Os brasileiros querem o Brasil?

O governo não se cansa de demonstrar que vai entregar o País ao desenvolvimento de outros povos. Os brasileiros devem dizer para Bolsonaro, para o mercado e para si mesmos, a quem pertence o Brasil, se estiverem mesmo interessados em saber disso

(Foto: Mídia NINJA)


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É difícil saber o que causa mais estarrecimento, se os pronunciamentos e gestos de Bolsonaro e de seu governo ou o silêncio da sociedade, de um modo geral. As manifestações pontuais, agendadas e mobilizadas, principalmente pelas redes sociais, têm demonstrado que há, a cada realização, mais motivos e mais gente para questionar a legitimidade das eleições deste governo, que promove uma profunda política recessiva e o isolamento do Brasil do restante do mundo. Na política interna, o governo aprofunda a crise econômica com propostas, entre outras, como a reforma da Previdência e a MP 881. A Nova Previdência vai estrangular a economia de 80% dos municípios, devido a forte participação dos pagamentos das aposentadorias e das pensões, pela Seguridade Social. O corte no valor dos benefícios será de 50%. Haverá menos consumo, afetando o comércio local, que não poderá contratar. Da mesma forma, com menos arrecadação, as prefeituras contratarão menos obras e serviços. O desdobramento da medida será um resfriamento na economia de um modo geral.

Já a MP 881, a despeito da pretensão de agilizar processos burocráticos para abrir e fechar uma empresa trouxe, em si, uma quarta reforma trabalhista, além de liberar geral o desmatamento, ao autorizar empreendimentos agropastoris ou de mineração, em caso de demora do licenciamento ou o mesmo quando declarado de baixo impacto ambiental. Porém, a referida medida não precisa o que venha a ser o baixo impacto. Ambos os projetos, que favorecem a elite e é deletério para a classe trabalhadora, foram aprovados pela Câmara dos Deputados, com larga margem de votos. Ainda este ano, Bolsonaro enviou as MPs 871 e 873, que asfixiam os sindicatos na sua capacidade de financiar a luta e mobilizar os trabalhadores. Há um clara busca pelo destroçamento das condições para a classe trabalhadora enfrentar a luta entre o capital e o trabalho. Há mais de 30 milhões de pessoas vivendo como podem, percebendo, mensalmente, entre R$ 300 e um salário mínimo. Há mais de 63 milhões de brasileiros inadimplentes, pagando mais de 300% de juros a.a. Um motorista de aplicativo de transporte urbano tem de trabalhar 14 horas por dia, apenas para empatar o que ganha com as contas. Esse é o mundo do Estado Mínimo, onde cada um se vire como pode.

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Bolsonaro coloca fogo no país, tanto no sentido figurado quanto no literal. Empoderados pelo discurso de destruição do politicamente correto e pela desqualificação, pelo presidente, de dados científicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ruralistas da região Norte do País incendiaram a floresta Amazônica, em apoio às críticas levianas de Bolsonaro ao ICMBio e ao Ibama. Sua política está apavorando até mesmo os outrora aliados ruralistas. Um dos maiores latifundiários e exportadores de grãos do Brasil, Blairo Maggi, já se disse preocupado, pois as politicas do presidente podem prejudicar o agronegócio, com sanções impostas por países importadores. Bolsonaro já brigou com os árabes, a China, vários países da América Latina, França, Noruega e Alemanha. Um presidente de um país cujos principais produtos são primários e direcionados justamente a nações com as quais ele está se indispondo, não parece ser um modelo de estrategista ou não tem apreço pelo seu país. Bolsonaro pode provocar sanções a produtos brasileiros que serão buscados em outros países. Faz cada vez mais sentido a continência prestada à bandeira dos EUA, por Bolsonaro.

Na mesma semana em que o Norte do País arde em chamas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anuncia que vai queimar todo o estoque que o Brasil tem de patrimônio de ferramentas com as quais pode construir as saídas para a crise em que se encontra. Ele disse que o governo vai privatizar dezenas de empresas estatais, como se fossem de propriedade do governo. Os correios não são uma empresa entregadora de cartas, mas uma grande e muito bem montada instituição com décadas de expertise em logística, infraestrutura e um gigantesco banco de clientes. O Brasil está em vias de entregar para a iniciativa privada um correio público e superavitário. Até mesmo os correios dos EUA, Meca dos sabujos liberais brasileiros, é público desde sua inauguração, na década de 1770. Outra empresa que está na lista das privatizações de Bolsonaro é a Caixa Econômica Federal. Um banco público, forte e superavitário será entregue ao capital financeiro privado. O maior programa habitacional da história do Brasil só foi possível graças à CEF, que subsidiou o acesso de pobres à habitação própria, com o mais forte programa de transferência de riqueza já implantado no Brasil. É impossível imaginar um banco privado à frente de um projeto dessa magnitude.

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O Brasil ainda possui outras ferramentas importantes com as quais pode construir a retomada da sua economia, rumo ao desenvolvimento. Banco do Brasil, BNDES, Eletrobras, Petrobras, entre outras, estão na mira de um governo submisso ao capital financeiro, notadamente o dos EUA. Quem está indignado por ter sido enganado por Bolsonaro junte-se aos que já estão na luta, desde as eleições, contra um governo eleito por meio de mentiras. O objetivo da elite brasileira é transformar o Brasil em uma grande fazenda produtora de commodities, onde a mão de obra seja a mais barata, quando não escrava. Já está havendo alguma reação, mas ainda não o suficiente para enfrentar as investidas dos liberais sobre a soberania nacional. Está mais do que na hora de os brasileiros dizerem se querem, ou não, o Brasil para si. O governo não se cansa de demonstrar que vai entregar o País ao desenvolvimento de outros povos. Os brasileiros devem dizer para Bolsonaro, para o mercado e para si mesmos, a quem pertence o Brasil, se estiverem mesmo interessados em saber disso.

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