O voto silencioso em Lula na baixada fluminense
"O jogo está sendo jogado no Rio, e a disputa nacional parece estar influenciando de maneira determinante as eleições para governador", avalia Miguel do Rosário
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Por Miguel do Rosário
(Publicado no blog O Cafezinho)
A pesquisa Quaest no Rio de Janeiro, divulgada hoje, é a primeira realizada depois do 7 de setembro, onde a campanha do presidente Jair Bolsonaro organizou a sua maior manifestação, desde que ele chegou ao poder.
O resultado, ao menos na capital, foi decepcionante, pois Bolsonaro perdeu 5 pontos, caindo de 38% em agosto, para 33% na pesquisa de hoje, com entrevistas feitas de 10 a 13 de setembro.
O ex-presidente Lula, por sua vez, avançou 4 pontos na capital, para 43%, abrindo uma vantagem de 10 pontos.A pesquisa Quaest no Rio de Janeiro, divulgada hoje, é a primeira realizada depois do 7 de setembro, onde a campanha do presidente Jair Bolsonaro organizou a sua maior manifestação, desde que ele chegou ao poder.
O resultado, ao menos na capital, foi decepcionante, pois Bolsonaro perdeu 5 pontos, caindo de 38% em agosto, para 33% na pesquisa de hoje, com entrevistas feitas de 10 a 13 de setembro.
O ex-presidente Lula, por sua vez, avançou 4 pontos na capital, para 43%, abrindo uma vantagem de 10 pontos.
Entretanto, Lula caiu no estado, sangrando 3 pontos desde a última pesquisa, de 39% para 36%. A queda de Lula foi puxada pelo mal desempenho na baixada e, sobretudo, no interior.
Bolsonaro oscilou um ponto para cima, chegando a 40% no estado do Rio de Janeiro. Ciro Gomes e Tebet também oscilaram para cima, atingindo 8% e 5%, respectivamente.
O Rio de Janeiro é um estado onde a capital tem um peso muito relevante, representando 40% do eleitorado total, contra 32% da baixada e 29% do interior.
Na baixada e no interior, Lula experimentou forte queda, aparentemente em virtude da máquina evangélica bolsonarista, que o presidente Bolsonaro conseguiu colocar em movimento.
Na estratificação por religião, isso fica bem nítido. Lula cresceu entre católicos, de 39% para 42%, e Bolsonaro caiu de 35% para 33%, abrindo-se uma vantagem de quase 10 pontos para o petista.
Toda a dificuldade de Lula se concentra entre evangélicos, onde ele caiu para 21 pontos. Bolsonaro oscilou um ponto para baixo nesse estrato, mas ainda tem impressionantes 55%.
Os evangélicos representam 33% do eleitorado fluminense, contra 35% para católicos, 21% para os sem religião e 10% para outras. O Rio é o estado onde os evangélicos tem a maior proporção no eleitorado total.
Apesar da queda de Lula no total do estado, a pesquisa não apresenta nenhuma mudança estrutural. Não há sinais de nenhuma “onda bolsonarista” ou coisa do tipo, porque Bolsonaro caiu entre o eleitorado mais pobre, com renda familiar até 2 salários, para 34%, onde Lula permaneceu firme, com 41%.
Bolsonaro também ficou parado no eleitorado com renda entre 2 e 5 salários.
Todo o avanço de Bolsonaro foi concentrado, portanto, no eleitorado com renda acima de 5 salários, onde ele experimentou alta de 7 pontos e chegou a 44%. Pode ser que o 7 de setembro tenha contribuído para essa melhora entre eleitores de maior renda.
De qualquer forma, a explicação para o bolsonarismo permanecer tão forte no estado é facilmente explicada por outro gráfico da mesma pesquisa, que mostra a violência como o problema mais grave para eleitores fluminenses. Bolsonaro ainda é visto como um nome forte para resolver essa questão, daí a sua boa performance.
Segundo a Quaest, 38% dos entrevistados responderam que a violência é o problema principal no Rio, contra 24% que consideram a saúde, 12% a economia e 7% questões sociais. Isso é um quadro bem diferente da média nacional apurada pelo próprio Quaest.
Na média nacional da última Quaest, a violência é considerada o principal problema por apenas 5% dos eleitores brasileiros, ao passo que 37% consideram a economia como principal questão a ser enfrentada. Outros 21% acham que as questões sociais (fome, desigualdade, miséria) é que são o problema mais grave.
Num eventual segundo turno, Bolsonaro e Lula seguem empatados no estado, em 45% X 44%, respectivamente. O ex-presidente Lula não caiu em relação a última pesquisa. Bolsonaro avançou 3 pontos, puxando votos de brancos e nulos.
A resistência do petista na simulação de segundo turno é outro indicativo de que não há nenhuma “onda antipetista” se alevantando no estado.
É interessante comparar o quadro atual com o segundo turno de 2018 no estado. Entre os próprios entrevistados dessa pesquisa, 47% afirmaram ter votado em Bolsonaro e 22% em Haddad. Ou seja, Bolsonaro perdeu apenas 2 pontos em relação aos votos que obteve no segundo turno de 2018, mas o PT ganhou 22 pontos!
A propaganda de TV parece estar beneficiando mais Lula que Bolsonaro.
Entre aqueles que afirmam já ter assistindo a propaganda eleitoral, Lula tem um desempenho melhor, chegando a 39%, contra 33% entre os que ainda não assistiram. O percentual de Bolsonaro é o mesmo entre aqueles que viram ou não viram a sua propaganda eleitoral.
Um outro ponto que pode beneficiar Lula no Rio de Janeiro é o voto útil dos eleitores de Ciro Gomes e Tebet.
Segundo a Quaest, 44% dos eleitores de Ciro no Rio estão dispostos a votar em Lula no segundo turno, contra 23% que afirmam votar em Bolsonaro e 30% que não pretendem votar.
Já entre eleitores de Tebet, 31% dizem que devem votar em Lula no segundo turno, outros 30% em Bolsonaro e 39% não devem votar.
Os números sinalizam em favor de Lula. Se houver movimento de voto útil ainda no primeiro turno, a tendência é que Lula seja mais beneficiado do que Bolsonaro. Os eleitores de Ciro que indicam voto em Lula no segundo turno, podem decidir fazê-lo já no primeiro.
Entretanto, Ciro desenvolveu um problema grave no Rio. Ele se tornou o candidato com maior índice de rejeição, com 55% dos entrevistados da Quaest dizendo que conhecem o candidato, mas não votariam nele.
Lula é o segundo mais rejeitado, com 54%, seguido de Bolsonaro, com 51%.
Outros 33% responderam que conhecem Lula e votariam nele, aos quais se somam 11% que responderam que poderiam votar, totalizando 44% de potencial de voto.
Bolsonaro tem 37% entre aqueles que disseram o conhecer e que votariam nele, mais 9% entre os que disseram que poderiam votar, totalizando 46% de potencial de voto.
Na margem de erro, portanto, Lula e Bolsonaro também estão rigorosamente empatados no gráfico de conhecimento, potencial e rejeição.
A disputa pelo Palácio Guanabara
As eleições para o governo do estado estão sendo afetadas pelo quadro nacional, mas o inverso também pode ser verdadeiro.
A melhora no desempenho de Bolsonaro ajuda Claudio Castro, e a maior desenvoltura da campanha de Castro, sobretudo na baixada e no interior, está contribuindo para o crescimento de Bolsonaro.
De qualquer forma, o quadro estadual é bem mais incerto do que o nacional. Enquanto apenas 28% dos eleitores fluminenses afirmam estar indecisos na disputa pela presidência, esse percentual sobe para 65% quando se trata do Palácio Guanabara!
Confirmando o que outras pesquisas já vinham apontando, Claudio Castro experimentou um vigoroso crescimento nas últimas semanas. Nessa pesquisa Quaest, ele chegou em 31%.
Freixo avançou pouco, apenas dois pontos, mas avançou, e está perfeitamente vivo, com seus 21%. Rodrigo Neves, do PDT, é que não tem conseguido avançar quase nada e, a duas semanas do pleito, tem apenas 7% das intenções de voto.
Num eventual segundo turno entre Castro e Freixo, o placar ficaria 42% X 34%, com oito pontos de vantagem, portanto, para o atual governador. Em virtude do quadro ainda instável, com grande número de indecisos na espontânea, ainda podemos assistir a mudanças nessa pesquisa.
Essa disparada de Castro está ligada diretamente à associação política do governador com o presidente Bolsonaro.
Iniciou-se um processo de adesão em massa dos eleitores de Bolsonaro à campanha de Castro, enquanto o mesmo ainda não se deu, ou pelo menos não no mesmo ritmo, com Marcelo Freixo.
Enquanto 54% dos eleitores de Bolsonaro declaram votar em Castro, Freixo até conseguiu crescer entre eleitores de Lula, mas chegou apenas a 40%.
A Quaest perguntou aos entrevistados se eles preferem que o governador eleito seja mais ligado a Lula, a Bolsonaro, ou que não seja ligado a nenhum dos dois. Há um empate entre as tendências, o que é outro indicativo de que não há nenhuma “onda bolsonarista”, apesar dos esforços da máquina evangélica colocada em movimento pelos apoiadores do presidente.
Senado
Sobre o Senado, o quadro é indefinido, com 72% dos eleitores ainda indecisos na pesquisa espontânea. Na estimulada, todavia, o atual senador pelo estado, Romário mantém a liderança isolada, com 37%, Molon subiu para 13%, Daciolo caiu para 9% e Ceciliano se mantém estagnado em 4%.
Conclusão
O jogo está sendo jogado no Rio, e a disputa nacional parece estar influenciando, de maneira determinante, as eleições para governador.
O que se pode concluir da pesquisa é que, dessa vez, não há nenhuma onda bolsonarista se levantando, como houve em 2018. Há uma disputa apertadíssima, com um dos lados, o bolsonarismo, movimentando três poderosas máquinas, a do governo do estado, a do governo federal e a das igrejas evangélicas.
Lula não tem máquina nenhuma. Tem apenas a sua militância e a estrutura de sua campanha.
O grande desafio para Lula e Freixo será desmontar essas máquinas, que operam especialmente na baixada e no interior, explorando a extrema vulnerabilidade da população nessas regiões, vítimas da violência, do desemprego e da miséria.
Entretanto, o próprio Felipe Nunes, CEO da Quaest, revelou, em entrevista recente à CNN Brasil, que identificou a presença de um “voto silencioso” em Lula, que pode não estar aparecendo em pesquisas. Bem, se existe esse voto, a baixada fluminense, com seu histórico de milícia bolsonarista e altíssimos índices de violência política, é um lugar propício.
Caso esse voto silencioso em Lula seja uma realidade, ele pode estar distorcendo os números eleitorais da baixada.
A intolerância religiosa, a propósito, também força um voto silencioso. O evangélico que vota em Lula pode estar escondendo seu voto por medo de represálias, que estão em curso e são violentas. Após o evento de Lula com evangélicos em São Gonçalo, realizado há alguns dias, um dos pastores que o organizou passou a sofrer pesado assédio de lideranças evangélicas bolsonaristas, que divulgaram vídeos queimando seus livros e pressionaram por sua renúncia de cargos de direção. Deu resultado. O pastor Sergio Dusilek anunciou que irá renunciar da presidência da Convenção Batista Carioca.
A capital pode ser o termômetro desse voto silencioso na baixada.
Lula avançou fortemente na capital. Bolsonaro, por sua vez, desabou cinco pontos. Faria todo sentido que houvesse um movimento similar na baixada, visto que a maior parte do eleitorado da capital vive na Zona Oeste, Zona Norte e favelas, onde as condições de vida são similares à da baixada.
A íntegra da pesquisa Quaest no Rio pode ser baixada aqui.
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