O (verdadeiro) salto para o futuro

No quesito militância nas ruas, na quarta-feira, foi uma vitória de quem defende a legalidade, tendo como ponto alto a Avenida Paulista tomada de ponta a ponta. Pela primeira vez nesta batalha de manifestações, os que não votaram na presidenta Dilma levaram a pior

No quesito militância nas ruas, na quarta-feira, foi uma vitória de quem defende a legalidade, tendo como ponto alto a Avenida Paulista tomada de ponta a ponta. Pela primeira vez nesta batalha de manifestações, os que não votaram na presidenta Dilma levaram a pior
No quesito militância nas ruas, na quarta-feira, foi uma vitória de quem defende a legalidade, tendo como ponto alto a Avenida Paulista tomada de ponta a ponta. Pela primeira vez nesta batalha de manifestações, os que não votaram na presidenta Dilma levaram a pior (Foto: Leopoldo Vieira)


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A missão precípua que o momento exige é cuidar para que o #ForaCunha não vire #ForaCunha e #ForaDilma, compondo uma narrativa oposicionista de livrar o País de dois males ao mesmo tempo.

Contudo, a população trabalhadora e de baixa renda ainda aguarda o desenrolar dos acontecimentos, tensa com o futuro imediato em relação aos empregos. O sentimento geral é de que enquanto os políticos brigam, o povo padece. Isso segue explicando a pesquisa do IBOPE publicada no início da semana, que manteve a rejeição ao governo na casa dos 70%.

Na crise total, pode cair a nota das empresas de risco em relação ao grau de investimento do País, desde que suba a geração de empregos. Não importa se, para isso a meta fiscal seja próxima a 0%. Em momento de retração é perfeitamente normal no mundo inteiro, a começar pelos EUA que ampliaram o teto de endividamento e déficit no orçamento previsto para 2017.

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Emprego é o início da solução duradoura para a crise política e econômica que tem origem na Operação Lava-Jato. Ambas, aliás, começarão a se resolver assim que os empregos começarem a fazer a roda da economia girar.

Esta é a mensagem que não pode deixar de ser entendida. Depois vem o resto.

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Com a popularidade em vias de recuperação, a presidenta pode aproveitar o afastamento do presidente da Câmara pedido pelo Procurador-Geral da República, caso o Supremo acate, e propor um pacto para o Congresso Nacional.

A hipótese da saída responsável e voluntária do ministro Levy, veiculada pelos jornais, passou da oportunidade para a presidenta nomear um ministro comprometido com os empregos para um avanço na reflexão governamental sobre a condução da economia. Segundo a imprensa, o Planalto começa a pensar em um nome da política. E isso não tem que querer dizer exatamente um empresário político.

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É preciso alguém que seja capaz de selar pactos políticos com o setor econômico,sobretudo os que, dentro dele, apoiam a legalidade e o projeto representado por Dilma Rousseff. Porém, no mesmo sentido, com os trabalhadores e a classe C. É a hora do predomínio do Como Fazer sobre O que Fazer.

É uma oportunidade para recuperar a narrativa econômica das eleições, ao invés de aceitar a tese do estelionato eleitoral. Se, como dizem alguns colunistas, Dilma comanda a economia, fez o possível para a crise não estourar no colo dos trabalhadores e não se convenceu da fórmula liberal para ajustar a economia impactada pelo agravamento da crise mundial, ela está certa.

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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) atravessou oficializou adesão ao Impeachment. É uma clara confissão de que boicota os investimentos que poderiam retomar o crescimento e proteger empregos e salários.

Entre os argumentos para apoiar o golpe, a Fiesp citou "a falta do ajuste fiscal, o estouro das contas de 2015, e o fato de o Brasil estar crescendo menos 3,5%, enquanto o mundo cresce 3% positivos". Porém, o motivo político levantado é responsabilidade inteira da Fiesp.

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Desde 2012, apesar do esforço do governo em reduzir a Taxa SELIC, ampliar o crédito subsidiado do BNDES e implementar um amplo programa de desonerações num ambiente de pleno emprego, a indústria não investiu e a economia resistiu por causa dos investimentos estatais em infraestrutura e da ampliação das políticas sociais.

Todavia, a Abimaq e da Anfavea (associações de industriais de automóveis e da formação bruta de capital fixo, cruciais para composição do PIB) criticaram o apoio da Fiesp ao Impeachment. Ou seja, o governo precisa de uma concertação social com todos que defendem seu sentido.

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Há saída, portanto. E ela pode ser baseada em esforços já em curso pelo governo para recuperar a capacidade de investimento público.

Por exemplo, girar a CPMF para financiar um programa estatal emergencial de investimentos em obras públicas, de preferência de médio porte, que poderão ser arcadas por construtoras sem a envergadura das envolvidas na Lava-Jato, cujos acordos de leniência parecem fora de questão.

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Ainda nessa quarta-feira, os jornais destacaram que Renan Calheiros, presidente do Senado, responsabilizou o vice-presidente Michel Temer por parte da crise política, sobretudo por ter se comportado como um "gestor de RH" enquanto chefiou a articulação política (no que foi fundamental, diga-se, para o vivido hoje não ter se antecipado em meses, num contexto muito pior).

Para Renan, Temer deveria ter se preocupado com o que presidente do Senado tem defendido: para além de ocupar cargos, o PMDB ser sócio da linha, dos rumos e da estratégia de governo.

É preciso utilizar o contraponto de Renan para dissuadir o golpismo em setores peemedebistas, mas é preciso, da mesma forma, escutar Renan.

O governo tem que começar efetivamente a pensar em governar (diferente de receber) com a Frente Brasil Popular, com a Primavera das Mulheres, com a Marcha das Mulheres Negras, com o ‪#‎VoaJuventude‬ contra a redução da maioridade penal, com os beneficiários dos programas sociais, mas também com os grandes e pequenos dos financiamentos do BNDES, com a Abimaq, Anfavea e magazines Luizas.

Em seu leque de aliados devem caber Mujica e Putin, mas valorizar Obama. Onde pode caber Ciro Gomes, Roberto Requião e Jean Willys, tem que caber Renan Calheiros e Leonardo Picciani, que retomou seu posto na liderança do PMDB na Câmara dos Deputados após uma luta incansável contra os dissidentes.

Aliados e agenda são a palavra-de-ordem e o foco, sem ilusões altermundialistas.

A missão precípua que o momento exige é cuidar para que o #ForaCunha não vire #ForaCunha e #ForaDilma, compondo uma narrativa oposicionista de livrar o País de dois males ao mesmo tempo.

A ofensiva de Rodrigo Janot é uma faca de vários gumes. Pode ser o sonho da oposição de um Impeachment limpo e já articulou a ascensão do deputado e ex-governador pernambucano Jarbas Vasconcelos, um histórico do velho MDB, para a vaga de Cunha. Pode ser a precipitação do Impeachment, para que deputados envolvidos nas operações da Polícia Federal ao menos vislumbrem chance de se livrar da cassação ou prisão. Pode ser a persuasão para que pensem melhor aonde vão levar a aventura paraguaia, sendo que, quanto mais acreditam que há ação coordenada, mais se desesperam e aceitam a ideia da precipitação.

Ainda que um sábio chinês já tenha alertado que todo poder emana da ponta de um fuzil (ou de um despacho judicial nestes tempos de judicialização, já que a política é a guerra por outros meios), melhor mesmo são as soluções democráticas.

Semeadas desde já, isto é uma ponte para a vitória sobre o Impeachment. O pós-golpe precisará, sob direção da presidenta e do PT, de um novo acordo onde caibam os industriais que queiram investir, os empregos com direitos trabalhistas, a participação social aprofundada, a estabilidade no parlamento com uma nova maioria, e a criação de condições para mais direitos, serviços e políticas públicas, assim como uma ampla discussão em torno das reformas de base do século XXI com toda a sociedade.

O afastamento de Cunha pode ser a chance para se chamar este pacto, mas é necessário ter força reconhecida para que o chamado tenha eco.

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Sobre isto, este autor escreveu, em 31 de outubro de 2014, um artigo intitulado "O discurso da presidenta e a montagem do governo" (leia aqui).

É preciso ter cuidado com a narrativa em torno da Operação Lava-Jato e sua relação com a batalha do Impeachment. Qualquer concessão à racionalidade e modus operandi de Sergio Moro pode ser uma bala atirada em Eduardo Cunha e acertada no movimento de ministros do Tribunal Superior Eleitoral para cassar a chapa Dilma/Temer.

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