Os deserdados do auxílio emergencial vão ficar quietos?

"As contas vão estourar, o teto vai ser descumprido, os investidores serão afugentados, etc etc etc. Mas a tragédia não é essa. É o contingente de milhões de brasileiros que, a partir de agora, não terá mais ajuda do Estado para sobreviver", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

Jair Bolsonaro e Fila na Caixa Econômica Federal
Jair Bolsonaro e Fila na Caixa Econômica Federal (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Roberto Parizotti/FotosPublicas)


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Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

Não tem desculpa. Há semanas, quase meses, o governo vê a segunda onda se avolumar no horizonte. Mais uma vez, países europeus e Estados Unidos foram exemplo do que ia acontecer aqui. Mas o chefe do Executivo foi à praia, seu governo saiu de férias e o Congresso cruzou os braços. Na virada do ano, o estado de calamidade acabou, assim como o auxílio emergencial e as condições especiais para os pagamentos das empresas O país volta ao regime de arrocho fiscal que, mesmo em tempos normais, não costuma dar conta de cumprir. Imagine-se na pandemia. 

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As contas vão estourar, o teto vai ser descumprido, os investidores serão afugentados,  etc etc etc. Mas a tragédia não é essa. É o contingente de milhões de brasileiros que, a partir de agora, não terá mais ajuda do Estado para sobreviver. As parcelas do auxílio emergencial beneficiaram 67 milhões de pessoas, impedindo que ao menos 23 milhões, moradores de grandes metrópoles, caíssem na pobreza. E agora? 

Até agora, parece que ninguém está muito preocupado com isso aqui em Brasília. O governo corre atrás do prejuízo provocado por sua inépcia nas ações relativas à vacinação. Esse movimento, indicando que o processo pode começar ainda este mês, animou a mídia, os mercados e os políticos.  De fato, não há recuperacão consistente para a economia sem a vacinação em massa da população, apesar do ceticismo geral em relação à capacidade da administração bolsonaro de concluir esse processo. 

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Mas o Brasil não alcançará a chamada imunidade de rebanho tão cedo, ainda que sob os cálculos mais otimistas, que falam, no mínimo, em algo até o final deste ano. Até lá, quando o país poderá criar condições para retomada da atividade econômica e do emprego, o que será dos deserdados do auxílio emergencial?

Governistas com um mínimo de bom senso acreditam que, mais dia, menos dia, o auxílio – ou um benefício semelhante – terá que ser retomado. Mas o problema é que dificilmente alguma coisa acontecerá por aqui até o fim de fevereiro, depois da eleição, posse e primeiras articulações dos novos comandantes do Congresso. Sem contar a disputa interna do governo em relação aos gastos públicos e o tempo que, mesmo depois de aprovado, o dinheiro levaria para chegar às mãos dos beneficiados.

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Muita coisa ruim pode acontecer até lá. Quem está com fome quer almoçar hoje. É difícil imaginar que os deserdados do auxílio emergencial, jogados na indigência, vão ficar quietos por muito tempo mais.  

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