Os funerais de Bolsonaro

Ida de Bolsonaro ao funeral da Rainha Elizabeth II "parece ser mais falta do que fazer em Brasília do que qualquer outra coisa", diz Helena Chagas

Jair Bolsonaro e rainha Elizabeth II
Jair Bolsonaro e rainha Elizabeth II (Foto: REUTERS)


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É até possível compreender que um presidente candidato à reeleição vá a New York fazer o discurso de abertura da sessão anual das Nações Unidas, que sempre cabe ao Brasil. Lá, Jair Bolsonaro terá uma exposição obrigatória, que dificilmente lhe renderá votos mas, a depender do tom mais ou menos equilibrado do discurso, poderá ter algum efeito positivo sobre setores ainda indecisos do establishment. Já a ida aos funerais da Rainha Elizabeth II parece ser mais falta do que fazer em Brasília do que qualquer outra coisa.

Por mais que parte do eleitorado brasileiro simpatize com a recém-falecida soberana britânica, ver Bolsonaro de papagaio-de-pirata em seu velório não deverá alterar a ordem das coisas no processo eleitoral.

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Seria bem capaz, ao presidente da República, que ganhasse mais votos se fosse, por exemplo, a um comício em, por exemplo, Pindamonhangaba (SP), no dia 19, em vez de estar em Londres, disputando uma janela de imagem com dezenas de chefes de Estado e de governo de todo o mundo.

Por que então, a poucos dias das eleições, Bolsonaro vai gastar no mínimo quatro dias de campanha (ida, volta e ao menos um dia em cada lugar) em viagem ao exterior? Porque não tem mais muito a fazer por aqui. Seu arsenal de passes de mágica parece esgotado, e sem produzir o efeito desejado.

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Mesmo depois de injetar bilhões na veia do eleitorado e transformar o 7 de setembro em comício usando a máquina pública, o presidente obteve apenas uma variação positiva modesta na margem de erro, segundo revelou o último Datafolha. E não há fatos novos no horizonte - salvo o imponderável - que possam alterar de forma significativa esse quadro.

Nos vinte dias que ainda restam de campanha, Bolsonaro deixará sua equipe de TV buscando formas de atacar Lula para aumentar sua rejeição. Ao mesmo tempo, conta com a valiosa colaboração do establishment e da mídia para assegurar a realização do segundo turno. E pode sair flanando por aí.

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Alguém devia avisá-lo, porém, que tirar casquinha política de velórios pode não dar certo. A imagem do presidente nos funerais da rainha poderá simbolizar, aos olhos de muitos brasileiros, o enterro de quase quatro anos muito difíceis para o país.  

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