Os dois Maracanãs

Pobre Maraca, que já foi a alegria do povo, se torna um lugar exclusivo, alheio às grandes alegrias e tristezas das torcidas, que ficam reduzidas a acompanhar seus times por televisão, quando podem ter acesso, ou por radinhos, expropriados dos maravilhosos espetáculos que o Maraca ainda pode propiciar, como a final do campeonato carioca. Quem pega esse pepino e resolve de uma vez?

Pobre Maraca, que já foi a alegria do povo, se torna um lugar exclusivo, alheio às grandes alegrias e tristezas das torcidas, que ficam reduzidas a acompanhar seus times por televisão, quando podem ter acesso, ou por radinhos, expropriados dos maravilhosos espetáculos que o Maraca ainda pode propiciar, como a final do campeonato carioca. Quem pega esse pepino e resolve de uma vez?
Pobre Maraca, que já foi a alegria do povo, se torna um lugar exclusivo, alheio às grandes alegrias e tristezas das torcidas, que ficam reduzidas a acompanhar seus times por televisão, quando podem ter acesso, ou por radinhos, expropriados dos maravilhosos espetáculos que o Maraca ainda pode propiciar, como a final do campeonato carioca. Quem pega esse pepino e resolve de uma vez? (Foto: Emir Sader)


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Duas cenas do nosso querido Maraca – mesmo gourmetizado – marcaram a semana. Uma, esplendorosa, lembrando os velhos e bons tempos: lotado, com o maior público do ano no Brasil, a final Botafogo x Vasco. Mostrando que, mesmo com os preços exorbitantes, quando um jogo mexe com as torcidas, elas comparecem e fazem um espetáculo bonito, dos mais bonitos do mundo – o Maracanã lotado pelas torcidas.

Já o Flamengo, que tem o Maracanã como sua casa, sozinho, projetou duas imagens opostas. A primeira, coerente com essa primeira, só num treino pro jogo de quarta, tinha mais de 40 mil pessoas, que pagaram, como entrada, um quilo de alimentos não perecíveis. Que time, no mundo, mesmo sem estar numa fase boa, consegue isso?

Mas a outra imagem foi triste, não apenas porque o Mengo empatou, mas porque o Maracanã estava vazio para o novo jogo do Flamengo pela Libertadores. Com tanta gente querendo vê-lo jogar – se possível, jogar bem melhor do que jogou – e não podendo ir. E o estádio tristemente vazio, por irresponsabilidade de alguns torcedores que, ao que se saiba, nem foram identificados, nem punidos.

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Mas outro aspecto chama a atenção. Não se diz que usar o Maracanã é muito caro? E o Flamengo usou o Maracanã num jogo sem torcida, isto é, sem entrada alguma, só com gasto. Então vale a pena jogar no Maracanã – e não na Ilha do Governador ou em Cariacica, por exemplo -, mesmo sem arrecadar nada.

Mais um mistério que envolve o Maracanã, expropriado do povo do Rio, por governos corruptos e incompetentes no estado. Outro mistério é como a Odebrecht ainda não foi completamente expropriada do estádio, continua a ser um fator complicador para o uso pelos times do Rio do mais famoso estádio do mundo, com todos os males que a empresa já provocou ao Rio e ao Brasil!

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É mais um capítulo da elitização do Maracanã e do futebol brasileiro, da qual o Flamengo e sua torcida são as principais vítimas. Me permito citar a monografia de conclusão de curso na PUC, do meu filho, Miguel Sader, 'O direito ao Estádio na Cidade de Exceção', que pode ser acessado no ludopédio.com.br, que, junto a outras bibliografias, aponta como a elitização do Maracanã é apenas parte, ainda que fundamental, do que significa para a cidade e para as pessoas, da fragmentação da cidade entre os espaços tipo shopping-center e as praças públicas. Da qual o filme sobre os geraldinos é outra expressão notável dos tempos gloriosos do Maraca do povão, hoje excluído e ausente do Maracanã.

E o Flamengo, mesmo dirigido por um empresário, não consegue desfazer nem o nó de ter de volta o estádio para a alegria dos que podem pagar a entrada, voltar a ver o time jogar no Maracanã. E por que não atender as demandas da torcida, que ao mesmo tempo que compareceu em massa para ver o treino, reclama sempre do preço das entradas, reservando uma parte do estádio com preços mais accessíveis? E ir jogar longe do Rio, ao invés de fazê-lo aqui mesmo com mais público, mesmo se arrecadando menos, mas certamente mais do que o faz lá longe.

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São mistérios da vida do Maracanã, que fazem parte da crise do poder público no Rio, do federal, do estadual e do municipal, que deixam o país, o estado e a cidade ao deus dará, entregues a aventuras de militarização que só aumenta a insegurança e grupos armados que continuam a agir impunemente.

O futebol é coisa suficiente importante para estar nas mãos de cartolas. Ele precisa ser democratizado, na contramão da Lei Pelé, que representou a chegada do neoliberalismo ao futebol, que ao invés de democratizar os clubes, entregou todo o poder aos empresários privados, que ganham os tubos e não contribuem em nada para os clubes. Se, pelo menos, uma parte do que eles ganham revertesse para a formação de novos jogadores e para dar acesso a setores mais populares, vá lá. Mas, ao contrario, vendem jogadores jovens por quantias mirabolantes, em contratos obscuros, os clubes tem dificuldades para formar jogadores e para equilibrar suas finanças.

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Pobre Maraca, que já foi a alegria do povo, se torna um lugar exclusivo, alheio às grandes alegrias e tristezas das torcidas, que ficam reduzidas a acompanhar seus times por televisão, quando podem ter acesso, ou por radinhos, expropriados dos maravilhosos espetáculos que o Maraca ainda pode propiciar, como a final do campeonato carioca. Quem pega esse pepino e resolve de uma vez?

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