O Waterloo de Tite

"A Copa do Mundo é a metáfora de uma guerra mundial, escreve o colunista Alex Solnik em sua coluna. "Os gramados são campos de batalha. A bola e as chuteiras são armas que podem ferir e até matar jogadores. Partidas de Copa são jogos de vida ou morte"; ele acrescenta: "A culpa pela derrota do Brasil na Batalha de Moscou não é dos jogadores, é de Tite"

O Waterloo de Tite
O Waterloo de Tite (Foto: REUTERS/Maxim Shemetov)


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Há muito mais pontos em comum entre Tite e Napoleão do que supõe a vã filosofia futebolística.

Tite convocou errado. Vários jogadores estavam cansados ou machucados e mesmo assim ele os levou. Estavam bem durante as eliminatórias da América, mas não durante a Copa. Paulinho admitiu que não tirava férias há dois anos. Foi pra Copa. Neymar não jogava há três meses, não deveria participar de um torneio tão competitivo como a Copa do Mundo. Foi pra Copa. Renato Augusto estava em forma nas eliminatórias e não na Copa. Foi pra Copa.

Tite passou a ilusão de que recuperara um time de perdedores, mas só jogou com times das Américas antes da Copa. Comandou apenas dois jogos contra times europeus, a dias da competição. Não treinou contra os mais fortes do mundo, perdeu a oportunidade de conhecê-los previamente e testar seus “homens de confiança” contra as fortes equipes europeias.

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Convocou errado porque privilegiou seus parças – seus homens de confiança – em vez de escalar os que estavam em melhores condições físicas e técnicas. Preferiu trazer da Europa um jogador mediano como Firmino, quando há dezenas iguais a ele no Brasil.

Não atentou para o detalhe da altura dos nossos jogadores, mais baixos que os europeus, tanto na defesa quanto no ataque. E também mais franzinos. Num choque entre um jogador europeu e um brasileiro o europeu sempre levou vantagem.

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Ficou claro que a preparação física foi equivocada. Douglas Costa se queixou de treinos excessivos. Machucou-se no jogo sem ter sido atingido. Marcelo também. Qualquer jogador europeu ganhava na corrida dos brasileiros. Não sabemos até que ponto a preparação física incompetente influenciou no baixo rendimento da equipe.

Tite desprezou a máxima “em time que ganha não se mexe” no jogo em que o Brasil foi eliminado. Filipe Luis estava dando conta do recado no lugar de Marcelo que se machucara, mas contra a Bélgica, que tinha o ataque mais forte de todos que o Brasil já enfrentara ele tirou o Filipe Luiz, que mais defende que ataca e colocou de novo Marcelo, que mais ataca que defende.

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E o Brasil levou o segundo e decisivo gol justamente no buraco que Marcelo deixou porque estava no ataque, não conseguiu voltar a tempo nem bloquear o chute do atacante belga. Apesar disso, Tite manteve Marcelo até o fim do jogo. Afinal, toda a imprensa dizia que era o melhor lateral esquerdo do mundo.

Fernandinho não acertou uma bola – a não ser a do gol contra as próprias redes que resvalou em seu ombro e enganou Alisson, aquele que não gosta de abandonar a linha do gol nem quando a bola sobrevoa perigosamente a sua pequena área - e mesmo assim também foi mantido até o final. Tite pode se justificar dizendo que não tinha quem colocar no lugar. Não tinha porque convocou mal.

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Tite estava muito nervoso à beira do gramado no jogo com a Bélgica. Seu nervosismo contaminou os jogadores. Atacantes perderam gols que jamais perderiam, cara a cara com o goleiro, numa sucessão de lances de pastelão, se estivessem equilibrados e tranquilos.

A Copa do Mundo é a metáfora de uma guerra mundial. Os gramados são campos de batalha. A bola e as chuteiras são armas que podem ferir e até matar jogadores. Partidas de Copa são jogos de vida ou morte.

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Quando os franceses foram derrotados na Batalha de Waterloo, que fica na Bélgica, ninguém culpou os soldados sobreviventes, que seguiram suas vidas, mas Napoleão, que os comandou, e que foi deportado pelos vencedores (ingleses e alemães) para a Ilha de Santa Helena, onde terminou seus dias.

A culpa pela derrota do Brasil na Batalha de Moscou não é dos jogadores, é de Tite.

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Os torcedores e a imprensa só não estão pedindo a sua cabeça porque ele tem uma ótima assessoria, transmite credibilidade, fala bem, passa sinceridade, sabedoria, tem um grande carisma, sempre se sai bem nas entrevistas e está blindado pela Globo.

E sobretudo porque não tem ninguém melhor do que ele no país.

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