Os Estados Unidos prepararam os golpistas

Em novo artigo, o colunista Emir Sader argumenta que o governo norte-americano preparou o golpe parlamentar de 2016, da mesma forma como agiu em 1964; segundo ele, o novo método envolve a cooptação de agentes do Poder Judiciário e a manipulação de denúncias de corrupção para ferir projetos de soberania nacional; administração de Barack Obama, que tem John Kerry como secretário de estado, jamais condenou o golpe que instalou Michel Temer na presidência e José Serra no Itamaraty

Rio de Janeiro - Presidente interino; Michel Temer; o ministro do MRE, José Serra; o governador Pezão; e o prefeito do Rio, Eduardo Paes; recebem o secretário de Estado norte-americano, John Kerry (Beto Barata/PR)
Rio de Janeiro - Presidente interino; Michel Temer; o ministro do MRE, José Serra; o governador Pezão; e o prefeito do Rio, Eduardo Paes; recebem o secretário de Estado norte-americano, John Kerry (Beto Barata/PR) (Foto: Emir Sader)


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Os EUA prepararam os golpistas de 1964 desde a ida das tropas brasileiras à Italia, no final da Segunda Guerra Mundial. Castelo e Branco e Golbery  foram encarregados de fundar a Escola Superior de Guerra que, com a Escola das Américas, no Panamá, formaram a alta oficialidade das FFAA brasileiras na Doutrina de Segurança Nacional – e nos métodos de tortura –, que deram as diretrizes que desembocaram no golpe de 1964 e na ditadura militar que comandou o pais durante 21 anos.

Foi a mentalidade que militarizou o Estado brasileiro, fazendo do SNI o seu eixo, para controlar e reprimir tudo o que lhes aparecesse como sintoma de conflito, de contradição, de divergência, que se enfrentasse à visão totalitária de que quem se opusesse ao Estado militar seria agente subversivo e deveria ser extirpado.

Na pós-guerra fria, com o fim do campo socialista e da URSS, os EUA buscaram seu novo inimigo, figura essencial para canalizar os males do pais em algum inimigo externo. O narcotráfico, o terrorismo, passaram a desempenhar esse papel de exorcismo para os EUA.

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Como parte da luta contra o terrorismo, com toda a abrangência que George W. Bush passou a dar ao tema – que fez com que até a Tríplice Fronteira fosse incluída na lista de organizações terroristas -, desenvolveu-se um campo de atividade chamado de “contraterrorismo”, como parte da função de “policia do mundo” que os EUA assumiram quando passaram a ser a única super potência

A lavagem de dinheiro passou a fazer parte dessa ação, na suposta crença de que o terrorismo lavasse os seus recursos. Passou-se à “investigação e punição nos casos de lavagem de dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os países, confisco de bens, métodos para extrair provas, negociação de delações , uso de exame como ferramenta , e sugestões de como lidar com Organizações Não Governamentais (ONGs) suspeitas de seres usadas para financiamento ilícito”.

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No seminário “Projeto Pontes: construindo pontes para a aplicação no Brasil” , - cujo teor foi revelado pelo Wikileaks, - realizado em outubro de 2009, realizado em pleno Rio de Janeiro, com a presença de autoridades norte-americanas, de formação do novo pessoal a serviço do Império, para consolidar treinamento bilateral de aplicação e habilidades praticas de contraterrorismo. Participavam no treinamento promotores e juízes federais de 26 estados brasileiros, além de 50 policiais federais de todos os estados entre outros, na maior delegação de países, que contava também com representantes do Mexico, da Costa Rica, da Argentina, do Panamá, do Uruguai e do Paraguai.

No meio dos trabalhos, intervém Sergio Moro, que fala sobre os  “cinco pontos mais comuns acerca da lavagem de dinheiro no Brasil”. “Os participantes requisitaram treinamento adicional, sobre a coleta de evidenciais, entrevista e interrogatório, habilidades usadas nos tribunais”.  Esse interesse se daria porque “a democracia brasileira não alcança 20 anos de idade. Assim os juízes federais, promotores e advogados brasileiros são iniciantes no processo democrático, não foram treinados em como lidar com longos processos judiciais (...) e se encontram incapazes de utilizar eficazmente o novo código criminal que foi alterado completamente”.   

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O informe pede, nos resultados da reunião, que se ministrem cursos mais aprofundados em Sao Paulo, Curitiba e Campo Grande. O relatório conclui que “o setor judiciário brasileiro claramente está muito interessado na luta contra o terrorismo, mas precisa de ferramentas e treinamento para empenhar forcas eficazmente. (...) Promotores e juízes especializados conduziram no Brasil os casos mais significativos envolvendo corrupção de indivíduos de alto escalão”. 

O surgimento de governos que contrariam as orientações dos EUA foi a oportunidade para adaptar essas orientações a projetos de desestabilização desses governos, apoiado em ações que se concentrem na denúncia de supostas irregularidades cometidas por esses governos, pelos partidos que os apoiam e por seus lideres. A contribuição de Moro foi a de usar os métodos que aprenderam com os norte-americanos – que incluíam ja o uso das delações, entre outros métodos – para destruir a democracia, reconstruída depois do esgotamento das ditaduras militares, instaladas pela geração anterior de golpistas formados pelos EUA.

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Os dados revelados pelo Wikileaks, a começar por essa reunião de 2009, devem ser investigados pelo Congresso brasileiro, como a mais escandalosa intervenção nos assuntos internos do pais, violando sua soberania, com a participação de membros do Judiciário e da Polícia Federal. Como preparação, pelos EUA, da nova violação da democracia brasileira, valendo-se dos seus agentes internos.

 

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