Os novos santos do Brasil

Pelo andar da carruagem vão acabar canonizando o senador Aécio Neves. Pelo menos alguns milagres ele já fez: ser considerado inocente dos crimes que lhe foram imputados, ser blindado pela mídia e pela Justiça e posar de bom menino nas entrevistas mais recentes, enterrando aquela imagem de raivinha

Senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG) em evento do partido em Recife 27/11/2015
Senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG) em evento do partido em Recife 27/11/2015 (Foto: Ribamar Fonseca)


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Pelo andar da carruagem vão acabar canonizando o senador Aécio Neves. Pelo menos alguns milagres ele já fez: ser considerado inocente dos crimes que lhe foram imputados, ser blindado pela mídia e pela Justiça e posar de bom menino nas entrevistas mais recentes, enterrando aquela imagem de raivinha. E tudo indica que teremos dentro em breve, além de São Aécio, também São FHC, São Serra, São Alckmin, São Anastasia, São Sampaio, entre outros abrigados no ninho tucano. Ninguém precisa ser muito inteligente para chegar a essa conclusão: basta ver que os inquéritos para apurar acusações contra medalhões do PSDB, inclusive o seu presidente nacional, estão sendo arquivados, enquanto outros inquéritos estão sendo abertos para apurar não acusações, mas suspeições contra petistas. Enquanto construir com recursos públicos um aeroporto em terreno da família não configura crime, instalar uma antena de telefonia celular próximo de um terreno alheio é crime gravíssimo para quem não é dono das terras.

Para provar que um imóvel lhe pertence qualquer pessoa só precisa apresentar os documentos de posse. Qualquer pessoa, menos Lula. Ao contrário das outras pessoas, o ex-presidente precisa provar que NÃO é o dono. Os proprietários do triplex do Guarujá e do sitio de Atibaia já apresentaram a documentação de posse, mas isso não tem a menor validade para os caçadores de Lula, para quem o ex-presidente é o proprietário oculto. E o que vale é o que eles pensam. O Brasil vive hoje uma situação jurídica surreal, onde eliminou-se a presunção de inocência para instituir-se a presunção de culpabilidade; onde primeiro se prende o culpado para depois procurar-se um crime que justifique a prisão; onde procuradores antecipam à imprensa a condenação de alguém antes que seja investigado e ouvido; onde um juiz de primeira instância se torna o homem mais poderoso do país, inclusive emitindo juízo sobre decisões dos seus superiores hierárquicos, mais precisamente, do STF.

O todo poderoso juiz Sergio Moro, que a mídia transformou em estrela, parece ter gostado tanto da fama que faz qualquer coisa para estar sempre sob os holofotes. Sem ninguém ter solicitado, o magistrado mandou documentos da Operação Lava-Jato para engordar a ação do PSDB contra a presidenta Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral. E disso deu conhecimento à mídia. Depois, mandou uma carta ao Supremo Tribunal Federal aprovando a decisão da Corte sobre a prisão de condenados em segunda instância, como se tivesse poderes para desaprová-la. Essa decisão foi criticada por juristas de renome e até por integrantes da própria Corte. Mas ninguém precisa ser jurista ou entender de leis para concluir que a decisão não foi boa para o país: basta tomar, como referência, a carta do juiz Moro ao presidente do STF. Se o magistrado soberano da Lava-Jato elogiou é sinal de que a nova norma não é boa para os brasileiros.

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O fato é que o Brasil de hoje foi dividido pela mídia e setores do Judiciário entre tucanos-santos e petistas-capetas. Para ganhar as simpatias e favorecimentos da mídia, de setores do Ministério Público, da Policia Federal e de alguns magistrados basta filiar-se ao PSDB. Os tucanos não são incomodados com inquéritos, investigações, etc, obviamente porque são santos, como, por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O filho bastardo dele foi escondido pela mídia, enquanto a filha de Lula ganhou as manchetes e lhe subtraiu votos. Certamente é muito diferente o filho de um tucano-santo da filha de um petista-capeta. Nenhuma acusação contra eles, os tucanos, mesmo com provas, é levada a sério. Até os que foram condenados a prisão (coisa rara), como o ex-governador Azeredo da Silveira, estão em liberdade palitando os dentes e zombando de todo mundo. No reverso da medalha, basta uma simples suspeita de alguém ligado ao PT para levá-lo à prisão.

Para completar, temos na Justiça um ministro-zen – zen coragem para conter a fúria da Policia Federal ou para mandar investigar acusações contra tucanos. Quando a ex-amante de FHC, Mirian Dutra, revelou que recebia dinheiro dele através de uma empresa suspeita, todos queriam saber que providência o ministro Cardozo tomaria para investigar a denúncia. Resposta zen dele: "Vamos analisar técnica e juridicamente para ver se cabe investigação". Enquanto isso, o juiz Sergio Moro e os procuradores só precisam de uma suspeita ou um indício para prender petistas e amigos. E o show midiático ganha as manchetes dos jornalões e da TV Globo com textos recheados de "supostamente", "suspeitos", "indícios", "teria", "seria", "acredita-se", mediante os quais julgam e condenam logo as vítimas. E tudo isso sob os olhares complacentes de quem tem o dever de fazer cumprir a Constituição Federal e promover a Justiça.

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Como o juiz Sergio Moro virou estrela e os procuradores e delegados também buscam um naco da fama, reunindo a imprensa para, sob o foco dos holofotes, dar informações sempre que se deflagra uma nova operação e alguém é preso, tudo leva a crer que a Operação Lava-Jato ainda deve demorar pelo menos até as eleições de 2018. Afinal, a presidenta Dilma ainda não foi derrubada e o ex-presidente operário ainda não foi preso, o que significa que eles ainda não conseguiram alcançar os seus objetivos. Então, é preciso prolongar o maior tempo possível o espetáculo do "combate à corrupção", com a devida cobertura da mídia, para que, caso não consigam sucesso em sua empreitada, pelo menos provoquem um desgaste tão grande no PT, já rotulado de corrupto, que dificilmente ele conseguirá eleger alguém nos próximos pleitos, em especial Lula. Pelo menos é isso o que eles imaginam. No entanto, a julgar pelo crescimento das filiações ao PT, parece que o povo não tem o mesmo pensamento.

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