Os (des)caminhos da América do Sul
Para aqueles que conhecem minimamente a história do nosso continente, não deveria causar estranheza o fato de estarmos observando um período extremamente conturbado social e politicamente numa série de países
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O Trilhas da Democracia do domingo, 1º de dezembro, entrevistou o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas Plinio de Arruda Sampaio Júnior. Em questão, a conjuntura internacional, particularmente o cenário social e político do continente sul-americano ao final da segunda década do século XXI.
Para aqueles que conhecem minimamente a história do nosso continente, não deveria causar estranheza o fato de estarmos observando um período extremamente conturbado social e politicamente numa série de países, praticamente ao mesmo tempo, pois, desde o período dos “descobrimentos”, a América do Sul segue, a grosso modo, os mesmos (des)caminhos.
Colonizados por portugueses e espanhóis durante três séculos, emancipados politicamente no decorrer do século XIX, os Estados sul-americanos começam a trilhar a sua vida independente ancorados na dependência econômica em relação a Inglaterra e no poder das suas oligarquias rurais.
Assim, a dependência econômica é um ato fundacional correlato à independência política das novas nações sul-americanas, uma dependência que, no século XX, sofreria um deslocamento da Inglaterra para os Estados Unidos da América, à medida que o norte do continente tornava-se o centro da economia mundial.
Restringidos pela divisão internacional do trabalho à condição de países agrário-exportadores, a industrialização chega até nós por intermédio de uma iniciativa estatal que, concomitantemente, tinha que “substituir as importações” evitando a implementação de medidas mais duras que resultassem no desaparecimento das oligarquias agrário-exportadoras.
Com base nessa solução de compromisso típica do Varguismo no Brasil e do Peronismo na Argentina, a América do Sul ensaia, a partir da década de 1930, uma política de desenvolvimento que fosse suficientemente capaz de levar o continente a uma trajetória autárquica, assentada num discurso nacionalista, que, no limite, ganhou tonalidades antiimperialistas no curso dos anos 1960.
A resposta a tais iniciativas tipicamente reformistas por parte dos setores conservadores das nossas sociedades abertamente apoiadas e incentivadas pelo “Império do Norte” ainda se encontra inscrita na memória recente dos povos da região: golpes de Estado responsáveis pela instauração de ditaduras militares garantidoras da fusão entre capital estatal, capital privado nacional e capital privado internacional – ou seja, uma “dependência associada”.
Depois de alcançados os propósitos ditatoriais e duplamente pressionados por crises econômicas e mobilizações da sociedade civil, o continente se democratiza (ou seria mais adequado dizer: se liberaliza?) ao mesmo tempo em que as receitas monetaristas chegam ao continente.
Desde então, o centro das disputas políticas na América do Sul gira em torno do conflito entre aqueles que apoiam a edificação de um Estado neoliberal e aqueles outros que se posicionam contra tudo o que é trazido pelo conjunto das suas políticas: menos direitos sociais (com aumento da desigualdade social) e mais penalização dos pobres (com elevação dos níveis de repressão policial e encarceramento em massa).
O que vivemos hoje, no Chile, Bolívia, Equador, Venezuela, Colômbia, Argentina, Uruguai e Brasil (com mais ou menos virulência) é a expressão de uma disputa que definirá qual (des)caminho seguirá o nosso continente nas próximas décadas.
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