O Vale do Silício chinês

A China se prepara para deixar de vez o lugar de país exportador de materiais de consumo básico, no qual se consolidou desde os anos 1990, para chegar ao de produtora de tecnologia. Hoje, o principal projeto para a região mais rica da China, a grande Shanghai, é o G60

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A China se prepara para deixar de vez o lugar de país exportador de materiais de consumo básico, no qual se consolidou desde os anos 1990, para chegar ao de produtora de tecnologia. Avançando a passos largos e já na primeira linha da produção tecnológica mundial, o país, com diversos incentivos governamentais para criar as condições favoráveis à iniciativa privada, mostra ao mundo o papel fundamental do Estado para o desenvolvimento da economia, ao contrário do que prega o ultraliberalismo que se tornou moda no Brasil.

Hoje, o principal projeto para a região mais rica da China, a grande Shanghai, é o G60, que recebeu este nome graças à rodovia que sai da capital da economia chinesa e leva ao interior. A ideia é criar parques tecnológicos nas mais diversas áreas por toda a G60, congregando até nove cidades num mesmo esforço em prol do desenvolvimento econômico por meio da produção de conhecimento para inovação e criação de novas tecnologias. A ideia do presidente Xi Jinping, quando lançou o projeto sob o slogan "um corredor, nove regiões" em 2016, é transformar a cidade de Shanghai e arredores em algo como o Vale do Silício americano, onde nasceram as gigantes do meio cibernético ocidental (Facebook, Google etc).

O país, inclusive, com sintonia entre setor privado e Governo, já mostra os caminhos que pretende percorrer para diferenciar-se no âmbito da inovação. Dois segmentos estão se mostrando caros aos pesquisadores chineses: a impressão em três dimensões (ou impressão 3D) e o desenvolvimento de inteligência artificial (que vai desde os robôs, que inundam o imaginário dos ocidentais sobre o oriente, até os mais palpáveis projetos que visam à eficácia cada vez maior dos processos de automação da produção). A internet, no entanto, não está fora disso, e a utilização da inteligência artificial para plataformas de e-commerce (comércio de bens, em rede, pela internet) é uma das novidades que a gigante do setor, a Alibaba (pouco popular no Brasil, mas mundialmente uma concorrente da Amazon) pretende trazer.

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Todos os dois têm um objetivo: tornar mais econômico e personalizado o processo de produção. Hoje, ainda investe-se pesado em extração e compra de matérias-primas, o que degrada o meio ambiente e encarece produtos. Além disso, emprega-se muita força de trabalho desqualificada, que amplia gastos e reduz o crescimento do país, visto assentar-se sobre linhas de produção cada vez menos eficazes. Ao investir na impressão em 3D a China busca desvincular-se da imagem de predador de recursos naturais e do meio ambiente, trabalhando mais materiais sintéticos renováveis e, também, reduzindo custos. Este projeto promete inundar o ocidente de produtos feitos a partir das tecnologias 3D nos próximos anos.

Igualmente, ao ampliar a inteligência artificial para tornar mais eficaz a automação, o país busca, ao contrário do que pode-se imaginar, melhorar as condições de vida e de renda de seus trabalhadores. Isto porque, se dispensa-se funções pouco qualificadas, gradativamente aumenta-se a demanda por gerenciamento dos novos dispositivos tecnológicos, além de o crescimento econômico que esta mudança promete garantir a redistribuição dos postos de trabalho com melhores faixas de renda para seus cidadãos.

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Por isso, nos laboratórios das grandes empresas da tecnologia chinesa, como a Alibaba, a Baolong e a Hangzhou Artificial Intelligence, são testados todo tipo de produtos que vão usufruir da inteligência artificial no futuro, otimizando tempo e custos de produção, mas, também, oferecendo mais conforto e segurança para as pessoas. É o caso, por exemplo, das tecnologias de reconhecimento facial aperfeiçoadas pela Alibaba, que nasceram no âmbito da segurança pública, mas já passam ao dia a dia com logins de internet, por exemplo, além de mecanismos de buscas que encontram um produto desejado por meio de fotos.

Igualmente, faz parte desse hall um robozinho que toma conta de crianças, conta histórias, toca músicas e avisa aos pais por mensagem de celular caso perceba algum problema. Igualmente, de uma moto que nunca cai, visto ser dotada de inteligência artificial que corrige a imperícia do condutor. Vale, igualmente, para máquinas que transportam carga pesada desenvolvidas para portos e aeroportos e que contam com a mais eficaz inteligência artificial para fazê-lo com precisão de tempo e local.

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Até agora, só no projeto G60, foram R$ 80 bilhões investidos, 280 mil patentes licenciadas, 15 mil empresas com reconhecimento internacional como "produtoras de alta tecnologia", tudo nascendo do investimento do Estado e na parceria com o setor privado para geração de riqueza com atenção à distribuição de renda.

O Brasil precisa ficar atento às lições política e econômicas da potência oriental.

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