Oligarquias e retrocesso social

O que se tem em Pernambuco não é nenhuma forma conhecida de Estado, mas uma oligarquia política, das mais estreitas e atrasadas que se possa imaginar



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Numa avaliação desapaixonada e já distante dos episódios eleitorais recentes, começa a parecer que o resultado mais importante das eleições municipais em Pernambuco foi o início da desagregação política do PSB. A derrota do advogado e mecenas literário Antonio Acioly de Campos, vulgo "Tonca", irmão do falecido governador, cunhado da ex-primeira dama do estado, filho da ministra Ana Arraes e tio dos infantes: João Henrique e Maria Eduarda, à Prefeitura da cidade de Olinda para um obscuro professor olindense, deu início a uma disputa pública pelo poder, que lavrava silenciosamente no chamado núcleo duro do poder estadual.

Nunca será demais relembrar aqui a distinção feita em artigo pelo professor Francisco Weffort entre "oligarquia" e "Estado", no nosso caso, oligarquia de uma única família: Campos e infantes, hoje ameaçada por outra família e seus apaniguados, Andrade Lima. Segundo Weffort, a oligarquia é uma mera expressão política de interesses particulares, cuja legitimidade se resume aos áulicos, parentes, contraparentes e aderentes de toda espécie. Ou seja, é uma forma de domínio político estreita ("oligo"), com uma base social restrita, que não incorpora ou reconhece as massas urbanas como parceiro privilegiado do compromisso político em que se assenta o Estado. Já este último, não.

O Estado é sempre a expressão de interesses gerais da sociedade, por isso mesmo tem uma legitimidade ampliada e incorpora sim o apoio decidido das massas populares. Segundo essa análise, o que se tem em Pernambuco não é nenhuma forma conhecida de Estado, mas uma oligarquia política, das mais estreitas e atrasadas que se possa imaginar. Aliás, a presença indefectível, indispensável da ex-primeira dama e seus filhos em todos os atos oficiais de governo, seja da Prefeitura do Recife ou da administração estadual é o símbolo desse atraso. Quer dizer que ela é a fonte de legitimidade desse governo, participa dele e tem nele um grande quinhão ou cota-parte. Que, aliás, já começou a cobrar, com as pensões e os empregos dos dois filhos, sem concurso, sem exigência de habilidades ou qualificações profissionais para o exercício do cargo. E a fatura maior deverá ser apresentada por ocasião das eleições de 2018, quando - segundo as especulações que correm - pretende se candidatar ao mandato popular pela legenda do PSB.

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A primeira pessoa da família a romper com esse esquema oligárquico e familiar foi a vereadora Marília Arraes, ao ser preterida pelo tio na legenda do partido, hoje reeleita pelo Partido do trabalhadores (PT). Naquele então, a vereadora denunciava publicamente o sistema de preferências familiares que reinava no interior da oligarquia. Com a morte do chefe, em um desastre aéreo até bem pouco tempo não esclarecido (agora, a Justiça Trabalhista de São Paulo reconheceu a responsabilidade civil e criminal do PSB e dos sócios do ex-governador e os obrigou a pagar uma pesada indenização trabalhista à família de um dos pilotos vitimados pelo sinistro e uma pensão a cada um dos filhos, até a idade de 72 anos),

Agora vem a denúncia de "Tonca", que foi prejudicado pelo partido, pelo governador e pela ex-cunhada. Ou seja, atribuiu as causas de seu malogro político na Marim dos Caetés a uma facção dentro do PSB local, que não queria a sua eleição no município vizinho. O que ele diz é verdade. O segundo neto de Miguel Arraes nunca foi o preferido na família. As atenções sempre se voltaram para o falecido. Não goza de muita estima entre os parentes.

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Embora pose de intelectual, é o intelectual-político provinciano, municipal, o mecenas que promove os convescotes de sua própria consagração literária, agora com a finalidade revelada de ganhar as eleições. Sua candidatura nunca foi um consenso nem na família, nem no governo do Estado, nem no PSB. Além de ser uma aventura pessoal, rompeu a aliança c m um partido que se assina de "comunista" lá em Olinda. Ou seja, além de ser uma candidatura de risco, pôs em questão uma aliança fisiológica com os comunistas de João Amazonas, defensores do "impeachment" da presidente Dilma e propagandista desse gerente do PSB, aqui do Recife. Em suma, era uma candidatura que tinha tudo para dá errado. E deu.

Agora, vem o intelectual-político de Casa Forte acusar a ex-cunhada, sua família, o PSB e o governador do PSB de que tramaram contra a sua candidatura o tempo todo. Será que o atilado mecenas e intelectual nunca desconfiou dos métodos "estreitos" de como opera uma oligarquia familiar, como essa que nos infelicita? - Toda oligarquia tem o seu regime de preferenciais, não há isonomia política ou social dentro dela. Sempre tem os mais-iguais, os mais merecedores, os mais capazes ou meritórios. E aí, quem seriam os parentes mais merecedores das prebendas, sinecuras, cargos, mandatos etc.? - A família do falecido (nem Arraes, nem Aciolly Campos), mas a família da ex-primeira (e sempre presente) dama: a família Andrade Lima. Ela e seus filhos.

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Será que ele duvida que se está tentando construir um nova narrativa mítica do jovem, que desde cedo, foi vocacionado para o cargos públicos, pela influencia do grupo familiar, do avô, do pai, da prima (menos do tio).? - Pela idade e esperteza, "Tonca" não deveria se iludir com a sua própria notabilidade literária ou política, conferida pelo sobrenome familiar. De nada lhe valeu a estratégia de ter redigido a carta que designou Marina Silva a candidata do PSB, nas últimas eleições. Quis dar uma de sabido, tomando a iniciativa e aparecendo em cena. Mas subestimou as características do mando oligárquico.

Com a morte do chefe, é a família do chefe que tem a prioridade. Ele não é mais da família. É de outra família. A família do escritor Maximiliano Campos, que nunca foi político e sim literato.

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