciaram o mesmo cara: Roberto Ferreira Dias. Ele pressionou Luiz Carlos Miranda a autorizar antecipação de U$46 milhões na compra da Covaxin e jantou com o vendedor da Davati que oferecia Astrazeneca no qual teria pedido U$1 dólar por dose de propina.
Tanto Dominguetti quanto Miranda têm provas. Miranda tem mensagens por whatsapp e afirma que o diretor mandava e desmandava no ministério. Nada rolava sem ele. Também tem provas de que Bolsonaro ouviu dele e de seu irmão denúncia contra Ferreira Dias, Ao que Bolsonaro teria comentado: “Isso é coisa do Ricardo Barros”.
Dominguetti já provou ter jantado com esse então todo poderoso da Saúde. Tão poderoso que Pazuello não conseguiu exonerá-lo em novembro de 2020 porque Bolsonaro não deixou. E, como era praxe, o general obedeceu ao capitão. Ferreira Dias foi, portanto, protegido pelo Planalto em vez de ser investigado.
Nem os Miranda nem Dominguetti apresentaram provas de que Bolsonaro e Ferreira Dias disseram o que eles disseram que disseram, o que só vão provar se apresentarem gravações.
Dominguetti já garantiu que não gravou Os Miranda, não se sabe.
Ainda que Dominguetti não tenha como provar a pedida de propina, já é muito grave o fato de um diretor do ministério da Saúde tratar da compra de vacinas da Astrazeneca com um intermediário, sabendo-se que a Saúde tem contrato com a Astrazeneca via Fiocruz.
A atitude mostra disposição de ir atrás de negócios clandestinos. Qual seria o motivo, a não ser obter vantagens, como a recompensa de U$1 dólar por dose?
Tanto na denúncia dos Miranda quanto na de Dominguetti, há indícios suficientes para Bolsonaro ser investigado por prevaricação.
Ele sabia, ao menos desde novembro de 2020 que Ferreira Dias não era flor que se cheire. E nada fez. Depois, em março de 2021, foi de novo avisado sobre Ferreira Dias pelos irmãos Miranda e nada fez. Ferreira Dias só foi exonerado depois da denúncia dos irmãos Miranda na CPI.
Não importa se Bolsonaro recebeu a denúncia de possível corrupção diretamente, como no caso dos Miranda, ou indiretamente, como no caso de Dominguetti. O fato é que Ferreira Dias foi blindado pelo presidente. Era homem de Ricardo Barros e Ricardo Barros é homem de Bolsonaro.
É público e notório, além disso, que o ministro da Saúde de fato, desde as demissões de Mandetta e de Teich é o próprio Bolsonaro. Não tinha como desconhecer as estrepolias de Ferreira Dias, ao menos desde novembro de 2020.
Tudo indica, no entanto, que Ferreira Dias é apenas a ponta do iceberg. A CPI está revelando um enorme esquema de corrupção dentro do ministério da Saúde em meio à maior pandemia dos últimos 100 anos, na qual está envolvido o presidente da República.
Resta saber se ele deixou delinquir, ou participou da delinquência.
É isso o que a CPI tem que apurar de agora em diante.
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