Oligarquismo, machismo, elitismo e politicagem. Os pecados de quatro grandes capitais nessas eleições

Começo por Recife, onde uma disputa pelo comando da capitania deu o tom do pleito. Os Campos e os Arraes representam a oligarquia pernambucana, ainda que se apresentem como socialistas de centro ou centristas de esquerda



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A frase atribuída a Maquiavel que diz: “Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão”, é a síntese do resultado das eleições em algumas capitais do país. Direto ao ponto, começo por Recife, onde uma disputa pelo comando da capitania deu o tom do pleito. Os Campos e os Arraes representam a oligarquia pernambucana, ainda que se apresentem como socialistas de centro ou centristas de esquerda. Tanto é que os concorrentes ao cargo são primos e protagonizaram alguns momentos “casos de família” durante a campanha. É possível que as farpas ainda continuem a ser trocadas na ceia de natal da dinastia.

Em 2016, escrevi aqui mesmo no 247, um artigo que falava sobre o mito da meritocracia, para comentar a escolha de João Campos, à época com apenas 22 anos de idade, como chefe de gabinete do estado de Pernambuco, com um salário de mais de sete mil reais. O que classifiquei como nada mal para um jovem aprendiz. No mesmo texto eu vaticinava a respeito da carreira política do menino João, o que não precisava ser nenhuma pitonisa grega do templo de Apolo para adivinhar, de acordo com a meritocracia hereditária das capitanias modernas.

Se tudo correr bem e ele mantiver o mérito que o sobrenome lhe confere, no máximo em 2034 ele será um dos candidatos à presidência da república. E com boas chances de segundo turno. Uma prova de que o Brasil nunca quis deixar de ser colônia. Partindo para Porto Alegre, Manuela se viu em meio a uma guerra dos sexos, onde o machismo prevaleceu. Durante toda a campanha ela teve que se confrontar com a misoginia de seus opositores, que, em alguns momentos, apelaram para a baixaria característica da masculinidade frágil para se impor. Como homem, me senti envergonhado.

Embora todas as mulheres nos julguem como todos iguais, o que, culturalmente falando, elas tem o direito de assim pensar, uns são mais iguais que outros. Esses preferem a escravidão do pensamento machista, que coloca a mulher no seu “devido lugar”, perpetuando a estrutura do patriarcado. Não tenho a intenção de fazer o papel de macho em desconstrução. Até porque, acho esses “motes de desconstrução” uma vergonha. Se soubessem o quanto essa marmota publicitária é ridícula, simplesmente parariam com ela. Viu, Fábio Porchat e companhia?

A resolução da equação é bem mais simples, quando nos colocamos no lugar do outro. Porém, a capital gaúcha optou pelo processo de desconstrução da possibilidade de mudança, corroborando com a violência sexista sofrida por Manuela D’ávila durante a campanha. Justo no momento em que o país assiste passivamente ao aumento de casos de violência contra as mulheres. Passando para São Paulo, onde uma luta de classes pontuou o embate entre Covas e Boulos, percebe-se que a falta de amor próprio decide o voto dos paulistanos.

O Approach colonialista do PSDB ainda consegue persuadir a maioria da população. Talvez, seja o exemplo onde a frase de Maquiavel melhor se encaixe, potencializada por uma síndrome de Estocolmo que acomete os habitantes da cidade. Em particular, aos mais pobres, e num grau patológico mais agudo. Bruno Covas é João Dória. O gestor que acelera o carro para passar por cima dos mais pobres e reduz a velocidade para não atingir os mais ricos. Um homem que já quis oferecer ração como merenda escolar para crianças e que através de sua esposa, orienta a população a não dar comida à pessoas em situação de rua.

A proposta social de Boulos não conseguiu convencer à população, que preferiu continuar assistindo ao “Show Business” higienista do governador, sob a batuta do prefeito reeleito. Uma pena! Mas a luta continua e Guilherme Boulos sai dessa disputa muito maior do que entrou. Pegando a ponte aérea para o Rio de Janeiro, nos deparamos com uma guerra entre facções. Dois candidatos detestados pela população, disputavam um segundo turno atípico e fatídico. Um domingo para o carioca esquecer ou se lembrar muito em breve, das outras opções que tinha e deixou de escolher.

A maioria não votou para Eduardo Paes ganhar. Votou para Crivella, o pai da mentira, perder. E ele perdeu feio. Só não perdeu mais feio do que o carioca, que teve que declarar voto crítico no maior político, no pior sentido da definição, que a cidade já teve. Como já era de se esperar, a alegria duraria pouco. Mas ninguém imaginaria que fosse tanto. Logo na primeira declaração após a confirmação de sua eleição, Paes, ao lado de Rodrigo Maia, disse que fará um parceria com Bolsonaro no combate a Covid e revelou que Flávio Bolsonaro prometeu ajudar. Ou seja, o choro do carioca pode durar quatro anos, que a alegria não virá pela manhã por mais quatro anos.

No caso da cidade maravilhosa, aquele ditado popular que diz: “Quando o diabo não vem ele manda o secretário”, talvez seja o preço a pagar por ter preferido a escravidão, à, no mínimo, um suspiro de liberdade.

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