"O velho, o menino, o burro" e os luas-pretas

A questão da moradia desafia a máxima de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta

Imóveis do programa Minha Casa Minha Vida
Imóveis do programa Minha Casa Minha Vida (Foto: ag. Brasil)


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“O embrião não é a casa em si. As famílias conquistaram seus lotes de 90m² e as casas ainda serão construídas com o tempo. Vemos os lotes e os embriões como uma vitória fruto de uma história de lutas da Comunidade, mas a luta continuará" 

(Nota da coordenação da ocupação Mandela) 

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O tema sob reflexão hoje é o direito à moradia e homenagem aos moradores do loteamento Mandela em Campinas, sobreviventes da crueldade do capitalismo, corajosos e criativos e que - mesmo tendo muito pouco ou quase nada -, venceram enormes desafios, pois, o sonho de conquistar a moradia adequada e digna era maior ainda. 

O direito à moradia é um tema complexo e a solução ainda mais. De acordo com a ONU-Habitat, pelo menos dois milhões de pessoas no mundo são despejadas a cada ano, enquanto outras milhões de pessoas estão ameaçadas de remoções forçadas, esses fatos evidenciam sua complexidade.

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A questão da moradia desafia a máxima de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta; na maioria das vezes, a linha reta não é o caminho possível, o trajeto até a moradia é longo, complexo e cheio de surpresas. Dentre as “complexidades” estão as opiniões de quem: (i) não está envolvido no problema; (ii) não sabe nada sobre ele, mas (iii) tem sempre uma solução muito simples e estupida. 

Recorro a uma fábula que retrata bem o quanto os palpites são, quase sempre, desnecessários, inúteis e causam enormes problemas se nos preocuparmos com eles. 

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Vamos à fábula.

Conta-se que um velho precisando de dinheiro, mandou o filho buscar o burro ou a mula para vender; o menino trouxe o burrinho; seguiram os três para a cidade. Nenhum dos dois montou no burrinho.

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Num certo ponto da estrada um viajante falou: “´-Um velhinho caminhando, tendo o burro para montar. É promessa ou penitência?”, e gargalhou. Constrangido o velho acabou montando no burrinho e o menino seguiu a pé puxando o animal, na mais pura inocência.

Tudo parecia bem, mas passando pelas corredeiras, as lavadeiras gritaram: “- Um marmanjão, com saúde, montado e o pobre menininho puxando o animal. Que malvado!”. O velho ficou confuso e para atender a opinião das lavadeiras, colocou o menino na garupa e, ambos montados, seguiram. 

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Em menos de dez minutos, surgiu, montado numa bicicleta, um roceiro que disse: “Pobre animal, não vai chegar ao seu destino, com todo esse peso e num dia quente como hoje”; mais uma vez, o velho, cedeu à opinião de um desconhecido, desceu do burro, deixou o menino montado.

Encontraram ainda outro sujeito que, em tom jocoso, perguntou ao menino: “– Você por acaso é um príncipe? Somente os príncipes têm lacaios para puxar suas montarias.”; o velho, ofendido, respondeu: “Lacaio eu? Mas que desaforo! Desça ligeiro menino, não quero ouvir este coro, vamos com o burro nas costas, para ver se o mundo assim gosta”.

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E assim foi feito, os dois chegaram à cidade com o burrinho nas costas e ouviram de alguns rapazes: “Vejam, três burros, quem é o mais burro?”. Num instante de lucidez, o velho grita: “Sou eu, o mais burro sou eu, burro de orelha, querendo ouvir todo mundo; quem segue esse mundo maluco, vai morrer doido ou caduco, sem nunca agradar ninguém!”. 

Lanço mão dessa fábula dizer às lideranças da ocupação Mandela e aos administradores municipais: não deem ouvidos às lavadeiras, nem aos roceiros, são todos uns luas-pretas e oportunistas, gente séria sabe que os “embriões” são apenas a primeira etapa das casas definitivas que serão construídas, são, segundo os próprios beneficiados, são uma conquista, são lotes de 90m².

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Não sou apenas um “palpiteiro”, fui secretário de habitação em Campinas e em Sumaré tendo, nessa condição, participado da solução de duas grandes ocupações - o “Oziel e Monte Cristo” e a “Vila Soma”.

Não estou dizendo que casas de 15 m2 são política habitacional adequada, aliás, nem a administração municipal afirma tratar-se disso, mas tem-se de reconhecer que os embriões representam o possível de ser realizado em tempo recorde e nas circunstâncias dadas: ordem judicial de desocupação.

O ideal teria sido construir as casas definitivas, mas o possível foi começar pelos embriões e oferecer toda a infraestrutura. A solução da questão da moradia exige paciência, pois o caminho é longo, complexo e cheio de surpresas. 

O loteamento Residencial Mandela - que abrigará 450 pessoas, numa área de 23 mil metros -, conta com: asfalto, redes de água, esgoto, energia elétrica e iluminação pública; foram investidos 6 milhões de reais; a COHAB fornecerá plantas para que possam aumentar o imóvel.

Os futuros moradores do loteamento popular, hoje vivem em barracos, sem saneamento básico ou iluminação e com uma ordem judicial de desocupação.

O pessoal corajoso do Loteamento Mandela, sabe que aquele espaço lhes oferece a segurança da posse; que há no entorno serviços; que há asfalto, água; saneamento básico, energia, iluminação e coleta de lixo; que o custo não ameaça, nem compromete suas vidas; que a moradia garante a segurança física e estrutural e que, na medida que forem construindo os outros cômodos, haverá espaço adequado; que estão bem localizados, havendo nas proximidades serviços de saúde, escolas, creches e outros equipamentos públicos e que estão longe de áreas poluídas ou perigosas.

Essa é a verdade, o resto é oportunismo, tentativa de lacração e ação corrosiva dos luas-pretas. 

 Essas são as reflexões. e.t.  segundo o já falecido jornalista Ferreira Neto “lua preta” é um sujeito "mala”, um chato, do contra, pessimista.

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