Observações sobre a ensaística sobre o Nordeste
Essa engenharia simbólica deu uma formidável sobrevida às oligarquias locais, em substituição ao seu declínio econômico e social
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(Gilberto Freyre. Os neo-nietzschianos, neonominalistas e Carla Nogueira)
O objetivo dessas notas é fazer uma rápida revisão bibliográfica sobre a ensaística sobre a região nordestina.
1. A primeira vertente que gostaria de abordar vou chamar aqui de "brasilidade nordestina", associada ao nome do escritor e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, que aliás tem um livro com esse nome "Nordeste ".
Essa vertente defende a tese de que a matriz formadora do Brasil é a Casa Grande e seu herói civilizador - o senhor de engenho. A obra de Freyre já entronizado como um verdadeiro épico sociológico (veja o livro de Benzaquen) apresenta o Brasil como fruto da herança colonial nordestina, a ponto de outro ensaísta falar de patrimonialismo e do homem cordial, com base na experiência escravista dos engenhos de cana de açúcar. O Estado colonial era a Casa Grande. E o seu soberano, o senhor de engenho.
Poder-se-ia acrescer aqui a linha de Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa etc. Com o seu determinismo racial e positivista.
2. A segunda vertente é representada pelo ensaísta e filósofo Friedrich Nietzsche, profundamente influenciados pela obra de Michel Foucault. Uma vertente retórica e neo-nominalista, que pretende "inventar" o Nordeste a partir de figuras como: o cangaço, o messianismo, o engenho banguê e a saudade. Segundo o autor o Nordeste é produto de um discurso lítero-sociológico-histórico que "cria" e "difunde " uma identidade regional que se transforma numa positividade espacial e social. Curiosamente, o autor, criticando essa estratégia discursiva, termina por criar outra em torno do tropicalismo.
3. A última vertente interpretativa está ligada a obra de Carla Nogueira, que afirma que o conceito e a ideia de um espaço diferenciado chamado Nordeste em a ver com a lógica de desenvolvimento capitalista desigual e combinado, e com a divisão do trabalho entre Sul e Norte, responsável pela racionalização do atraso, através da literatura, do ensaio, da pintura. Os intelectuais nordestinos ajudaram a criar e difundir a ideia do Nordeste e de um espaço geopolítico determinado, como uma positividade espacial, histórica e social .
Essa engenharia simbólica deu uma formidável sobrevida às oligarquias locais, em substituição ao seu declínio econômico e social. Sobrevivência simbólica, estética, literária.
A essas correntes, teríamos que acrescentar o "outro Nordeste " representado por uma ensaística e uma poética crítica, representada por Josué de Castro, Paulo Freire, o manguebeat, João Cabral de Melo, Graciliano Ramos etc. Autores que não transformam a necessidade em virtude ou vantagem comparativa civilizatória, mas fazem uma crítica radical à "segunda natureza" da miséria nordestina, sem estilizá-la ou transformá-la em espetáculo social.
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