Os anjos e suas réguas morais
Não justifica, mas também não apaga o brilho de um homem preto nascido em um país que não reconhece sua origem, onde não é representado devidamente nos livros escolares, e que vez ou outra surge como personalidade maquiada pela eugenia, ou mártir pontual, vítima de violência racial
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A quarentena, com a aproximação das eleições, tem aproximado a luneta para questões de ordem comportamental, ideológica, moral e racial, principalmente de candidatos e seus apoiadores. Qualquer escorregada pode se transformar em um linchamento, uma palavra fora de contexto tem o peso de uma guilhotina no pescoço.
É preciso ter cuidado para fugir das cascas de bananas atiradas pelo caminho. Uma delas é a aproximação entre Lula e Ciro, que se encontraram para selar um armistício, uma ‘trégua’ entre o operário ex-presidente por dois mandatos, considerado o melhor Presidente do país, e o cangaceiro bufão, candidato dos 12%, derrotado diversas vezes.
Outra casca de banana são as eleições nos EUA para o futuro do governo brasileiro. A maioria dos norte-americanos que não são supremacistas brancos, racistas e falsos religiosos, estão cansados de Donald Trump e seus absurdos. Uma vitória do Democrata Joe Biden seria importante para distensionar a pressão na América Latina e para o isolamento do núcleo bolsonarista, que perderia altura.
Outro deslize da quarentena que tem incomodado, são as medidas que os anjos têm dado com as réguas da moralidade. Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, aclamado Rei em território francês, completou 80 anos recebendo críticas por não ter reconhecido uma filha.
Os imaculados e puros desconhecem que Pelé foi menino pobre, sem educação adequada, em um país onde crianças com a idade que ele tinha quando foi para o Santos, estão fora das escolas, vivendo nas ruas, excluídas das políticas públicas. “Ah, mas isso não justifica abandonar uma filha”.
Não justifica, mas também não apaga o brilho de um homem preto nascido em um país que não reconhece sua origem, onde não é representado devidamente nos livros escolares, e que vez ou outra surge como personalidade maquiada pela eugenia, ou mártir pontual, vítima de violência racial.
Sinto gosto da cerveja velha do mundo moral que silencia diante da autêntica presença de uma BENEDITA da SILVA, tratada como teoria no universo acadêmico, que detém a narrativa por uma política mais igualitária entre homens, mulheres, brancos e pretos, mas ignora a história e o currículo da faxineira que chegou ao Senado da República. A régua moral dos anjos convivem muito bem na fábula, já no mundo real...
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