O voto inútil

"Escrever difícil é fácil, difícil é escrever fácil" - Cacique Papaku

Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes
Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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O parnasianismo vernacular, essa parolagem anacrônica utilizada pelo Ciro, beira à cafonice.

É brega demais!

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Ciro se utiliza do mesmo recurso estilístico daquele personagem da Escolinha do Professor Raimundo, o 'Rolando Lero': fala, fala e não diz nada; mas passa a impressão de que disse tudo.

Dito isto, digo mais.

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Quando Ciro sai desse personagem de livro mofado - costeletas, pince-nez e suspensório – conseguimos compreender, com clareza, o que ele realmente pensa.

Certa vez, era o ano de 2002, Ciro estava em campanha presidencial e foi até a UnB para conversar com os estudantes.

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E tome verborragia e tecnicismo, o manjado rococó palavroso.

Lá pras tantas, meu amigo Rafael, um jovem negro que fazia mestrado, interpelou o sujeito sobre a questão das cotas.

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Apenas nesse momento percebemos que Ciro realmente tinha algo a dizer, porque ele utilizou as palavras mais usuais do nosso vernáculo, expressando-se com clareza cristalina, parecia um ser humano:

"A universidade é meritocrática. Entra nela quem tem mérito. Não me convenci (sobre a política de cotas), mas estou aberto a discutir”.

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Aproveitando essa democrática abertura, Rafael foi até o microfone e pediu a palavra.

A plateia, formada por estudantes, professores e a moçada do pps do df (um dos inúmeros partidos do ciro), incentivaram Rafa a tomar a palavra.

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Ciranha não gostou dessa insolência e esbravejou, bolsonaricamente: “não dá o microfone pra ele. Só porque ele é um negro lindo vai falar ao microfone? Isso é demagogia, isso é que discrimina o negro. Só porque é negro fica com peninha e dá o microfone?”.

Veja que beleza de argumento, veja que clareza de ideias, qualquer pessoa na favela entenderia: “ele num gosta de nóis!”

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Ciro não gosta de ser contestado.

Sabichão, toda vez que é interpelado age como aquele manjado valentão da quinta série na hora do recreio.

Outro dia foi visto na porta de um bar, com uma garrafa de scotch na mão, xingando um sujeito de filho da puta e ameaçando enfiar-lhe a porrada.

Mas ele diz que são os petistas que gostam de briga.

O cearense de pindamonhangaba gosta mesmo é de afago, por isso ele ficou todo fagueiro quando aquele endinheirado de gravata, ao ouvir sua parolagem monotemática e empolada sobre câmbio ou cãibra - não entendi muito bem -, disse ter ouvido uma verdadeira aula.

Ciro, sentindo-se um brilhante catedrático, devolveu o afago ao gravata dizendo que o cabra que o ouvia e o elogiava era uma mente diferenciada e preparada, “imagine eu explicar isso na favela”.

O Rafael, que veio da favela, não viu aula nenhuma na parolagem de Ciro e percebeu que ele, na verdade, é apenas um elitista arrogante e metido a besta.

É o cara que vai flanar em Paris quando o seu país está em chamas.

Mas dessa vez ele não vai só, conclama sua militância a embarcar nesse bonde.

Ciro está determinado a forçar um segundo turno entre Lula e Bolsonaro.

Por isso que o voto em Ciro é um voto inútil, ele não sai do lugar há meses.

Já tentaram de tudo.

João Santana já colocou sujeito pra segurar uma flor, o fez subir as escadarias de uma igrejinha em monte santo, como se fosse um daqueles sebastianistas amalucados dos filmes do glauber rocha, já meteram uma bíblia debaixo do braço do sujeito fazendo dele uma testemunha de Jeová a pedir voto, e nada.

Ciro nada, nada e nada.

Nada nele empolga.

Ciranha está rastejando abaixo dos 10% desde que lançou sua candidatura. Já deu cotoveladas pra todo lado, sorriu de uma galhofa machista de Bolsonaro, ofendeu os moradores de favela, ignora a questão racial e gosta de afago de homens brancos de gravata.

Ciro se comporta como linha auxiliar da direita, não é ambidestro coisa nenhuma, como pensam alguns, há muito ele não chuta mais com a canhota, só bate com a direita.

O cirismo é, em verdade, um cinismo.

Palavra da salvação.

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