‘Objetivo do PCO nas eleições é mobilizar pelo Fora Bolsonaro e contra o golpe’, diz Antônio Carlos, candidato em SP
O candidato do PCO em São Paulo, professor Antônio Carlos Silva, disse que o partido irá atuar nas eleições deste ano para denunciar o processo eleitoral antidemocrático e colocar em debate a luta pela derrubada do regime golpista
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Entrevista com o candidato do PCO em São Paulo, Antônio Carlos Silva.
Por Juca Simonard
O candidato à prefeitura de São Paulo do Partido da Causa Operária (PCO), Antônio Carlos Silva, colocou os pontos centrais da campanha eleitoral de seu partido em entrevista a esta coluna. De acordo com ele, o objetivo da campanha eleitoral do PCO é ser “uma tribuna de luta pelo Fora Bolsonaro e por Lula candidato”. Para isso, o partido leva uma campanha que, apesar de contar com 150 candidatos em todas as regiões do Brasil, é unitária e centralizada.
Antônio Carlos afirma que o PCO vai às eleições para impulsionar a “mobilização pela derrubada do regime golpista” e colocar em debate o programa dos explorados diante da situação “de crise econômica e crise histórica do capitalismo”, como a redução da jornada de trabalho para combater o desemprego de milhões de brasileiros, a extinção da Polícia Militar, a estatização completa da Saúde e da Educação e assim por diante.
Ele é militante do PCO desde a década de 1980, tendo participado do processo de fundação do PT, quando a Causa Operária ainda era uma tendência do partido de Lula. A tendência, na época, chegou a dirigir a direção da CUT na região da Grande São Paulo em 1985, ano de maior crescimento do movimento grevista no País, e foi de fundamental importância na liderança da greve dos metalúrgicos da CSN em 1988.
Além disso, a organização participou da luta pela formação de um PT operário, sem a participação e a aliança com setores da burguesia, motivo pelo qual a tendência foi expulsa. Antônio Carlos participou da formação do PCO enquanto partido e, com o processo golpista desta década, tornou-se um dos principais dirigentes do movimento contra o golpe, organizando atos e plenárias nacionais com o movimento suprapartidário dos Comitês de Luta.
Hoje, ele é professor da rede estadual paulista e membro da corrente Educadores em Luta, que atua dentro da Apeoesp e teve grande importância na greve dos professores paulistas de 2015, que durou mais de 3 meses. Além disso, é membro do Comitê Central e da Direção Executiva do PCO e dirigente da Corrente Sindical Nacional Causa Operária, que reúne o Educadores em Luta, o Ecetistas em Luta, a Luta Metalúrgica e várias outras categorias. Seu vice é Henrique Áreas, dirigente do PCO e trabalhador demitido dos Correios, tendo sido diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios). Confira a entrevista.
Em 2018, o PCO denunciou que as eleições foram fraudadas já que Lula foi impedido de participar. Qual a avaliação do partido para as eleições municipais deste ano?
As eleições de 2020 são as primeiras que acontecem sob a vigência da reforma eleitoral de 2017. Esta reforma é profundamente antidemocrática e foi realizada logo após o golpe de Estado de 2016. Ela estabeleceu todo um processo de cerceamento das eleições ainda maior, o que faz destas eleições atuais, as mais antidemocráticas das últimas décadas - comparáveis, inclusive, àquelas realizadas na ditadura militar, onde pelo menos havia um tempo igual entre os partidos que disputavam a eleição: o partido da ditadura, Arena, e o partido da oposição consentida, o MDB. Mesmo impedindo o posicionamento político dos candidatos, distribuía-se os tempos iguais, o espaço para propaganda, outdoor, etc.
Nessa eleição de agora, 10 partidos, dos 33 registrados atualmente, tiveram cassados os seus direitos, por exemplo, de ter acesso, mesmo por um tempo mínimo, ao horário eleitoral gratuito. É uma tentativa de invisibilizar, de deixar sem qualquer espaço vários partidos, como os que tradicionalmente têm uma atuação de esquerda, como é o caso do PCO, do PCB, do PSTU…
Essa política visa a garantir a política das grandes máquinas eleitorais da burguesia e estabelecer uma eleição entre elas. Nós vemos que a eleição está marcada, nas principais capitais, numa disputa entre as principais alas do golpe - DEM, MDB, PSDB - por um lado, contra o bolsonarismo no outro lado. Uma política dos monopólios capitalistas, que procuram apresentar para a população esses aí como sendo as únicas candidaturas. Então é uma eleição profundamente antidemocrática, que não tem nada a ver com a “festa da democracia” e outras referências que são feitas pela burguesia e pela própria esquerda, que procura alimentar ilusão em eleições tão viciadas.
Muitas pessoas têm defendido uma “união das esquerdas” nestas eleições para derrotar o bolsonarismo, entretanto, vemos que na maioria das cidades ela está fragmentada. Por que o PCO lança candidaturas próprias?
A divisão das esquerdas que costumam a se juntar nas eleições tem a ver com a política de vários grupos dessa esquerda pequeno-burguesa e burguesa de apoiar a política de frente ampla e buscar apresentar uma alternativa política ao PT junto e com apoio de setores da burguesia golpista. Esse é o motor principal da divisão, inclusive, com um claro espaço cedido pela burguesia para promover algumas candidaturas que defendem a frente ampla, como é o caso do candidato do PSOL Guilherme Boulos, em São Paulo.
Nós do PCO temos uma tradição de lançar candidaturas próprias para apresentar nosso programa revolucionário. Só não fizemos isso quando esteve colocado a possibilidade de uma candidatura que fosse a expressão da luta dos trabalhadores e que servisse para avançar seus interesses diante da situação, como foi o caso da candidatura do ex-presidente Lula em 2018. Nós, junto com muitos setores da esquerda e do movimento operário, levantamos a palavra de ordem “É Lula, ou Nada”, se opondo à política o golpe de cassar a candidatura do ex-presidente, coisa que foi aceita por todo um outro setor da esquerda.
Neste momento, não há candidaturas que expressem nas cidades essa unidade do movimento operário e essa luta. A eleição municipal não é feita para colocar em xeque o regime político golpista, mas pelo contrário para confirmar e solidificar esse regime com a vitória dos partidos da direita. Ao nosso ver, uma parte da esquerda se divide. Nós temos uma política de unidade para essas eleições e para atual etapa política em torno da luta pelo “Fora Bolsonaro” e em defesa da candidatura da única liderança capaz de unir a esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Começando pela mobilização imediata em torno da reconquista de seus direitos políticos.
Há alguma possibilidade de derrotar Bolsonaro por meio das eleições?
Nós não vemos nenhuma possibilidade da derrota do Bolsonaro por meio das eleições. Particularmente, neste momento. Alguns setores da esquerda procuram apresentar que estaria em disputa nas eleições uma possibilidade de derrota do Bolsonaro. Isso não se verifica por vários motivos.
Primeiro, porque a quase totalidade dos partidos que vão às eleições não defendem a mobilização pelo “Fora Bolsonaro”. Em segundo lugar, as eleições, da maneira que elas estão organizadas, constituem um jogo de cartas marcadas para preservar não só o governo Bolsonaro, como o conjunto do regime golpista. O que nós temos, de uma maneira geral, é a disputa entre as duas principais alas da burguesia: os setores mais tradicionais, organizados nas grandes máquinas eleitorais do PSDB, do MDB, do DEM, por um lado; e os bolsonaristas. Mas a vitória dessa suposta oposição de modo nenhum representaria uma derrota do Bolsonaro.
Por outro lado, a política da esquerda é não mobilizar pelo “Fora Bolsonaro”. Alguns setores criticaram o PCO e outros grupos que saíam às ruas para mobilizar contra Bolsonaro, com desculpas estapafúrdias, como a de que atos de rua provocavam aglomeração e infecção pela Covid. Agora, estas pessoas saem desesperadas atrás do voto, mesmo com a pandemia não tendo passado. Mesmo assim, não têm nenhuma perspectiva de luta e de mobilização.
Bolsonaro e o regime golpista não vão ser derrotados meramente pelo voto. Ainda mais com um voto que não representa efetivamente uma mudança profunda na situação, mas que procura alimentar as velhas ilusões eleitorais, com promessas e outras práticas políticas tão comuns aos candidatos da burguesia, como a gente vê se repetir nestas eleições.
Com qual programa o PCO irá participar das eleições?
Diferentemente dos outros partidos, o PCO não tem dois programas: um para o momento eleitoral e outro para fora das eleições. Em geral, os partidos procuram se adaptar, alterando profundamente seus programas, apresentando nas eleições um conjunto de promessas e propostas demagógicas, levando em consideração aquilo que seria possível prometer - muitas vezes o impossível - para fazer demagogia e colocar falsas soluções.
O programa que o PCO leva às eleições é o mesmo programa que levamos no interior do movimento operário, nos sindicatos junto aos trabalhadores, à juventude e aos demais setores explorados. É um programa que leva em consideração e que levanta as reivindicações fundamentais dos explorados diante da crise, como por exemplo, a necessária redução da jornada de trabalho para combater o desemprego de dezenas de milhões de brasileiros; a luta não por uma esmola emergencial, como defende a maioria dos partidos, mas por um salário mínimo que cumpra o que está estabelecido na Constituição Federal e que deveria ser hoje R$ 5.000,00 - um salário mínimo vital que seja deliberado pelas organizações dos trabalhadores; a defesa de reivindicações fundamentais da luta contra a opressão da população explorada, negra e pobre, com a dissolução da Polícia Militar. Além disso, outras reivindicações como expropriação do latifúndio, a reforma urbana sob o controle dos trabalhadores, expropriando os especuladores imobiliários, a estatização de setores fundamentais, como no caso da Saúde, da Educação e do Transporte, etc.
Junto a essas reivindicações importantes dos trabalhadores, diante do agravamento da crise econômica e histórica do capitalismo, levantamos como eixo para unificar todas essas questões: a luta contra o regime golpista, sintetizada nas palavras de ordem “Fora Bolsonaro e todos os golpistas” e por eleições livres e democráticas, o que na atual etapa pressuporia a devolução dos direitos políticos do ex-presidente Lula e o nosso apoio, com a esquerda e as organizações de luta dos trabalhadores, à sua candidatura presidencial.
Em São Paulo, a esquerda está dividida entre PT, PSOL, PCdoB, PSTU e PCO. Qual a relação com esses outros partidos? Alguma chance de apoiar algum destes caso chegue ao 2º turno?
Em primeiro lugar, a divisão da esquerda, nesse sentido, é até natural, na medida em que seja para apresentar seus programas diante da situação e pelo fato de não haver uma candidatura representativa e que unifique toda a esquerda, como é a do Lula em nível nacional.
Nós do PCO não vendemos ilusão. Vamos deixar bem claro. Não há possibilidade que o nosso e nenhum destes outros partidos cheguem ao segundo turno em São Paulo. A eleição está armada, como em um jogo de cartas marcadas, para ser disputada entre o candidato que os setores mais poderosos da burguesia paulista e paulistana apoiam, que é a do atual prefeito Bruno Covas - um genocida responsável pelo recorde de mortes do coronavírus em nossa cidade -, e o candidato que tem sido usado como espantalho nesses últimos anos por estes setores, que é o Russomanno.
No passado, o ex-prefeito Paulo Maluf cumpria esse papel. Toda vez que a direita queria eleger um determinado candidato e evitar que uma candidatura de esquerda crescesse e disputasse as eleições, dizia-se “vote em fulano... vote em Covas”, por exemplo, “para que Maluf não ganhe a eleição”. Hoje o Russomanno vem cumprindo esse papel já em várias eleições e parece que ele está de novo no palco para desempenhar essa tarefa, ao mesmo tempo em que ele aparece como candidato que tem apoio do bolsonarismo. Vamos ver o que vai acontecer no processo…
Na esquerda, é evidente que há um favorecimento da candidatura do Boulos por um setor da direita que quer evitar o perigo do crescimento de uma candidatura do PT, que também ajuda tendo uma candidatura sem nenhuma popularidade nem entre a militância petista. Mas não vamos ter ilusão. Neste momento, não aparece nenhuma perspectiva da esquerda ir ao segundo turno. E dificilmente nosso partido apoiaria alguma destas candidaturas no segundo turno. Naturalmente, nosso partido é democrático e se reuniria para discutir essa questão. Pelas candidaturas e pelo programa, não parece possível que nosso partido venha a apoiar um candidato que supostamente chegasse ao segundo turno.
Na sua avaliação, em São Paulo, do ponto de vista eleitoral, o cenário é favorável ou desfavorável para a esquerda?
Profundamente desfavorável e o que temos aqui é, apenas e tão somente, que a direita está lançando mão da velha tática adotada nas eleições presidenciais dos últimos anos em que estimularam (pela propaganda e pesquisas enganosas) candidaturas "alternativas" ao PT, de ex-petistas, como foi o caso de Heloísa Helena (pelo PSOL, em 2006) e de Marina Silva (PV, Rede...) em 2010 e 2014, com o claro objetivo de garantir a chegada no segundo turno dos candidatos do PSDB-DEM.
E para o PCO, que perspectivas o partido têm?
Nosso partido cresceu significativamente nos últimos anos, como o partido da luta contra o golpe - sendo o primeiro a identificar e denunciar as articulações golpistas e a chamar a mobilizar contra a direita; impulsionou a luta pela anulação do impeachment, contra a condenação e a prisão de Lula, por sua liberdade e por sua candidatura quando a esquerda abutre tramava o "Plano B".
Hoje somos o terceiro partido com maior número de candidatos nas capitais, com 20 no total, e vamos fazer nossa maior campanha eleitoral de todos os tempos, tendo como objetivos centrais fazer dela uma tribuna de luta pelo Fora Bolsonaro e por Lula candidato.
No PCO, não há campanhas individuais. São 150 candidatos e uma só campanha e um só objetivo: fazer avançar a luta dos trabalhadores e o PCO, enquanto embrião do partido operário, revolucionário e de massas, que a classe operária e os explorados de nosso País precisam para conquistar um governo dos trabalhadores, a revolução e o comunismo.
Você é dirigente do PCO nacionalmente e da corrente sindical do partido. Além disso, dirige a corrente Educadores em Luta, uma vez que também é professor de escola estadual, uma categoria que nas últimas décadas vem sofrendo duros ataques do PSDB. Mesmo assim, há alguma forma do PCO apoiar Covas no 2º turno contra um “mal menor” bolsonarista?
Para nós do PCO, a direita golpista organizada no PSDB, DEM, MDB, PSD etc., que deu o golpe que derrubou a presidenta Dilma, que prendeu e cassou os direitos políticos do presidente Lula e que impôs o maior retrocesso de todos os tempos nas condições de vida do povo brasileiro, não é de modo algum o "mal menor".
Covas, junto com Dória, são responsáveis - junto com Bolsonaro e toda a direita - pelo enorme genocídio de nosso povo, que registra mais de 150 mil mortos pelo coronavírus, pelos recordes de fome e desemprego etc. para favorecer os bancos e outros tubarões capitalistas. Bolsonaro não realizou essa obra sozinho. De certa forma, ele é o uma peça secundária do regime golpista que precisa ser derrubada por meio da mobilização popular, o que não pode ser feito apoiando-se nos golpistas da frente ampla, como fazem o PCdoB, o PSOL e a direita do PT.
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