Os incríveis bilionários
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O último bilionário do momento capaz de acabar com a fome no mundo é um tal de Elon Musk. E ele não faria, para realizar tal proeza, o uso de toda a sua fortuna, mas com “apenas” 1/6 do dinheiro que ele (talvez) use para comprar a rede social chamada “Twitter”.
Essa informação de “acabar com a fome” só tem um problema: é mentira.
Mas essa não é qualquer mentira… é uma “mentira especial”! Aquela que revela um conjunto amplo de equívocos para quem a cria e para quem acredita nela…
O primeiro problema é estatístico: quanto custa a fome? É bem ambicioso alguém levantar a mão e dizer: “custa tantos dólares”. Será que foram apurados aqui todos os elementos contábeis, entre eles o poder aquisitivo relativo da moeda em cada país?
Lógico que não…
Talvez alguma entidade faça um cálculo médio de um prato de comida em dólares, multiplica por três e daí tira o valor do “custo da fome”.
Porém aí não estaríamos calculando a fome no mundo, mas o custo da fome por um dia. Ainda que quiséssemos colocar um período mais amplo, sempre teríamos não o custo da fome, mas o custo da fome por um período determinado.
Ainda assim, caso todos os seres humanos ganhassem uma renda básica para se comprar alimentos, teríamos imediatamente outros problemas:
Em primeiro lugar os alimentos subiriam de preço, depois isso geraria um efeito inflacionário de demanda e mais rápido que um raio, outros setores vitais da sociedade seriam afetados e o custo de vida aumentaria.
Isso tudo sem pensar que as áreas agricultáveis no mundo teriam que ser ampliadas, o que significa uma reforma no sistema primário de produção, o que só seria possível com a prática de uma agricultura intensiva com alto valor agregado de tecnologia… e teríamos que fazer chover técnicos, pois não temos no mundo população qualificada para isso… enquanto não tivéssemos tudo isso, advinha o que ocorreria? Sim… teríamos a continuidade da fome no mundo…
Esse é o problema de notícias alarmistas que geram respostas erradas… elas dão a impressão de que os maiores problemas do mundo se resolvem de forma simples, como o “distributivismo” vulgar do tipo: “pega o dinheiro dos ricos e dá tudo para os pobres. Acabou o problema maior da injustiça social”.
Quem pensa assim? Gente de bom coração e nenhum neurônio… ao menos nenhum neurônio que esteja se dedicando a um estudo mais sério e que tem a humildade de admitir que a realidade é um pouco mais complexa do que estão lhe apresentando.
Sim. Eu disse humildade. Por que? Por um simples motivo: hoje estamos vivendo a era da “arrogância do simplismo”, gerada por forças políticas muito bem organizadas. Quer ver?
5 exemplos:
1 - quer acabar com a corrupção? Tira o PT do governo.
2 - quer governar de verdade? Não se alia com o centrão.
3 - quer acabar com a Covid? Usa cloroquina e ivermectina.
4 - quer abaixar a gasolina? Tira a Dilma da presidência.
5 - quer acabar com a violência? Dê armas de fogo ao cidadão de bem.
A arrogância dos “sábios ignorantes” já nos custaram muito caro…
Mas… Voltemos ao problema da fome.
Para enfrentá-lo primeiro é preciso ter coragem para afirmar algo difícil e que pouca gente quer ouvir: a fome é resultado das atuais relações capitalistas de produção.
Localizemos agora onde está a anomalia:
A rigor a fome generalizada revela uma contradição fatal do sistema atual de produção, assim como nos permite saber onde esse sistema se encontra no seu desenvolvimento.
É fatal porque corrompe a própria essência da relação de trabalho desse sistema, que é a forma assalariada. O salário, por definição, é a quantia paga pelo dono do meio de produção para que - no mínimo - seu trabalhador continue a vir trabalhar no dia seguinte.
Caso o salário esteja sendo insuficiente para matar a fome de quem trabalha, isso significa que o capitalismo está pagando salários errados.
Esse fenômeno só pode ocorrer porque estamos vivendo em uma época final desse sistema, onde temos uma taxa decrescente dos lucros dos capitalistas.
Essa taxa decrescente é compensada - pelos donos dos meios de produção - com a implementação de um processo de superexploração do trabalho, garantindo a permanência de altas taxas de lucro para os próprios capitalistas, fazendo com que o trabalhador pague o preço dessa anomalia.
Na prática, o custo pago pela classe trabalhadora é a geração da miséria extrema, que chega ao ponto onde o trabalhador passa fome, mesmo trabalhando.
Para se ter ideia dessa superexploração, recentemente uma micro celebridade de um reality show (BBB 22) sofreu um acidente ao tomar um Uber. A notícia veiculada a princípio disse que o motorista havia dormido. O inquérito policial e o IML confirmou outra história. O motorista não comia há 16 horas e desmaiou de fome, ocasionando o acidente.
Para os desavisados, que fiquem sabendo que mais de 80% dos moradores de rua do centro da cidade de São Paulo possuem emprego e residência.
O problema é que os salários são tão baixos que lhes falta dinheiro para ir e voltar para suas casa, localizadas na periferia, fazendo-os dormirem na rua, ao relento, de três a quatro dias por semana.
O interessante é que além de passarem por esse suplício, a guarda municipal de São Paulo tem assaltado e espancado esses trabalhadores porque eles sujam as ruas.
Nunca passou pela cabeça dos prefeitos em constriuir pelo menos banheiros decentes a essa população… certamente imaginam que eles virariam centros de drogas e violência… é como se a inexistência de banheiros público fosse de fato uma ferramenta que evita a violência e a existência de áreas como a cracolândia no centro…
O escândalo da fome e da superexploração, entretanto, não se mostraram suficientes para mobilizarem as massas e nem sempre a História é benevolente para gerar grandes líderes que estudam esse sistema capitalista e que conseguem cair nas graças das massas. Aliás o sistema atual criou um verdadeiro triturador desse tipo de gente.
Então, uma crise sem solução do sistema está somada com uma enorme desmobilização e alienação da classe trabalhadora no que tange à sua consciência de classe e à possibilidade dela mesma assumir os meios de produção.
Caso isso ocorresse, seria possível abolir o caracter de mercadoria dos alimentos básicos, socializando-os, tornando-os direitos inalienáveis da humanidade, assim como ar que se respira… acabando assim, de uma só vez, com a fome… (não sem muita luta de todo tipo e o emprego de enormes reformas estruturais na sociedade, realizadas por trabalhadores de todos os níveis de capacitação).
Bom, como nesse mundo hipotético (mas possível) já acabamos com a fome, depois, através de uma reforma tributária radical e a monopolização do sistema bancário, poderíamos acabar com essas fortunas ridículas, socializar a saúde, a educação, os transportes, a moradia, etc.
Mas… devo admitir, tudo isso é visto como impossível… aquilo que foi historicamente criado pela humanidade ganhou o status de ser eterno por uma geração de homens e mulheres que se apequenaram perante os desafios do Mundo…
O resultado disso é um punhado de bilionários caminhando sob os corpos de alguns bilhões de mortos-vivos…
Essa “gangue da Forbes”, os bilionários, sempre carregando as escrituras (registradas em cartório) que lhes dão o direito de serem “donas do mundo”, saem pelo mesmo esmagando os trabalhadores com elegância impecável, como se andassem no Road Park de Londres, num dia de primavera…
Esses sempre tem o mesmo pensamento: “como o céu é lindo e sem pobres… talvez eu devesse investir meu dinheiro - QUE EU GANHAI COM MEU MÉRITO - em Marte e ajudar a Ucrânia comprando ações da indústria da guerra.”
Bom… Essa é a linha geral que explica a fome e aponta implicitamente sua superação.
Está triste agora? Era mais feliz com a ideia de que a fome acaba assaltando bilionários? Não tem problema pensar assim. Os zoólogos afirmam que o pensamento de um gnu que vê um crocodilo devorando outro semelhante ao seu lado é esse : “ainda bem que não fui eu!” Continue pensando como um gnu...
Agora se ao acabar de ler esse texto você ainda quer acabar com a crueldade da fome de verdade… Aí você terá que andar mais longe e conhecer como se faz para se acabar com suas causas. É uma longa viagem. Mas só aguenta a mesma quem toma a pílula vermelha…
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