Os barões do kit covid

"O barão do kit covid é Carlos Sanchez, dono da EMS, único laboratório que produz os quatro medicamentos", defende o jornalista Alex Solnik, ao se referir à hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxamida e azitromicina

(Foto: Agência Brasil | Pedro França/Agência Senado)


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Por Alex Solnik 

Tal como a polícia deveria ir atrás dos grandes traficantes e não dos revendedores que moram nos morros do Rio, pés de chinelo, peixes pequenos, a CPI deveria, para revelar a engrenagem que movimenta o comércio milionário do kit covid ir atrás dos barões do kit covid e não de peixes pequenos como Mayra Pinheiro.

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Os quatro medicamentos, cujo garoto propaganda oficial é Jair Bolsonaro, pessoa que sempre teve ambição por dinheiro, desde os tempos de quartel, movimentaram R$500 milhões apenas com as vendas em farmácias desde o início da pandemia.

As vendas da hidroxicloroquina subiram 55% de um ano para outro. As de ivermectina, 400%. Um vermífugo! E o governo recomenda contra covid! Que é doença respiratória.

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É mais escandaloso recomendar ivermectina que cloroquina, embora ela seja de fato, a vedete do espetáculo. E há motivos para isso.

Dos 6,6 milhões de caixas vendidas, desde o início da pandemia, ela responde por 1,1 milhão. E é o medicamento mais caro do kit: R$80 a caixa. A nitazoxamida custa R$54. A ivermectina, R$15, por 3 comprimidos e a azitromicina sai por R$20, com 3 comprimidos.

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Esses medicamentos são produzidos, no Brasil, por 22 laboratórios brasileiros e um francês. O barão do kit covid é Carlos Sanchez, dono da EMS, único laboratório que produz os quatro medicamentos.

Ele é um dos 30 bilionários do Brasil, segundo a revista Forbes. E esteve entre os convivas do recente jantar de Bolsonaro em São Paulo. Não sei o que os dois conversaram, mas certamente o industrial agradeceu à campanha publicitária, o que não se via um presidente fazer desde os tempos do Estado Novo. Mas àquela época não havia bilhões em jogo.

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Um dos sócios da Sanotti Medley, francesa, é o ex-presidente Donald Trump.

A CPI deveria convocar Carlos Sanchez e perguntar por qual motivo, se as bulas não os recomendam para covid as vendas dos quatro medicamentos cresceram tanto desde que começou a pandemia e a campanha publicitária de Bolsonaro.

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E também pedir que explique as 456 notificações de efeitos adversos desses medicamentos, dos quais 179 graves, reportados à Anvisa do início da pandemia até aqui. Dez vezes mais que no ano anterior.

Oficialmente, o governo já comprou, até agora, R$ 90 milhões em medicamentos do kit covid e continuará comprando enquanto a pandemia continuar, contra tudo e contra todos. E continuará, principalmente, se houver mais cloroquina que vacina.

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A CPI deveria esclarecer a razão de tanto empenho de autoridades do governo, a começar pelo presidente da República e desaguar em Mayra Pinheiro, em divulgar tão obstinadamente um coquetel de medicamentos estapafúrdios, ineficazes e letais que não são recomendados em nenhum outro país do planeta.

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