Os cacos da derrota e a reorganização do exército

"Não basta fazer articulações por cima, com caciques. A campanha precisa ser do povo e da sociedade. A disputa será duríssima", analisa Aldo Fornazieri

Lula, campanha eleitoral 2022
Lula, campanha eleitoral 2022 (Foto: Ricardo Stuckert)


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Sejamos realistas:

1 – Observando os acontecimentos históricos, os sábios da guerra e do pensamento estabeleceram que “a política é a continuidade da guerra por outros meios”. O inverso também é verdadeiro. A presente disputa eleitoral brasileira confirma plenamente esta tese. Não se vence esta batalha sem usar as regras e os meios da “guerra política” e com evanescentes proclamações de amor;

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2 – O resultado das eleições representa uma dura derrota para o campo democrático e da esquerda. Sem este reconhecimento se foge da realidade e não se estabelece as medidas para uma correta reorganização do “exército”, da militância, para enfrentar a batalha do segundo turno; 

3 – A eleição de Moro, de Damares, de Pontes, do general Mourão para o Senado,  de Cláudio Castro no primeiro turno no Rio de Janeiro e o segundo lugar de Haddad em São Paulo são apenas símbolos da vitória política e eleitoral da direita. Um cinturão de governadores de direita (Caiado, Ratinho Jr, Ibaneis, Zema...) foi reeleito no primeiro turno; 

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4 – A estratégia eleitoral da campanha do PT em São Paulo (foco de ataque em Rodrigo Garcia e amenização para Tarcísio) foi desastrosa. Foi uma estratégia de linha auxiliar de Tarcísio e, indiretamente, de Bolsonaro. Em 15 de setembro cheguei a fazer um post afirmando que a estratégia estava errada, mas só colhi críticas; 

5 – A direção majoritária do PT (e em boa medida da campanha) não é uma direção política. Trata-se de uma direção advocatícia, de prerrogativas. Não preparou a militância para o combate. Primou pelas firulas legais, recursos aos tribunais, essas coisas. Os militantes se ressentiram da ausência de direção e de orientação nesses anos todos;

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6 – Bolsonaro não teve oposição parlamentar no Congresso. As atuais bancadas parlamentares do PT são as piores da história do partido. Na Câmara, em determinados momentos, a bancada petista foi linha auxiliar de Arthur Lira, o maior escudeiro de Bolsonaro.  

7 – Desde os primeiros dias do governo, Bolsonaro manteve sua militância mobilizada, fornecendo munições diariamente para o combate nas redes sociais. Bolsonaro, com seus ataques aos tribunais, ao Estado de Direito, às instituições, com suas arraças políticas, motociatas, zombarias, deboches, ofensas, dominou o debate político e os espaços de mídia, entretendo o jornalismo e a oposição com espuma política;

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8 – Bolsonaro manteve mobilizações de rua muito mais abrangentes e muito mais intensas do que toda a oposição reunida. Esta se recolheu às lives e ao legalismo dos tribunais;

9 – Ciro Gomes foi destroçado. Embora em política não se deva decretar o fim de ninguém, ele terá muita dificuldade de se reerguer. Mas no Rio Grande do Sul existe a expressão “não se deve gastar pólvora em chimango”. Isto é, não perder tempo com quem não conta. Ocorre que muitos ativistas de esquerda ficaram batendo mais em Ciro do que em Bolsonaro, sendo que Ciro não contava para o jogo;

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10 – Com a derrota em São Paulo, o PSDB foi reduzido a pó. Paga um altíssimo preço por ter dado a guinada à direita em 2018 e por ter assumido o golpismo contra Dilma Rousseff. Foi engolido pela extrema-direita; 

11 – A centralidade da campanha do PT tem sido muito mais uma estratégia de “boca e bolso” (BB). Sem abandonar esse mote, é preciso apelar também para o espírito e para a inteligência, buscar adesão subjetiva, a empolgação, principalmente da juventude;  

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12 – A campanha precisa assumir bandeiras modernizadoras, orientadas para o futuro, dirigidas as camadas urbanas, cada vez mais inseridas nas transformações tecnológicas; 

13 – Diante da adversidade das urnas, é urgente que a campanha de Lula reorganize o “exército”. É preciso substituir a concepção advocatícia por uma concepção de embate e de combate político; a concepção marqueteira de venda de um produto e a direção burocrática das articulações fechadas por uma concepção mobilizadora, de ocupação das ruas, de ocupação de todos os espaços políticos, de ativação da sociedade civil para salvar a democracia e o Brasil, evitando o caminho do autoritarismo. 

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É preciso mobilizar os setores que mais contam: as periferias, os negros, as mulheres, a juventude, as universidades, os trabalhadores. Não basta chamar os movimentos sociais organizados para reuniões. É preciso ir onde o povo está. A mobilização pela salvação da democracia precisa adquirir um espaço mais robusto na campanha. É preciso tensionar e evidenciar as polaridades das alternativas que estão em jogo. A campanha precisa assumir uma maior feição suprapetista, que ainda sofre muita resistência. Não basta fazer articulações por cima, com caciques. A campanha precisa ser do povo e da sociedade. A disputa será duríssima. Não há tempo a perder. A reorganização precisa ser imediata e batalha também. 

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