Os difíceis dilemas da direita brasileira

"Depois de arriscar numa aventureira como o golpe, a direita pode sofrer a pior derrota da sua história, porque deve sair desmoralizada, dividida, com seus lideres tradicionais – FHC, Serra, Aécio, Alckmin – totalmente desgastados e com sua vida política terminada. Pode manter alguns governos de estado, mas perderá presença nacional, com bancada parlamentar diminuída e menos expressiva que antes. Se ficar reduzida à liderança de alguém de extrema direita, perde sua capacidade histórica de representar amplos setores da classe média", escreve o sociólogo Emir Sader

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A direita brasileira, derrotada quatro vezes nas urnas, adotou o atalho do golpe, como forma de tirar o PT do governo. Teve sucesso, assim como no processo, condenação e prisão do Lula, mesmo sem fundamento legal algum. Conseguiu seu objetivo de tirar o PT do governo e de prender o Lula. Parecia vitoriosa.

Mas a direita paga um preço caro por isso. Em primeiro lugar, se comprometeu com a ruptura da democracia, que ela dizia sempre defender. Em segundo lugar, com um governo que coloca seu programa em prática e produz um desastre profundo no Brasil, fracassa estrepitosamente e chega às eleições sem possibilidades de vitória.

Os dilemas da direita são difíceis. Pode concentrar seus votos no Bolsonaro, se considera que seu objetivo maior é impedir que o PT volve a governar o Brasil, não importando, de novo, as vias para faze-lo. Corre o risco de nem assim conseguir triunfar e de ver os nomes dos partidos e lideres da direita envolvidos com as espantosas declarações do Bolsonaro.

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A alternativa é tentar concentrar forças no Alckmin, acreditando que a quantidade de partidos que o apoiam e o correspondente tempo de televisão, possam alavancar essa candidatura. É um caminho seguro de derrota. Na própria região sudeste, em que Lula tem 28% de apoio, conforme o Ibope, Alckmin tem apenas 9%. Na região sul, enquanto Lula tem 27%, Alckmin conta com apenas 4%. Para não falar do nordeste em que Lula tem 60% de apoio e Alckmin apenas 2%.

O objetivo menor da direita é chegar ao segundo turno, não ficando, demoralizadamente, fora dele e, pior ainda, tendo que optar por votar no candidato do PT ou no Bolsonaro.

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O desespero de FHC se refere a isso. Realista, ele se dá conta que Alckmin não tem nenhuma chance de ganhar e, talvez, fique mesmo fora do segundo turno. Já prepara o clima para eventualmente apoiar o candidato do PT, para não ficar identificado com as posições do Bolsonaro, como instrumento ultimo para impedir aquilo pelo que FHC e os tucanos sempre lutaram, por qualquer meio – a retomada governo do PT.

Entre a direita tradicional– enfraquecida – e a extrema direita – exacerbada -, a elite oligárquica brasileira se sente espremida. Já conta, de certa maneira, com a derrota, e apela para sua campanha das consequências desastrosas – para ela – da reversão do modelo econômico neoliberal e do processo de (contra) reformas que o governo Temer colocou em prática, fantasmas como da Turquia em pouca efetividade, diante do desastre provocado pelo governo Temer.

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Ao contrário do que dizem as vozes da velha esquerda do século XX, a direita hoje está mais dividida que a esquerda. A esquerda contra com o favoritismo do Lula ou sua capacidade de influência para eleger um candidato do PT, caso ele não possa concorrer.

A direita, ao contrário do que se costuma dizer, está dividida. Não foi capaz de conseguir um nome fora da política tradicional, que pudesse capitalizar a rejeição da política. Não foi capaz de unificar grande parte das suas forcas em torno de um candidato. Quem melhor a representaria, Alckmin, já fracassou como candidato. No máximo aspira ao difícil desafio de superar a Bolsonaro e chegar ao segundo turno, mas nem disso parece capaz.

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Um candidato de ultra direita como o Bolsonaro demonstra que essa forca veio para ficar na politica brasileira, apoiada num setor radicalizado da classe media. Mas embora representa um setor significativo nas pesquisas, não consegue unificar a direita em torno de si e, caso chegue ao segundo turno, não deve contar com o contingente de votos de todos os candidatos da direita.

Depois de arriscar numa aventureira como o golpe, a direita pode sofrer a pior derrota da sua história, porque deve sair desmoralizada, dividida, com seus lideres tradicionais – FHC, Serra, Aécio, Alckmin – totalmente desgastados e com sua vida política terminada. Pode manter alguns governos de estado, mas perderá presença nacional, com bancada parlamentar diminuída e menos expressiva que antes. Se ficar reduzida à liderança de alguém de extrema direita, perde sua capacidade histórica de representar amplos setores da classe média.

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Dai que as eleições deste ano sejam decisivas não somente para a esquerda, mas também para a direita. O fortalecimento da liderança do Lula, a capacidade da esquerda de eleger o próximo presidente, será um golpe duro na direita brasileira, na forma como ela existiu até aqui.

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