Os possíveis eixos de mobilização pelo desenvolvimento e contra o entreguismo

Apenas se for movida por uma crença metafísica, a sociedade colocará suas esperança em algum movimento mágico que pare a degradação social resultante do processo de desnacionalização da economia e da marcha acelerada do entreguismo do Governo, respaldado por folgada maioria parlamentar

Brasília - O Presidente Michel Temer reunião do Conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), no Palácio do Planalto (Antonio Cruz/AGência Brasil)
Brasília - O Presidente Michel Temer reunião do Conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), no Palácio do Planalto (Antonio Cruz/AGência Brasil) (Foto: Jose Carlos de Assis)


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Apenas se for movida por uma crença metafísica, a sociedade colocará suas esperança em algum movimento mágico que pare a degradação social resultante do processo de desnacionalização da economia e da marcha acelerada do entreguismo do Governo, respaldado por folgada maioria parlamentar. Todos os ícones da Nação, entre os quais a Petrobrás e a Vale, assim como a própria estratégia nacional de Defesa, estão sendo retalhados para privatização e desnacionalizados. Não obstante, as resistências sociais a esse processo são pouco mais que apenas simbólicas. Não há mobilizações. Não há marchas na rua.

A primeira razão para isso é a tremenda crise de desemprego por que passamos, sem perspectiva de reversão à vista. O PIB vai para o terceiro ano seguido de depressão, provavelmente acumulando no período uma queda de 12%. Isso é inédito, e atemorizante para a classe trabalhadora que depende de emprego para sobrevivência. Questionei a respeito alguns líderes sindicais sobre a possibilidade de grandes mobilizações. Um deles me pintou o quadro: olha, tenho uma empresa da minha base que tinha 400 empregados; 200 foram mandados embora, depois mais 100, agora tem 40. Acha que algum deste vai fazer greve?

E os desempregados? Afinal, podem participar de manifestações, argumentei. A resposta foi: Apenas se pagarem as passagens e oferecerem sanduíches. À primeira vista, é uma situação deplorável, pois parece que não temos nenhuma saída. Mas também isso é um engano. Existem nos subterrâneos da sociedade movimentos sociais que começam a se agitar. O que falta é sobretudo uma coordenação central com credibilidade. Isso permitiria romper o círculo de ferro que protege da indignação popular o mais impopular de todos os governos da história do Brasil, desde a Independência.

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Temos uma situação peculiar na qual todas as instituições republicanas derreteram. Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, todos, sem exceção, perderam totalmente a credibilidade perante a Nação. Além disso, ocorre um derretimento também das principais entidades da sociedade civil. Das três grandes que exerceram a liderança moral do país durante o processo de democratização, a ABI, a OAB e a CNBB, só sobrou com credibilidade esta última, as duas outras exibindo posições cada vez mais regressivas a serviço de ideologias, do golpismo e de grupos.

Entretanto, não quero desanimar ninguém. Ao contrário, suspeito que há uma instituição, ao lado da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, que pode participar de um processo de regeneração das instituições brasileiras com grande eficácia. É universidade. Acredito que a Nação vai despertar-se a partir do momento em que as universidades e os secundaristas se mobilizarem na busca de definição de seu próprio destino. Outro importantíssimo segmento mobilizador da sociedade são as mulheres. Na medida em que separarem direitos civis de direitos econômicos, e focarem nesses últimos, podem vir a ser as grandes protagonistas do novo desenvolvimentismo e do novo nacionalismo brasileiro. Uma vez desencadeado esse processo, certamente os sindicatos de trabalhadores virão juntos.

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