O vídeo sumiu, ninguém sabe ninguém viu

"Solicitada pelo ministro do STF Celso de Mello para ser entregue em 72 horas, é a melhor prova que Moro tem, talvez a única, de que (Sérgio Moro) está dizendo a verdade", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia. "Enterrar o caso o quanto antes interessa tanto a Moro quanto a Bolsonaro. Mas não à Justiça"

(Foto: ABR)


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

Está na cara que o ainda presidente não vai entregar de mão beijada a Moro o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril na qual, segundo o ex-juiz e ex-ministro ele teria ameaçado demiti-lo se não trocasse o chefe da Polícia Federal e o superintendente do Rio.

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Solicitada pelo ministro do STF Celso de Mello para ser entregue em 72 horas, é a melhor prova que Moro tem, talvez a única, de que está dizendo a verdade.

Os sinais de que Bolsonaro vai resistir até o fim – tal como no caso dos exames de coronavírus - são vários.

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A AGU já recorreu da decisão de Celso de Mello, não quer entregar o vídeo de jeito nenhum, alegando que pode conter segredos de estado.

Além disso, ninguém sabe onde está o vídeo.    

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Reportagem na página A10 da “Folha de S.Paulo” de hoje, “Governo recorre ao STF para não entregar vídeo citado por Moro”, assinada por Julia Chauib e Matheus Teixeira, faz um périplo em busca do dito cujo, que teria sido gravado pela EBC, mas não o encontra.

O assessor especial da Presidência da República, Célio Faria Jr. que, segundo o site “O Antagonista” teria ficado com o cartão de memória e formatado o vídeo nega à “Folha” que esteja com ele, mas informa que as reuniões ministeriais “são eventualmente gravadas pela Secom, na sua maioria, registros curtos e pontuais”; já o chefe da Secom, Fábio Wajngarten diz que também não tem a gravação.

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Tudo soa muito estranho, pois o próprio Bolsonaro tinha afirmado, domingo, que iria mostrar a todos o vídeo da reunião. Quer dizer então que há um vídeo. Depois recuou e não falou mais nisso.

Ninguém pode saber a essa altura o que Celso de Mello fará se o vídeo não for entregue, uma das possibilidades é acionar a Polícia Federal para descobrir se a reunião foi gravada ou não, na íntegra ou não, quem a gravou e o seu destino. O vídeo não pode ter evaporado.

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Caberá também à PF averiguar, em caso de o vídeo ter sido apagado ou desaparecido, o responsável por esses atos, que poderá ser processado por obstrução de justiça.

Mas se nem a PF descobrir onde está o vídeo, a acusação de Moro ficará enfraquecida e o inquérito poderá morrer aí caso o chefe da PGR, Augusto Aras, conclua que não tem elementos para oferecer denúncia, ou seja, não vai dar seguimento ao inquérito, por falta de provas.

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Não acredito que algum dos ministros militares convocados para depor – Heleno, Ramos e Braga Netto -  forneça alguma prova para Moro, o que seria visto por Bolsonaro e filhos como imperdoável traição.

Eles poderão responder como o ministro Ricardo Salles que, em entrevista, ontem, à CNN Brasil disse que esteve na reunião, mas não lembra “detalhes”, ou seja, não ouviu Bolsonaro dizer o que Moro disse que ele disse.

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Embora a reunião com os generais citada por Moro seja outra, a portas fechadas, ocorrida depois da ministerial e na qual Heleno teria dito que o que Bolsonaro pedia – acesso a investigações secretas da PF – não era republicano, eles deverão ser orientados pelo advogado de Bolsonaro a recorrer ao mesmo argumento: não lembram “detalhes”.

Enterrar o caso o quanto antes interessa tanto a Moro quanto a Bolsonaro.

Mas não à Justiça.

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