Os arautos do pessimismo

No momento em que um grupo de alienados realiza uma passeata pedindo um golpe militar como solução para os problemas do país, FHC parece justificar o movimento



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As declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicadas no último domingo, em entrevista à "Folha de São Paulo", comparando a presidenta Dilma Rousseff ao ex-presidente João Goulart, são preocupantes. No momento em que um grupo de alienados realiza uma passeata pedindo um golpe militar como solução para os problemas do país, o ex-presidente parece justificar o movimento, apoiando-o de maneira velada quando diz: "Ninguém quer dar golpe hoje no Brasil, mas ninguém sabe muito bem como atender demandas que aparecem de repente, com esses mecanismos lentos, muitas vezes desconectados, que são o palácio e o Congresso". Ou seja, ninguém quer o golpe, mas como não sabem como fazer para atender "as demandas com esses mecanismos lentos", o jeito é derrubar o governo, semelhante, segundo ele, ao governo de Jango.

O ex-presidente, que vem tendo maior exposição na mídia desde que o candidato do seu partido à Presidência da República, senador Aécio Neves, o pinçou das sombras para colocá-lo diante dos holofotes, também defendeu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobrás, em 2006. Um dia antes ele havia se manifestado contra a CPI, mas mudou de idéia depois de concluir que o caso é mais complicado. "Eu pensei que fosse uma coisa mais simples – disse – mas acho que tem de ser apurado". E acrescentou:

"As pessoas precisam saber o que foi feito com o dinheiro do contribuinte". Sem dúvida o governo tem o dever de informar o povo sobre o destino do seu dinheiro, mas pelo visto FHC esqueceu que, quando presidente, não deu a menor explicação sobre o que fez com o dinheiro da venda da Vale do Rio Doce e de todas as empresas estatais que privatizou durante o seu governo.

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Fernando Henrique parece que sofre de amnésia passageira, pois esquece rapidamente – e convenientemente – o que fez ou disse no dia anterior. Quando assumiu a presidência, ele próprio pediu para que esquecessem o que havia escrito antes; esqueceu que chamou os aposentados de vagabundos; esqueceu do Sivam e da pasta cor-de-rosa; esqueceu que queria entregar a base espacial de Alcântara, no Maranhão, para os americanos, com um contrato de arrendamento que permitia ao governo dos Estados Unidos encravar em território brasileiro uma nova "Guantánamo". E já que agora defende uma CPI para a Petrobrás, poderia pedir a ampliação das investigações para a venda da Vale do Rio Doce, que também precisa ser melhor explicada. Na verdade, acho que é tempo de se expor as vísceras de todos os negócios polêmicos envolvendo o Estado, pelo menos durante os últimos vinte anos. Assim como a Comissão da Verdade apura agora o que aconteceu durante a ditadura, deve haver também uma comissão para apurar o que aconteceu depois dela.

Na avaliação do ex-presidente, a imagem da presidenta Dilma Rousseff está arranhada. Incrível que só os tucanos conseguem enxergar os arranhões, porque o povo, segundo atestam as pesquisas, ainda não conseguiu vê-los. O candidato do seu partido ao Planalto, o senador Aécio Neves, também deve olhar a Presidenta pelo mesmo binóculo: em recente artigo ele afirma: "O sentimento geral dos brasileiros é um só: já deu!". Tal como FHC, o senador mineiro está precisando de óculos, pois não é isso o que pensa a população, ainda segundo as pesquisas, considerando a boa avaliação do seu governo. É natural que os tucanos desejem ocupar o Palácio do Planalto, assim como os pessebistas e todos os demais candidatos à presidência, mas é fundamental que não subestimem a inteligência do povo.

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Os dois mais emplumados tucanos da atualidade – FHC e Aécio – parece que estão afinados nas críticas ao governo, certamente olhando pela mesma lupa que, aparentemente, está obliterando a visão de ambos. Agora mesmo eles abordaram, quase de maneira eufórica, o rebaixamento da nota do Brasil pela agência americana Standard & Poors que, aliás, não abalou a bolsa e sequer mereceu atenção dos investidores internacionais, que continuam interessados em investir no país. Num evento em São Paulo, o ex-presidente disse que "o rebaixamento é um sinal de desconfiança, é negativo para o país". O senador mineiro, por sua vez, afirmou: "Tamanho retrocesso não é obra que se constrói ao acaso. É fruto de desacertos diários de um governo que, até hoje, mais prejudicou do que ajudou o Brasil".

Afinal, em que planeta eles se encontram? De que Brasil estão falando? Se o governo de Dilma só prejudicou o Brasil, por que ela continua recebendo a aprovação do povo nas pesquisas? A julgar por suas declarações, tudo indica que eles só conhecem o país através das páginas da chamada Grande Imprensa, que pinta um Brasil em ruínas. É claro que ainda tem muita coisa errada e por fazer em nosso país, mas é difícil negar os avanços sem cair no ridículo. Se eles insistirem nessa visão vesga, como arautos do pessimismo, dificilmente conseguirão convencer o povão e, muito menos, atrair votos para o seu projeto político.

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