O xerife e o jagunço
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Quando as instâncias democráticas não funcionam a contento da conjuntura, as individualidades tornam-se super poderosas, assim é o caso do ministro Alexandre de Moraes que virou o xerife do Brasil.
O quadrilheiro Bolsonaro transformou o Estado democrático de Direito numa balburdia institucional e a reação veio aos 45 minutos do segundo tempo.
De certa forma estamos num faroeste, no qual só um lado saca de suas armas, sem tempo de legítima defesa.
Com o governo Lula e um novo restabelecimento funcional e constitucional do Congresso, sem orçamento secreto, mais os novos nomes na PGR, no STF e nas demais instâncias superiores do Judiciário, dar-se-á o início da recuperação do Estado democrático de direito, antes disso, é terreno escorregadio e o novo governo pode patinar.
A deduzir pelo modelo da transição, teremos um governo um tanto o quanto como um balaio sobre uma gangorra, ora a direita sobe e a esquerda desce e vice-versa. Para tanto, a esquerda tem que ganhar musculatura, e só conquistará isso com a mobilização continuada de ocupação das ruas.
Há misturas que dão certo e há as explosivas.
A esquerda quando unida tem poder de mobilização. Mas falta orientação de quais são as bandeiras focais e imediatas para galvanizar as massas.
Acabar com o orçamento secreto, acabar com o teto de gastos, são duas bandeiras da mais alta importância para este final de ano.
Não basta a Gleisi declarar, com o fez no 247, “manteremos o povo mobilizado para derrotar de vez a extrema direita", é imperativo tornar realidade, e para isso o PT e seus aliados têm que elaborar um cronograma de lutas para o final deste bimestre e para o próximo semestre.
A mobilização para a festa da posse é necessária e acalentadora, contudo, é pouco, salvo se também aproveitar a festa para traçar novos caminhos de luta.
Até o presente os partidos de esquerda estão voltados para a transição, deixando diluir o capital político acumulado durante as eleições, com a formação de núcleos e comitês de luta.
Aliança com o inimigo é sempre de muito risco.
Com o Lira, então, é risco e meio. Ele foi o artífice e é o dono da senha da caverna da corrupção legislativa.
Ninguém de um estado pequeno chega a ser o todo poderoso presidente da Câmara, dono do orçamento secreto, apenas por capacidade de articulação. Foi discípulo do Eduardo Cunha, o semeador do golpe de 2016.
É filado do PP, o partido que mais perdeu cadeiras na Câmara para 2023.
Para uns é um jagunço, para outros um cangaceiro, para todos, um instrumento das oligarquias mais atrasadas e reacionárias do país, que acalenta projetos tão perigosos ao Estado democrático de direito quanto foram os do Bolsonaro.
Há também o xerife protetor dos bandidos, como o atual PGR, Augusto Aras.
Já houve procurador geral engavetador, o Aras é o arquivador. Todas as denúncias ao genocida-canibal-pedófilo, ele arquiva. Sua gestão seguiu o lema: fazer tudo que o seu chefe (Bolsonaro) mandar.
Nem todo inimigo é convertível e cai no canto do sedutor, apenas fingem, se transmutam sem deixar o instinto escorpiônico.
Flertar com o inimigo pode parir novos ovos da serpente.
E a história dos governos Lula e Dilma registra exemplos dessa perigosa síndrome de Estocolmo e de dormir com o inimigo.
Há quadros políticos antigos que nutrem relações com esses pulhas, e até interesses pessoais com a manutenção deles, já vimos em que deu esse filme.
Se fizermos o exercício de abstração com a conjunção subordinativa condicional “Se”, concluiremos necessariamente que o Brasil não teria enveredado pelo lavajatismo e seu filho natural, o bolsonarismo nazifascista.
Se o PGR tivesse sido bem escolhido, bem como os 13 ministros do STF e os 33 das demais instâncias superiores do Judiciário, o “mensalão” não teria tido o mesmo transcurso e desfecho, o lavajatismo não teria, talvez, nem iniciado, o “petrolão” não teria sido a farra das delações corruptas, o Lula não teria sido impedido de compor o governo Dilma e nem teria sido preso por 580 dias. E os chefes da quadrilha de Curitiba, Moro, Dallagnol, teriam continuado como homúnculos.
Faltou visão e comprometimento de classe.
O método equivocado e amador, do tipo me indique um negro, me indique uma mulher, sem levantar a vida pregressa e os compromissos históricos dessas indicações, levaram a maior perda de oportunidade histórica de termos o poder Judiciário e a PGR comprometidos com a democracia e obsequiosos da Carta Magna.
E as consequências dessas indigestas indicações ainda estão a prejudicar a construção de uma democracia que não tenha medo de encarar o passado.
Basta ver as posições de Dias Toffoli de críticas à Argentina, que para nós da Geração68, defensores da Justiça de Transição, é um exemplo, um paradigma, enquanto o comportamento desse ministro do STF, já algum tempo é de subserviência e porta-voz dos militares golpistas. O ministro Fux, por sua vez, pediu vista e mantém na gaveta, há doze anos, a solicitação da Corte Interamericana de DHs pela reinterpretação da Lei da Anistia, para acabar com a incabível e cruel anistia dos militares que cometeram os graves crimes imprescritíveis de lesa humanidade.
Os espaços de poder não deveriam ser laboratório para iniciantes, parentes ou não. Aliás, por onde anda a súmula do nepotismo?
Não se seleciona um quadro somente pelo que ele diz de si e o que dizem dele, mas, sobretudo, pela sua história. Por isso, deveria ter vários selecionáveis para cada um desses preciosos espaços de poder institucional.
Oportunidade igual àquela não ocorrerá mais e errar de novo será imperdoável.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247