Onde estava a extrema direita?
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(...) a direita está de volta? Será que Bolsonaro (que sempre considerei uma caricatura patética de uma direita reacionária e praticamente extinta) representa de fato muitos bolsonaros? Será que há muitos bolsonaros no Brasil?
Após as o primeiro turno das eleições de 2014, fiz a pergunta acima num artigo publicado no vermelho.org.br.
Naquele ano a esquerda em São Paulo foi quase “varrida do mapa”, a votação expressiva de Aécio Neves no estado, quase 11 milhões de votos, contra pouco mais de 5 milhões de votos dados à presidente Dilma revelaram isso, somando-se à diminuição das bancadas de centro-esquerda na Câmara dos Deputados, a perda de uma cadeira no Senado, perda de cadeiras na ALESP e o desempenho sofrível de seu candidato ao governo estadual.
Isso tudo poderia, a meu juízo, representar que setores da classe média, que sempre apoiou os partidos social-democratas não os via mais como seus representantes.
É verdade que a mídia era amplamente favorável a Aécio, sendo esse um elemento inafastável para a análise responsável de um fato: a opção de setores da classe média pelos candidatos e partidos de direita e centro-direita.
Teria sido a classe média sido cooptada pelos setores mais conservadores? É possível, e não teria sido a primeira vez, afinal foi assim com Getúlio, Juscelino e João Goulart e isso manteve o país em crise institucional por muito tempo e criou as condições objetivas para o golpe de 1964.
Quando ouvi a Marilena Chauí dizer que a classe média paulistana é fascista, violenta e ignorante, reagi negativamente, lembro que Carlos Barreto, meu “único amigo socialista” como ele se apresenta, não poupou “elogios” impublicáveis à professora.
Aprendo que o aumento da classe média é sinal de desenvolvimento do país, com de redução das desigualdades, de equilíbrio da pirâmide social, de uma positiva mobilidade social.
Mas a nossa classe média passou a rejeitar as políticas públicas propostas e executadas pelos governos social-democratas (sim, social-democratas pois o Brasil nunca teve um governo de esquerda).
As derrotas da centro-esquerda em 2016 e 2018, a expressiva votação em partidos de direita e extrema-direita, não obstante a vitória de Lula em 2022, representam que o país mudou.
Não podemos esquecer que em geral a classe-média rejeita o Estado, pois, historicamente, ela pensa não precisar do Estado; há ainda o fato de a sociedade brasileira ser estruturalmente reacionária, além da presença da falaciosa meritocracia, que está na base da ideologia conservadora e se opõe à democracia em vários aspectos estruturantes.
Talvez por isso boa parte da classe média seja contra as cotas nas universidades, afinal, dizem, “a etnia ou a condição social não são critérios de mérito”; seja contra o bolsa-família, pois crê que tratar-se de “ganhar dinheiro sem trabalhar”, além de ser um demérito que desestimula o esforço produtivo; quer mais prisões e penas mais duras porque meritocracia também significa pagar caro pela falta de mérito; reclama do pagamento de impostos porque o dinheiro ganho com o próprio suor não pode ser apropriado por um Governo que não produz e menos ser distribuído em serviços para quem não é produtivo e não gera impostos.
O meritocrata não gosta de Política, pois em uma sociedade meritocrática é a técnica e não a política a base de todas as decisões. É uma visão de mundo distante da fraternidade e a igualdade.
Atualmente temos a direta e a extrema-direita, cujas opiniões e militância conservadora e violenta são identificadas nas redes sociais, uma gente que não aceita fazer concessões sociais.
Talvez tudo isso seja herança do “espírito da Casa Grande”, o ódio aos pobres, aos nordestinos e aos negros e condescendência ao estuprador potencial confesso, como Bolsonaro; talvez a direita não suporte a ascensão social das classes subalternas, mesmo quando isso reforça a posição da classe ociosa no topo pela ampliação do mercado interno, como escreveu o professor Fernando Nogueira da Costa do IE da UNICAMP.
A esquerda democrática está perdida no meio disso tudo isso tem que governar constituir maiorias, transigir, negociar e buscar campos de não colidência e ação moderada, irritando a própria esquerda infantil e não satisfazendo a direita e sem o apoio de uma classe média, no mínimo, conversadora.
Penso que parcela da sociedade não enxerga nos governos a representação legitima de seus interesses concretos, e a inflexão conservadora mostra isso e artigos de ódio como o do senhor Sérgio Caponi, publicado no CORREIO em 6 de dezembro, confirmam o que digo.
No citado artigo de 2014 escrevi que a direita pretendia voltar a governar até via ditadura militar, errei. Bolsonaro foi eleito em 2018, mas passou quatro anos desqualificando e destruindo toda a institucionalidade, não negociou politicamente e não debateu com a sociedade e criou uma horda de alucinados que querem o retorna da ditadura.
Para essa nova direita, melhorias adicionais de padrão de vida no Brasil não devem vir mais do Estado, via políticas públicas, mas unicamente de conquistas individuais baseadas no esforço e mérito reconhecidos por viés de auto validação dos próprios pares. Eu imaginava que essa visão melancolicamente individualista da direita seria de uma minoria, mas não é. O Brasil tem uma grande porção de indivíduos de extrema-direita, sem apreço algum pela democracia e pelo ser humano. Pessoas que preferem a esmola à libertação que decorre da consciência.
Proponho um debate que envolva os setores democráticos, inclusive da direita, dos setores progressistas, dos trabalhadores e seus sindicatos, do micro, pequeno e médio empresário, pois o Brasil precisa retomar as mudanças iniciadas em 2003.
Essas são as reflexões.
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