Ou a esquerda ganha as ruas ou vai assistir a um desfile de rosários, camisas da CBF e bonecos infláveis

A esquerda repete o mesmo erro do período pré-golpe de 1964, analisa Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. "Segue com as suas atividades, se articula, mas deixa as ruas para a ultradireita que, uniformizada, endinheirada e, (novamente, como em 1964, amparada pela mídia), faz parecer que vence a narrativa", escreve

(Foto: Manifestação em defesa de Bolsonaro e Moro)


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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia - No período pré-golpe de 1964, a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) organizou 49 “Marchas da Família com Deus pela Liberdade”, país afora, pedindo a derrubada do presidente João Goulart, e contra o “comunismo – sempre ele, o bicho-papão. De quebra, incluíam na pauta o fim da “corrupção”, item para todas as horas, para golpes de todas as épocas.

E o que fez a esquerda? Um movimento aqui, outro ali, algumas greves, mas nenhuma com a consistência dos cerca de um milhão que foram às manifestações, ao lado das senhorinhas de terço na mão, pedir a derrubada do governo democraticamente eleito. No Rio, as marchas foram puxadas por grandes damas da sociedade, como Eudóxia Ribeiro Dantas, Lúcia Jobim, e outras, todas frequentadoras da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, há muito atuando sob a orientação e em consonância com o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipês), para o esperado golpe. O resultado é o que sabemos. Os 21 anos de sombra e horror

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De novo a esquerda comete o mesmo erro. Segue com as suas atividades, se articula, mas deixa as ruas para a ultradireita que, uniformizada, endinheirada e, (novamente, como em 1964, amparada pela mídia), faz parecer que vence a narrativa. A corrente fascista míngua a olhos vistos a cada manifestação, porém, com a grana que “ergue e destrói coisas belas”, como cantou Caetano, colore as telas da TV. E é isto que importa para o respeitável público. O espetáculo. 

Pouco importa a mensagem que levam nos cartazes (Pelo fechamento do Congresso, mais armas e o fim do STF). Não bastava um jipe, um cabo e um soldado? O público não presta atenção a isto. O que lhe enche os olhos são os bonecos-espetáculo (iguaizinhos aos patos que a Fiesp encomendou para 2016. Nãos seriam da mesma linha de produção?). E com direito à presença do ministro que deveria ser da “Inteligência” do governo, responsável por inspecionar viagens presidenciais, preceder chegadas em eventos oficiais, prever vexames, em vez de creditá-los à fata de sorte. (Falta de sorte é sair sem guarda-chuva, fazer uma bela escova no cabelo e ver desabar um toró, ministro). E, o que é mais grave: ver o presidente colocar “o povo” acima de qualquer instituição. Sem medir consequências.

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O momento de rua deveria ser dos setores progressistas, que depois de vivenciar duas experiências de golpe sem esboçar qualquer reação, têm pauta de sobra: os 30 milhões de desempregados precisam fazer o link entre a sua situação e o imobilismo do (des)governo em lhes criar oportunidade de trabalho. Em casa, os trabalhadores/telespectadores deveriam compreender o real buraco que está sendo cavado para as suas vidas, com a reforma da Previdência do Paulo Guedes.  Os estudantes, a vanguarda de sempre, precisam encontrar um discurso que contamine os pais e demais parentes em suas reivindicações pela defesa de verbas para a Educação. E o Congresso, volver os olhos para esse passado e recordar que um dia, em pleno processo de “abertura”, um fascista baixou o pacote de abril (em 1º de abril de 1977) e “fechou a lojinha”.

Apenas o Supremo Tribunal Federal seguiu aberto em suas atividades, para “fazer fachada” de legalidade. Antes que seja tarde, ou a esquerda se move agora do sofá, e faz um árduo trabalho de mobilização, ganhando as ruas de volta ou tal como em 1964, perderemos esse espaço para os rosários, as camisas da CBF e os bonecos infláveis. 

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