Os que discordam de mim não prestam?

As pessoas dominadas pela alienação agem como diabos soltos sem a menor capacidade de discernimento, de diálogo e, muito menos, de mudança de pensamento

As pessoas dominadas pela alienação agem como diabos soltos sem a menor capacidade de discernimento, de diálogo e, muito menos, de mudança de pensamento
As pessoas dominadas pela alienação agem como diabos soltos sem a menor capacidade de discernimento, de diálogo e, muito menos, de mudança de pensamento (Foto: Dom Orvandil)


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Prezado amigo Alexandre Pinheiro, de Porto Alegre, RS

Seguidamente sou instigado por e-mail, ligações telefônicas e até pessoalmente sobre as razões que me levam, segundo essas pessoas imaginam, a discriminar quem pensa diferentemente de mim.

Algumas são incisivas ao afirmar que nem pareço religioso ao fazer acepção – diferença e seleção – de pessoas. As que pensam como eu são boas e as que pensam diferente não prestam.

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Escrevi já aqui, e debato em toda a parte onde falo, que há dois mundos abismais entre pensamentos: um de direita e o outro de esquerda. Esses pensamentos não discriminam: as pessoas necessariamente se posicionam a partir do que pensam e agem em qualquer lugar onde vivam. Os seres humanos moldam-se de acordo com o que pensam ao falar, escrever, agir e até a crer. Mesmo que não tenham consciência disso.

Outro dia uma pessoa muito querida chegou a me afirmar que há pessoas de direita que são boas. Como tenho liberdade com ela argumentei que é impossível uma pessoa de direita ser boa. Elas podem fazer algumas coisas boas, mas seus pensamentos não as fazem essencialmente boas.

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Já tratei aqui do tema “direita”, mas convém a ele voltar.

Quando definimos direita aparece o conceito contraditório esquerda e vice-versa.

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Esses conceitos são simples, embora sobre eles teóricos sérios se debruçam a pesquisar e a escrever.

O vocábulo chave para entendê-los é “ideologia”. Sugiro ler aqui a monografia do professor Flávio Sposto Pompêo (com indicação de suas notas e vasta bibliografia), que o explora exaustivamente nos clássicos.

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A ideologia como mecanismo de leitura e estudo das ideias radiografa rápida e profundamente uma pessoa, independente de nossos sentimentos ou avaliações sobre ela.

Então, não se trata de querer bem ou mal as pessoas. Cada uma se posiciona no mundo e na vida a partir do comando dado pelo pensamento que domina sua mente e seu comportamento, independente de sua vontade.

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A partir da definição de ideologia é possível recuar longamente na história para entendermos como pessoas e grupos se comportaram e porque agiram dessa ou daquela forma.

Os evangelhos têm símbolos que orientam o entendimento nesse sentido. Falam, por exemplo, em joio e trigo. Enquanto este produz grãos que alimentam, que fazem bem à vida, aquele sufoca e mata.

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Também se referem a árvores que produzem bons frutos e às que produzem maus frutos. Não há lógica que altere os resultados forçando as boas a produzirem maus frutos e as más a produzirem bons. Mais, Mateus até sugere que as más árvores sejam cortadas e jogadas ao fogo (7,19).

Não se trata, pois, de eu escolher pessoalmente amar todas as pessoas de modo acrítico, angelical e romântico. Não há como nos iludirmos: as pessoas pensam e agem bem ou pensam e agem mal a partir da ideologia que as orienta, por mais que tentem envernizar e colorir discursos e práticas.

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A questão não é pessoal.

Mas de onde vêm os pensamentos maus e bons, notadamente os de direita e de esquerda?

O pensamento vem de dentro, do mais profundo subjetivo da alma de cada pessoa? Vem dos ancestrais através do DNA, do tipo eu “recebi o que penso dos meus pais e dos meus avós, que me ensinaram tudo que sei”? Ou ainda “acolho os bons pensamentos do Espírito Santo desde que me converti e me santifiquei?” Os maus pensamentos, os que funcionam nas relações como ódio, como injustiça, mentiras, calúnias, destruição são dados pelo diabo?

Qualquer uma dessas hipóteses irresponsabilizam as pessoas e passam à margem de suas consciências como forças transcendentais e desumanas, sem criticidade e inteligência.

Os estudos sobre o pensamento apontam para a verdade sobre sua origem.

O pensamento é germinado pela classe dominante. As pessoas pensam a partir dos contextos onde vivem, trabalham, amam, odeiam e morrem.

Há três fontes do pensamento. Uma é originária e as outras duas são decorrentes daquela: 1. A da classe dominante que faz os sues integrantes  pensar e agir como quem imagina dominar, domesticar e manipular o mundo a seu bel prazer. Assim agiram os senhores de escravos, os senhores feudais e atuam os proprietários dos meios de produção, os capitalistas, onde quer que estejam e com quem quer que se relacionem hoje. 2. A dos funcionários, os intelectuais orgânicos, os falsamente chamados de classe média, que são serviçais insensíveis, acríticos, manipulados e obedientes instrumentalizados pela turma do ponto 1. Esses aparecem mais e se distribuem visivelmente na sociedade, porque são comprados para isso. Sua missão é a de distorcer a realidade nem que seja a marretadas e a ferro e fogo. Seus fundamentos são falsos, arenosos e mesquinhos. Sejam eles jornalistas, padres, pastores, bispos, cardeais, professores e estudantes. Não importa, sua tarefa é a de disseminar mentiras e fazer a sociedade acreditar numa realidade que não existe. E 3, a dos trabalhadores e seus satélites, como os lumpemproletários, que são alienados. A alienação tanto conceituada em filosofia, política e sociologia como pela psicanálise é um poderoso fantasma que impõe às pessoas pensarem como a classe dominante, por mais pobres que aquelas sejam. As pessoas alienadas suspendem seus sentimentos, sensibilidades e razão para seguir o discurso dominante, que as força a ser o que não são e definir a realidade de modo falso. Há trabalhadores que traem sua condição de classe porque são alienados. Há pobres que destroem pobres porque a alienação que os estrangula é como um vício que lhes rouba a alma independente, livre e afetiva. A ideologia dominante age como droga congestionando-os.

Daí é possível entendermos, independente de gostarmos ou não das pessoas, porque há emergência de bestialidade parecida com tsunami, cegueira ideológica e até desumana, com mentiras, acusações e ódios cruéis a pessoas de quem não se gosta, antes de quaisquer análises e julgamentos competentes.

Isso não é novidade na história brasileira e mundial.

As pessoas dominadas pela alienação agem como diabos soltos sem a menor capacidade de discernimento, de diálogo e, muito menos, de mudança de pensamento.

Alienadas, serviçais, intolerantes e descontroladas as pessoas agem com o mesmo comportamento agressivo e dominador nas famílias, nas igrejas, nas escolas, nas faculdades, nas empresas, nas ruas, nos bares e restaurantes, como todos os dias vemos na mídia online. São “capazes” de tudo, inclusive de ofender, de mutilar e de matar.

Por quê?

Porque o pensamento, como um chips, é uma maravilhosa força que empurra as pessoas de acordo com os interesses poderosos dominantes, inscritos internamente a conduzir atitudes.

O pensamento não muda com orações, com orixás, com dízimos, com sermões, com conselhos nem com bate papo.

Se o pensamento é perfilado pela ideologia dominante só será mudado e transformado quando a atual classe dominante for derrubada e seus integrantes obrigados a trabalhar.

Mas isso não é questão de vontade de quem quer derrubar a classe dominante. Urge que nos organizemos, que lutemos juntos pelos direitos sociais à igualdade na justiça social, por democracia com eixo girando a partir do coletivo, dos interesses e necessidades da maioria, que precisa de transformações, primeiro com reformas e depois com a revolução invertendo a fonte do pensamento, que nascerá e amadurecerá a partir da sociedade liberta.

A luta organizada nos educa, nos transforma e nos revoluciona, extirpando de nós as ideias da classe dominante, encravadas no espírito como doença.

Numa sociedade mais justa as pessoas desenvolvem capacidade de interpretar a realidade, não a partir da mídia oligárquica, nem de pregações de falsos profetas, mas desde as fontes mais genuínas da classe que trabalha e da adequação do poder na realização da justiça social.

Eis o desafio!

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