Os governos do PT desmentiram o Consenso de Washington e o pensamento único
"Foi retomado o crescimento econômico, mas não houve inflação. Os investimentos sociais foram privilegiados, mas não houve desequilíbrio das contas públicas. Se geraram mais de 22 milhões de empregos, sem efeitos negativos do ponto de vista financeiro", elenca o sociólogo Emir Sader
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Por Emir Sader
Há muitas polêmicas políticas que se decidem não no plano das palavras, mas na realidade concreta. Os governos do PT resolveram, na prática, polêmicas que se prolongavam ao longo do tempo.
Desde que o capitalismo assumiu o neoliberalismo como seu modelo, se impuseram, ao mesmo tempo, o que se convencionou chamar de Consenso de Washington e de pensamento único. Se tratava de codificar um conjunto de medidas que passaram a configurar uma política que pretendia ser obrigatória, praticamente a única. A ponto que diferentes correntes, de direita e, até ali, do campo da esquerda, convergia nessa politica.
Se trataria de passar as finanças públicas a limpo, restabelecendo seu equilíbrio, diminuir a dimensão do Estado, promover a centralidade do mercado, às expensas dos mecanismos de regulação econômica. Se propõe a diminuir os gastos do Estado, tanto os que se referem a custos de pessoal, como dos investimentos em políticas sociais.
Um conjunto de medidas concretizavam essa política passou a ser assumida também por correntes nacionalistas e da social-democracia: ajustes fiscais, privatização de empresas públicas, abertura dos mercados nacionais ao mercado internacional, desregulação da economia, entre outras.
Se difundia a ideologia de que todo governo “sério” tinha que priorizar essas medidas, para que os países fossem governáveis, para se evitar o descontrole inflacionário, para que os governos tivessem estabilidade. Por isso se passou a falar de um pensamento único, para tentar evitar que aparecessem questionamentos e propostas alternativas. Como se fosse possível que um único tipo de pensamento pudesse refletir os interesses de sociedades tão profundamente divididas e marcadas pelas desigualdades sociais.
Por um certo tempo o Consenso de Washington e o pensamento único se impuseram por intermédio da globalização neoliberal. Governos de direita e uma parte de esquerda, adotavam a mesma politica.
Até que surgiram governos antineoliberais na América Latina: na Venezuela, no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Equador. Que passaram a violar aquilo que se dizia que era obrigatório, que era a única via, que alternativas levariam ao desastre e ao caos.
No Brasil, os governos do PT desmentiram, na prática, tanto o Consenso de Washington, como o pensamento único. Esses governos não priorizaram os ajustes fiscais, mas não houve desequilíbrio das contas públicas. Não privatizaram empresas públicas, mas a dívida pública não aumentou. Não desregulamentaram a economia, mas não houve caos econômico.
Foi retomado o crescimento econômico, mas não houve inflação. Os investimentos sociais foram privilegiados, mas não houve desequilíbrio das contas públicas. Se geraram mais de 22 milhões de empregos, sem efeitos negativos do ponto de vista financeiro. E com todos os efeitos positivos, pela ampliação do mercado interno de consumo popular, com a retomada do crescimento da economia.
O Consenso de Washington e o pensamento único estão intrinsecamente ligados ao neoliberalismo. Só são verdade para quem assume o neoliberalismo. Os governos do PT romperam com o neoliberalismo. Assumiram a prioridade das políticas sociais e não do ajuste fiscal. A prioridade dos processos de integração regional e dos intercâmbios Sul-Sul e não os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos. O papel ativo do Estado e não a centralidade do mercado.
O sucesso dos governos do PT, eleitos e reeleitos por quatro vezes, é o fracasso do neoliberalismo e, com ele, do Consenso de Washington e do pensamento único.
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