Os fracassos do golpe são o seu sucesso

"O fracasso do País é o sucesso do golpe: liquidar o País, para que não incomode mais ao império e às multinacionais. Para que não ameace voltar e desta vez democratizar os meios de comunicação, terminar com a festa que os bancos privados fazem com os recursos públicos do País, eleger um Congresso que seja a cara do povo, um presidente que fale como o povo e com o povo, um Brasil democrático, justo e soberano", diz o colunista Emir Sader; para ele, Michel Temer, mesmo rejeitado por praticamente todos os brasileiros, cumpre o papel que o golpe lhe reservou

15/05/2017- Bras�lia - DF, Brasil- Presidente Michel Temer durante entrevista para o programa Frente a Frente da Rede Vida. Foto: Marcos Corr�a/PR
15/05/2017- Bras�lia - DF, Brasil- Presidente Michel Temer durante entrevista para o programa Frente a Frente da Rede Vida. Foto: Marcos Corr�a/PR (Foto: Emir Sader)


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O Congresso está pronto, alegremente, para absolver a Temer. Tudo está devidamente acertado, comprado, com recibo e tudo, aos olhos de todos. Mas interessa o número mágico de parlamentares que receberam as vantagens que o governo golpista lhe deu, para absolverem o Temer, talvez mesmo à luz das câmeras da TV Globo.

Tudo pareceria absurdo, se não fizesse parte do projeto do golpe. Desmoralizar definitivamente a política – governo, Congresso, partidos, eleição – é parte da politica de Estado mínimo e centralidade do mercado no seu lugar. Quanto mais débil o governo, mais exulta o mercado, porque impõe seus interesses com maior facilidade. Se o governo topa, tudo bem. Senão, impõe pela via dos fatos, pela financeirizaçãoo da economia, seus interesses.

A economia do país está parada. É exatamente o que o capital especulativo quer. Inviabilizar qualquer projeto de desenvolvimento econômico para o país, mostrar que seu destino é a estagnação.

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Destruir o Estado é parte inerente do projeto de restauração neoliberal. Liquidar com o patrimônio público, com qualquer capacidade de regulação estatal, de proteção que o Estado oferecia aos trabalhadores, resguardando seus direitos, é o sonho do grande empresariado nacional e estrangeiro desde 2003.

Promover o maior desemprego a história do país é indispensável para deixar os trabalhadores desamparados e na defensiva para defender seus direitos, disponíveis para o que quer a nova legislação do trabalho – negociar em quaisquer condições, aceitar salários miseráveis por promessas de manutenção do emprego.

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Terminar com as políticas sociais, culpando a utilização desses recursos pelos problemas das finanças públicas. Deixar de novo abandonada a maioria da população, sem direitos básicos, entregue à sanha do mercado, em quaisquer condições de sobrevivência.

Enfraquecer a educação pública para fortalecer a educação privada. Deixar o SUS com ainda menores recursos, para desmoralizar a saúde pública e favorecer, para quem possa, o acesso a planos privados de saúde.

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Deixar os trabalhadores rurais indefesos diante da ferocidade brutal dos proprietários rurais, para tentar derrotar o MST e todos os trabalhadores do campo, assassinados semanalmente de forma totalmente impune. Para mostrar que quem manda no campo é quem se vale da violência para implantar seus interesses.

Deixar os trabalhadores sem mecanismos de defesa diante da super exploração da sua força de trabalho, disponíveis para adaptar suas vidas aos horários e tempos do capital. Sem jornadas de trabalho fixas, sem carteira de trabalho, sem férias, com horários de refeição reduzidos, sem proteção alguma que lhe garanta um salário minimamente digno e perspectiva de direitos básicos.

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Desmoralizar a imagem do Brasil no mundo é outro fracasso que ao mesmo tempo é sucesso do golpe. Mostrar que o país nada tem a fazer no mundo, rebaixar sua atuação a ser figurante envergonhado dos circos armados pelas potências dominantes. É a política de vira-latas a política externa oficial do governo golpista.

Ter um Judiciário submetido ao monopólio privado da mídia, cometendo toda sorte de arbitrariedade contra a oposição e, em particular, seu líder maior, Lula. É parte do golpe mostrar que se pode dar um golpe impunemente, com o silêncio cúmplice do STF. Que se pode desrespeitar a vontade majoritária do povo sem que qualquer instância do Judiciário zele pela Constituição.

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Mostrar que pode se condenar sem prova alguma ao maior líder popular da nossa história, o presidente de maior sucesso da nossa história, que o povo quer de volta para resgatar tudo o que está perdendo, é possível, pelas arbitrariedade de um clown vestido de toga, sob os olhos cúmplices do STF. Judicializar a política no que interessa ao golpe – condenar as lideranças democráticas e deixar impunes os corruptos da direita.

Estado fraco, economia estagnada, desemprego recorde, desmoralização do Estado, dos governos, dos parlamentos, da política, dos partidos, povo sem emprego, sem casa, sem proteção social, sem segurança, sem esperança. Tudo faz parte do golpe, que foi dado exatamente para isso.

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Faz parte do golpe absolver o Temer ou trocá-lo por um sucedâneo, para seguir com o pacote que destrói o país, a democracia, os direitos das classes populares, que liquida a educação e a saúde públicas, que joga a auto estima dos brasileiros no chão, que tenta demonstrar que nenhuma esperança é possível, nem que ela se chame Lula e se proponha o resgate do direito de todos, a volta da democracia, da auto estima e da imagem do Brasil no mundo.

O fracasso do país é o sucesso do golpe: liquidar o país, para que não incomode mais ao império e às multinacionais. Para que não ameace voltar e desta vez democratizar os meios de comunicação, terminar com a festa que os bancos privados fazem com os recursos públicos do País, eleger um Congresso que seja a cara do povo, um presidente que fale como o povo e com o povo, um Brasil democrático, justo e soberano.

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