Os 12 maiores absurdos do Ministério Frankenstein

(Foto: Alex Solnik)


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Além de ser um forte candidato a pior ministério desde a criação, em 3 de julho de 1822 do primeiro ministério - o da Justiça – do Brasil, esse do governo provisório de Michel Temer contém muitas revelações.

A primeira é que Eduardo Cunha não está morto. As suas digitais estão lá, em vários ministérios, inclusive no da Justiça, o que mostra que o afastamento do mandato e da presidência da Câmara, motivado por uma capivara assustadora, não o afastou do governo Temer, onde continua prestigiado e blindado e nem abalou as boas relações com o presidente da República interino, para espanto dos que achavam que ele não se deixaria contaminar por um personagem tão execrado pela opinião pública e chamado de "delinquente" pelo procurador-geral da República. E mostra, também, que ele trabalha continuamente, embora fora do seu gabinete, para se livrar da cassação no Conselho de Ética e conta com toda a retaguarda do novo governo para obter sucesso. E tudo indica que irá obtê-lo.

A segunda revelação é que os escolhidos foram recompensados pelo empenho que demonstraram na guerra do impeachment, não só com seus votos, na Câmara e no Senado, mas no convencimento de indecisos e da opinião pública – sejam deputados, senadores ou presidentes de partidos - e não em função de sua competência para exercerem seus cargos, como será demonstrado logo adiante.

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A terceira é que o ministério parece ser uma espécie de bunker anti-Lava Jato, tal é a quantidade de envolvidos nas denúncias nele abrigados. Sinal disso foi a movimentação do ministro do STF, Gilmar Mendes. Ele anunciou que iria abrir investigação contra Aécio, mas, quando a participação do PSDB ficou definida, vinte e quatro horas depois, Mendes a arquivou, incontinenti, sem explicar o porquê.

A quarta revelação é que todos os ministérios das minorias foram limados, indicando qual será o destino dos programas sociais e dos projetos que defendiam mulheres, negros, homossexuais, sem-terra, sem-moradia etc etc.

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A quinta é que a composição foi fechada a toque de caixa, tipo "pega esse ministério senão outro pega", tal é a quantidade de pessoas erradas nos lugares errados e as fusões inexplicáveis, como por exemplo, a criação de um ministério que ao mesmo tempo cuida de Ciência, Tecnologia e Inovação e Comunicações.

A sexta revelação é que, a total e completa ausência de mulheres demonstra ter havido um forte componente sexista na deposição da presidente Dilma, pois, para esse grupo, de perfil notadamente misógino, política é coisa de homem, o que coloca em situação difícil a senadora Marta Suplicy, que construiu a sua carreira política defendendo os direitos femininos e agora deve estar se perguntando "o que eu estou fazendo aqui"?

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Conhecido desde sempre como "mordomo de filme de terror", Temer organizou, ironicamente, um verdadeiro ministério Frankenstein, dando um tapa na cara de empresários, industriais, comerciantes, diplomatas, artistas, educadores, cientistas e de toda a sociedade brasileira.

Os 12 maiores absurdos são:

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1) Mendonça Filho, da tropa de choque de Eduardo Cunha, líder do DEM na Câmara, alvo da 7ª fase da Lava Jato por ter recebido R$ 250 mil das empreiteiras Odebrecht e Queiroz Galvão e citado em grampo da Policia Federal em 2009 na Operação Castelo de Areia por ter recebido doação de R$ 100 mil da Cavo que pertence ao grupo Camargo Corrêa ficou com Educação e Cultura sem ter nenhum vínculo nem com uma coisa nem com outra, um verdadeiro escárnio para os educadores e os artistas brasileiros, castigados, provavelmente, por terem apoiado Dilma até o fim. Aliados do golpe mais qualificados foram barrados. O senador Cristóvão Buarque (PPS), por exemplo, dançou no momento em que afirmou, publicamente que votaria pela "admissibilidade", mas que não se comprometia a votar do mesmo modo no "julgamento" presidido pelo STF. O presidente do PPS, Roberto Freire, também cotado, perdeu a vaga por ter tido participação apagada na trama.

2) Bruno Araújo, um dos mais truculentos militantes pro-impeachment e defensores de Eduardo Cunha da Câmara que, às 23h07 do dia 17 de abril proferiu o voto que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment ganhou como recompensa o Ministério das Cidades, que tem mais afinidades com um engenheiro, enquanto ele é advogado;

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3) para retribuir os votos do PSD, Temer colocou Kassab (ex-Maluf, ex-Serra e ex-Dilma), presidente desse partido, fundado por ele justamente para combater o PMDB, em Ciência, Tecnologia e Comunicações (fundiu ministério que cuida de ciência com o que vai definir o limite da banda larga fixa, migração da estações de rádio AM para o FM e do desligamento do sinal de TV analógico), apesar de o ex-prefeito de São Paulo, sempre suspeito de malversação de verbas em todos os cargos pelos quais passou, ser engenheiro e corretor de imóveis. Kassab foi denunciado por improbidade administrativa quando, como secretário de Planejamento do ex-prefeito Celso Pitta seu patrimônio aumentou 316% acima da inflação; seu mandato de prefeito foi cassado em 2010 por suspeita de recebimento de doações ilegais na campanha de 2008; também foi denunciado por contratar, como prefeito de São Paulo, uma empresa para inspeção de veículos poluidores, a Controlar. Inexplicavelmente, reverteu todas as acusações na Justiça paulista.

4) para retribuir os votos do PRB, seu presidente, o pastor evangélico Marcos Pereira, empregado do "bispo" Edyr Macedo, ganhou Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sem ter tido qualquer intimidade com essa pasta fundamental, da qual depende a recuperação da economia brasileira, para espanto dos empresários da Fiesp, patrocinadores das domingueiras na Avenida Paulista animadas pelo Pato Amarelo;

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5) o maior plantador de soja e um dos maiores desmatadores do Brasil, Blairo Maggi, segundo político mais rico do brasil segundo a revista Forbes ficou com a Agricultura (os pequenos agricultores e a agricultura familiar devem estar apavorados, com razão). Em 2005, quando governador, Maggi foi considerado pelos ambientalistas como um dos maiores promotores do desmatamento e da destruição da Floresta Amazônica. É dele a famosa frase: "Para mim, um aumento de 40% no desmatamento não significa nada; não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui".

6) Leonardo Picciani, que se fingiu de líder do governo Dilma quando o PMDB rompeu com o governo, ficou com Esportes, ao assumir o papel de traidor de última hora, talvez por ser carioca, a terra dos Jogos Olímpicos, apesar de Romário, muito mais sintonizado com o tema, e também do Rio, ter se esforçado para "sobressair";

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7) Romero Jucá, dono de uma coleção de ações penais no STF, dentre as quais uma referente a um episódio grotesco em que um de seus assessores jogou 100 mil reais pela janela do carro às vésperas da campanha eleitoral quando ia ser revistado pela polícia, é o titular do Planejamento (pasmem!);

8) José Serra, sem nenhuma tradição na diplomacia, e que nas relações pessoais jamais foi diplomático, vai comandar Relações Exteriores, não se sabe se porque foi o que sobrou – e ministério ele não recusa - ou para dar andamento ao seu projeto de entregar o pré-sal às multinacionais do petróleo;

9) O truculento Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, que comandou a repressão aos estudantes de São Paulo vai para a Justiça, que nunca foi lugar de homens com perfil policialesco, à qual se subordina Polícia Federal que investiga seu cliente Eduardo Cunha ;

10) Henrique Eduardo Alves, envolvido pelo doleiro Alberto Yousseff na Operação Lava Jato e um dos integrantes da "lista de Janot", em cuja residência o ministro Teori Zavascki autorizou buscas pela Polícia Federal a 15 de dezembro de 2015, em nova fase da Lava Jato, batizada de Operação Catilinárias, ganhou, ironicamente, a pasta de Turismo, talvez para ter um bom pretexto para ficar no exterior se o cerco apertar;

11) O baiano Geddel Vieira Lima, um dos braços direitos de Temer ficou com a Secretaria de Governo, apesar de seus antecedentes pouco recomendáveis. Citado no escândalo dos "Anões do orçamento", de 1993, em que parlamentares manipulavam emendas orçamentárias com a criação de entidades sociais fantasmas ou participação de empreiteiras no desvio de verbas, Geddel apoiava e liberou várias emendas para o líder do esquema, o deputado baiano José Alves, que ficou conhecido por afirmar que seu patrimônio se multiplicou por ter ganho 56 vezes na loteria só em 1993;

12) Outro integrante da tropa de choque de Eduardo Cunha, o deputado federal Ricardo Barros, que é engenheiro civil e que apresentou na Câmara projetos destinados a responsabilizar estudantes que desrespeitam professores e funcionários ou que violam regras de comportamento nas escolas e propôs aumento da pena aos bandidos que utilizam menores de idade nos crimes virou ministro da Saúde, sabe-se lá porque.
Dá impressão que esse ministério foi criado, de caso pensado, não para tirar o país da recessão nem alavancar o crescimento, nem combater a corrupção, mas com a intenção de provocar reações barulhentas e violentas e justificar, em contrapartida, em nome do lema "ordem e progresso" o endurecimento repressivo dessa esculhambada democracia à brasileira.

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