Os ministros de Lula e os entrevistadores das redes de televisão

"Infelizmente, os jornalistas apenas souberam colocar a régua do Consenso de Washington para avaliar os entrevistados", escreve Pedro Augusto Pinho

Lula
Lula (Foto: Reprodução)


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Por Pedro Augusto Pinho

Em 29 de março de 1549 Tomé de Sousa chegou a Salvador, atual capital do estado da Bahia. Trazia com ele o Regimento Régio de 17 de dezembro de 1548, com orientações precisas sobre a organização do poder público na Colônia: fazenda, justiça e defesa.

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Também se fazia acompanhar de aproximadamente 1000 homens (soldados, profissionais, funcionários públicos) e seis jesuítas, chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega.

Duas lições deveriam os entrevistadores televisivos tirar do fato que vivenciavam, se tivessem um resquício patriótico, se interessassem em ampliar os horizontes intelectuais, e, fundamental para sua profissão, conhecessem a história do Brasil.

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Primeiro, que a organização estabelecida no Portugal quinhentista durou quase quatro séculos. Toda estrutura de governo que teve o Brasil, entre o 1º governador-geral e o Governo Provisório da Revolução de 1930, fundou-se no tripé: defesa, segurança e finanças.

As necessidades econômicas dividiram as finanças criando secretarias/ministérios para agricultura, indústria, viação e obras públicas. O aumento populacional e expansão da ocupação territorial seccionou a segurança em justiça e negócios interiores. E com a evolução das tecnologias bélicas, o capitão-mor da Costa passou a ser o Ministro da Marinha e o Ministro da Guerra; com Getúlio, também o da Aeronáutica.

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Tudo mais era privado, a instrução entregue à Companhia de Jesus e a saúde ao Deus dará!

Com a independência, em 1822, tornou-se necessário o Ministério das Relações Exteriores.

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Fomos, até os governos de Getúlio Vargas, exemplo de Estado Mínimo (digno de Manual Neoliberal) que manteve o país escravista, atrasado, covarde e medroso, com as ferozes repressões sofridas pelos Palmares (1580-1700), Inconfidentes Mineiros (1780-1792), Alfaiates (1798), Pernambucanos de 1817, Confederados do Equador (1824), Cabanos (1835-1840), Malês (1835), Farroupilhas (1835-1845), Sabinos (1837-1838), Balaios (1838 -1841), revoltosos nordestinos do quebra-quilo (1872-1877), Federalistas do Sul (1893-1895), Canudos (1896-1897), marinheiros da Chibata (1910) entre tantos outros.

Além dos assassinatos diários pela fome, desnutrição, desemprego, miséria, falta de higiene e de conhecimento, que a entrega ao privado da educação e da saúde fez, do Brasil, exemplo de vergonha mundial.

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Lula, conhecedor da tradição nacional, iniciou a divulgação de seus Ministros pelo mais arraigado sentimento de Estado existente no Brasil; pelas Relações Exteriores, porque somos formalmente independentes, e pela defesa, pela segurança (justiça e casa civil) e pelas finanças. Exceto o Ministro Mauro Vieira, todos demais foram entrevistados pelos profissionais das tevês, abertas e pagas.

E, curiosamente, embora todos os escolhidos pelo presidente três vezes eleito, sem exceção, demonstrassem profundo conhecimento, até brilho, para o exercício da chefia das pastas, a fidelidade ao Consenso de Washington era a maior, quase única, preocupação dos (e das) entrevistadores (as). O tempo que sobrava era para armadilhas e fofocas.

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A pedagogia colonial corre no sangue e na medula flexível destes profissionais e da maioria da classe média, tão ignorante, agressiva e vaidosa quanto as que cometeram e cometem os crimes de morte, que exemplificamos do Brasil Colônia ao Brasil República, em parágrafo anterior.

Discorramos brevemente sobre estes Ministros que ocupam as mesmas pastas que Pero de Góis, ex-donatário da capitania hereditária de São Tomé, designado Capitão-mor da Costa (Ministro da Defesa), que Pero Borges, responsável pela Justiça e Negócios Interiores (Ministro da Justiça e Segurança Pública e Chefia da Casa Civil), designado Ouvidor-mor, e que Antônio Cardoso de Barros, responsável pelas Finanças (Ministério da Fazenda), designado Provedor-mor.

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Simbolicamente, Luiz Inácio Lula da Silva inicia a reconstrução do Brasil, depois da passagem do tsunami neoliberal bolsonariano, como Tomé de Sousa o criou.

Porém, como na canção cubana, os erros do passado não devem retornar. E, por ignorância ou submissão, insistir nestes erros, é o que nos dizem as perguntas e comentários dos jornalistas da Globo, CNN, Bandeirantes, Record e demais.

Nosso Capitão-mor da Costa deu um show de savoir-faire. Ironizou, provocou, explicou e demonstrou que sabe perfeitamente o que e como fazer. A resposta já está sendo conhecida pelas manifestações dos atuais comandantes das três forças. José Múcio Monteiro Filho é engenheiro civil e político pernambucano filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

O Ouvidor-mor, maranhense Flávio Dino de Castro e Costa, advogado, político, professor e magistrado, filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), tem no seu currículo de concursos públicos e diversas eleições, em ambiente classista e pelo povo, a confirmação de seu conhecimento e sensibilidade social. Seus pronunciamentos a respeito dos baderneiros e terroristas, que infestam ainda o ambiente público, demonstram que sabe perfeitamente como usar a lei para pacificar o País. O que todos querem é tranquilidade, que só se encontra na aplicação da lei para todos, sem exceção de qualquer natureza, e não com perdões que os incentivam a continuar pecando. Ou os neopentecostais acreditam no loteamento do Reino do Céu?

Por fim os dois membros do Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo partido do presidente eleito: o Provedor-mor e o resultado do secular desmembramento das atribuições do Ouvidor-mor.

O paulista Fernando Haddad é um acadêmico. Porém não é aquele estudioso desvinculado da realidade, que fica repetindo mantras neoliberais, sem perceber suas consequências para os povos e para os países, ou seja, para a cidadania e a soberania nacionais. E chega a este conhecimento em ações públicas, como funcionário público e técnico privado, como professor e pesquisador, como eleito e candidato a cargos eletivos, isto é, em permanente contato com as diversas áreas geográficas e de atividade e distintas populações.

Tem perfeita consciência que só a ignorância é dona da verdade, busca em todas matrizes teóricas a informação e comprovação dos acertos e falhas já adotados. Não vai experimentar, fazer aposta, como se ouvia com frequência nas áreas afetas ao Provedor-geral no governo de Fernando Henrique Cardoso. Buscará a solução adequada a cada questão da sua esfera de competência ministerial.

Rui Costa dos Santos estará completando sessenta anos quando assumirá a Casa Civil da Presidência da República, em janeiro de 2023. Para este economista baiano, filho de metalúrgico, será mais um desafio político, que enfrenta desde as lutas sindicais, do início de sua militância. Fundador do PT tem a carreira política completa, de vereador a governador, duas vezes eleito e fazendo seu sucessor. Seu secretariado foi composto por representantes de sete partidos além de profissionais independentes, sem filiação partidária.

Tem capacidade comprovada de trabalhar com todas as correntes políticas, sabendo definir o objetivo que as congregará. Numa das suas entrevistas fez questão de deixar claro que, agindo no interesse do povo, fixando metas realistas, é mais fácil unir os políticos que, na grande maioria, também desejam atender seus eleitores, satisfazer as demandas da população.

Mas, infelizmente, os jornalistas apenas souberam colocar a régua do Consenso de Washington para avaliar os entrevistados. Nenhum interesse nas questões nacionais, nenhum conhecimento de seus currículos, nenhuma reflexão sobre o momento que vive o Brasil e a mudança que se desenha nas relações internacionais.

Lamentável! Precisávamos melhor!

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