O urgente exorcismo dos vampiros do futebol
A emissora dos Marinho está se lixando para o afastamento do público dos estádios. Se a violência das torcidas organizadas, a segurança precária, o alto preço dos ingressos e a dificuldade no transporte afugentam o público, a Globo aumenta sua audiência ao manter o torcedor em casa de olho na TV
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Se um marciano descesse no Brasil hoje, seria difícil fazê-lo entender porque clubes de futebol com camisa, tradição e objetos da paixão popular se submetem há décadas às imposições da CBF e das federações, abrigos de uma cartolagem, em geral, arcaica e corrupta que vive de sugar o sangue dos clubes.
O alienígena queimaria também suas antenas para enxergar alguma sensatez no fato de uma emissora de televisão monopolizar as transmissões dos jogos, impondo horários extravagantes que penalizam a torcida, pressionando por calendários que preveem um número de jogos excessivo que arrebentam os atletas e definindo a quem pagar mais e a quem pagar menos
Que tipo de interesse público pode haver em jogos marcados para às 10h da noite ? Mas eles acontecem todas as semanas, às quartas e quintas-feiras e, infelizmente, já parecem ser vistos com naturalidade. O trabalhador, torcedor apaixonado por seu clube, precisa saber que ele chega às 2 da madrugada em casa, para ter de acordar para o batente poucas horas depois, por exigência da grade de programação da Globo.
A emissora dos Marinho está se lixando para o afastamento do público dos estádios. Se a violência das torcidas organizadas, a segurança precária, o alto preço dos ingressos e a dificuldade no transporte afugentam o público, a Globo aumenta sua audiência ao manter o torcedor em casa de olho na TV.
Já passou da hora de os clubes tomarem as rédeas de seu destino, se organizando numa liga com poderes para decidir sobre todos os assuntos de seu interesse. Da elaboração de tabelas racionais que levem em conta a preservação dos jogadores a um valor de ingresso que caiba no bolso da população; de horários civilizados para as partidas à liberdade de negociação de seus jogos com as emissoras que apresentarem a proposta mais vantajosa; da escolha dos árbitros a regulamentos pautados por critérios técnicos e esportivos.
No entanto, a chave para entender o problema está no conservadorismo, puxa-saquismo e até na promiscuidade dos dirigentes dos clubes de massa em suas relações com as federações . E a cada passo dado rumo à libertação, como no caso da criação da Primeira Liga, há um ano e pouco, dois são dados para trás quando os clubes assinam contratos de loga duração com a Globo, de quem se tornam reféns.
Os dois clubes mais importantes do Paraná estão apontando o caminho. Coritiba e Atlético Paranaense, além de terem dito não à proposta irrisória da Globo pelo direito de transmissão de seus jogos, se programaram para transmitir o clássico entre eles, no último domingo, pela canal dos dois clubes no youtube. O presidente da federação de futebol do estado pressionou os árbitros de forma irresponsável e o jogo acabou não acontecendo. Mas ficou o exemplo a ser seguido.
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