O uso abusivo e suspeito do off pela mídia comercial
"Será que as figuras de proa do jornalismo televisivo são capazes de operar milagres, a ponto de ao vivo apurar informações pelo Whatsapp?", indaga Bepe Damasco
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Uma vez ouvi do saudoso Paulo Henrique Amorim, que figura certamente entre os maiores jornalistas do país ao longo da história, que a desgraça do jornalismo nativo era o off.
Claro que o PHA não estava questionando o direito legal de preservação das fontes pelos jornalistas, sem o qual o direito à informação, um dos pilares do regime democrático, certamente seria abalado.
Referia-se, muito provavelmente, à larga utilização do off por parte de profissionais dos veículos hegemônicos de comunicação como escudo protetor para a disseminação de notícias alinhadas com os interesses econômicos e políticos dos donos dos grupos de mídia.
Escrevi o presente artigo logo após a leitura de uma reportagem do portal UOL sobre um possível mal-estar no governo causado pelas ações, declarações e postagens nas redes sociais da primeira-dama Janja da Silva.
Mas UOL não consegue justificar o título da matéria (“Janja ignora ministros, cria crises para Lula e preocupa aliados”), bem como seu conteúdo, por nenhuma declaração em on.
É tudo na base do sujeito oculto ou indeterminado. De ponta a ponta o que lemos é “segundo interlocutores do presidente”, ou “para aliados e membros do próprio governo”, ou ainda “auxiliares de Lula criticam reservadamente...", e por aí vai.
E o mais interessante é que a resposta da Secom, esta sim oficial, só aparece espremida sem nenhum destaque na reportagem: “Todas as manifestações do presidente e da Janja contam com o apoio e o respaldo da Secom”, diz a nota.
Não vou entrar no debate acerca do mérito da questão, ou seja, se é verdade ou não que o protagonismo de Janja provoca desconforto. A discussão que me importa aqui diz respeito ao uso abusivo e suspeito do recurso do off como fio condutor da construção de notícias.
Será que as figuras de proa do jornalismo televisivo, festejadas pela agenda repleta de boas fontes que possuem, são capazes de operar milagres, a ponto de em tempo real, ao vivo, apurar informações bombásticas pelo Whatsapp? Uma vez ou outra, tudo bem, mas a todo instante?
Essas autoridades que lhes confidenciam informações dia e noite não se ocupam de compromissos próprios de seus cargos, tais como reuniões, palestras, entrevistas, viagens e despachos? Estão sempre disponíveis para os repórteres, nos quais confiam cegamente?
Difícil de acreditar.
Posando de portadores de inside information em profusão, alguns comentaristas não hesitam em se chocar frontalmente com a realidade. Vejamos: se há algo que une o governo Lula de cabo a rabo é a cruzada do presidente contra os juros altos, com críticas frequentes à atuação do presidente do Banco Central.
Mas não faltou analista da GloboNews dizendo que “entre os auxiliares de Lula, a repercussão de seus ataques a Roberto Campos Neto e à independência do BC é desastrosa.”
Pura conversa fiada. Nenhum ministro de Lula faria reparos à fala do presidente sobre os juros em contatos com esses jornalistas, seja por lealdade ou principalmente porque todos concordam com a campanha do chefe para derrubar os juros e fazer a economia voltar a crescer.
Isso, na hipótese dessas conversas ou troca de mensagens serem reais. Apostaria as minhas fichas que são meras opiniões desses profissionais, encobertas pela praga do off.
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