O uso abusivo e suspeito do off pela mídia comercial

"Será que as figuras de proa do jornalismo televisivo são capazes de operar milagres, a ponto de ao vivo apurar informações pelo Whatsapp?", indaga Bepe Damasco

Jornalismo
Jornalismo (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/ABr)


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Uma vez ouvi do saudoso Paulo Henrique Amorim, que figura certamente entre os maiores jornalistas do país ao longo da história, que a desgraça do jornalismo nativo era o off.

Claro que o PHA não estava questionando o direito legal de preservação das fontes pelos jornalistas, sem o qual o direito à informação, um dos pilares do regime democrático, certamente seria abalado.

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Referia-se, muito provavelmente, à larga utilização do off por parte de profissionais dos veículos hegemônicos de comunicação como escudo protetor para a disseminação de notícias alinhadas com os interesses econômicos e políticos dos donos dos grupos de mídia.

Escrevi o presente artigo logo após a leitura de uma reportagem do portal UOL sobre um possível mal-estar no governo causado pelas ações, declarações e postagens nas redes sociais da primeira-dama Janja da Silva.

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Mas UOL não consegue justificar o título da matéria (“Janja ignora ministros, cria crises para Lula e preocupa aliados”), bem como seu conteúdo, por nenhuma declaração em on.

É tudo na base do sujeito oculto ou indeterminado. De ponta a ponta o que lemos é “segundo interlocutores do presidente”, ou “para aliados e membros do próprio governo”, ou ainda “auxiliares de Lula criticam reservadamente...", e por aí vai.

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E o mais interessante é que a resposta da Secom, esta sim oficial, só aparece espremida sem nenhum destaque na reportagem: “Todas as manifestações do presidente e da Janja contam com o apoio e o respaldo da Secom”, diz a nota.

Não vou entrar no debate acerca do mérito da questão, ou seja, se é verdade ou não que o protagonismo de Janja provoca desconforto. A discussão que me importa aqui diz respeito ao uso abusivo e suspeito do recurso do off como fio condutor da construção de notícias.

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Será que as figuras de proa do jornalismo televisivo, festejadas pela agenda repleta de boas fontes que possuem, são capazes de operar milagres, a ponto de em tempo real, ao vivo, apurar informações bombásticas pelo Whatsapp? Uma vez ou outra, tudo bem, mas a todo instante?

Essas autoridades que lhes confidenciam informações dia e noite não se ocupam de compromissos próprios de seus cargos, tais como  reuniões, palestras, entrevistas, viagens e despachos? Estão sempre disponíveis para os repórteres, nos quais confiam cegamente?

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Difícil de acreditar.

Posando de portadores de inside information em profusão, alguns comentaristas não hesitam em se chocar frontalmente com a realidade. Vejamos: se há algo que une o governo Lula de cabo a rabo é a cruzada do presidente contra os juros altos, com críticas frequentes à atuação do presidente do Banco Central.

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Mas não faltou analista da GloboNews dizendo que “entre os auxiliares de Lula, a repercussão de seus ataques a Roberto Campos Neto e à independência do BC é desastrosa.”

Pura conversa fiada. Nenhum ministro de Lula faria reparos à fala do presidente sobre os juros em contatos com esses jornalistas, seja por lealdade ou principalmente porque todos concordam com a campanha do chefe para derrubar os juros e fazer a economia voltar a crescer.

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Isso, na hipótese dessas conversas ou troca de mensagens serem reais. Apostaria as minhas fichas que são meras opiniões desses profissionais, encobertas pela praga do off.

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