O Trajeto

A questão essencial é: as velhas e, sobretudo, as novas gerações de políticos se aperfeiçoarão em manter o País como algo não recomendado a amadores ou farão dele uma nação para todos os amadores?



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Observando nas redes sociais chapas para prefeituras e vereanças pelo Brasil, foi impossível não constatar que muitos entenderam pouco deste contexto político, que não é uma circunstância, é um uma mudança de ciclo cultural.

Enquanto os mais pobres assistem a crise política, aguardando os acontecimentos em relação à sua condição social, sobretudo a questão do emprego, a classe média, que assume a dianteira do conflito, divide-se em duas.

Uma expande o conservadorismo, como se tem visto, após mais de uma década contrariada. Esta pouco se importa com corrupção sistêmica. Apropria-se da retórica para reconquistar seu espaço social.

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Outra não se resigna mais em aplaudir avanços sociais. Quer expansão do progressismo.

Aqui não se confunde este termo com progresso em infraestrutura ou industrial a qualquer custo e nem com bandeiras nacionalistas. É algo mais como os americanos chamam de liberal left: direitos civis, participação cidadã, preocupações ambientais, diversidade sexual e regulação de falhas de mercado em benefício da sociedade como um todo. Esta está no ápice do rechaço ao sistema político brasileiro tal como posto. Era crítica a ele na abertura democrática, permaneceu assim enquanto o sistema permitiu avanços sociais, embora tenha endossado esta escolha legitimada tacitamente pela sociedade e, neste momento, não vê motivos mais para tal.

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Não exatamente por causa do processo de Impeachment em curso, mas devido ao conjunto da crise: denúncias, prisões, delações, revelações, tramas à luz do dia.

Este conflito estará latente nas eleições municipais. E, claro, o Brasil não é uma metrópole homogênea. Seguirão importando as necessidades dos que assistem à crise. Mas o vácuo de liderança impõe, nesta seara, mais do que Know How, Savoir Faire.

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Pode ser que o governo do presidente interino vire governo efetivo. Pode ser que não. Podem até haver novas eleições presidenciais. Ainda que não haja reforma alguma no sistema esta demanda estará presente.

Isto indica, querendo ou não, um novo ciclo.

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Nele pesará quem conseguir dialogar com suas características. Uma delas muda tudo: o fim do financiamento empresarial de campanha.

Terno e gravata, santinhos com padrinhos, boa retórica, apelido popular, candidatos tarimbados, cooptação de líderes comunitários podem continuar funcionando, mas os narizes estarão tampados, o sorriso amarelado, o olhar desconfiado.

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E ainda que funcione, para candidaturas progressistas, que existirão em todos os partidos, poderiam cumprir um papel mais elevado do que apenas contabilizar votos na apuração.

Não se tenha dúvida de que o pólo social-conservador vai cumprir um papel elevado ao contrário. E se não fizer escolha semelhante, ainda que estas coisas levem tempos de transição e adaptação, o pólo social-progressista será tragado.

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Reitero: aqui não se trata de novo governismo x nova oposição, mas de uma latência transversal.

Como já noto nas redes, o Brasil não permite binaridades. E a questão essencial é: as velhas e, sobretudo, as novas gerações de políticos, se aperfeiçoarão em manter o País como algo não recomendado a amadores ou farão dele uma nação para todos os amadores?

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Este ciclo em matéria de campanhas, exige, sim, novas gerações, mobilização pública, guerrilha virtual, ultra transparência política, reforma estética pessoal e política, alianças programáticas (e muito bem explicadas para a pólis), candidaturas-causa para mandatos-causa mente a mente, coração a coração, para viabilizar o engajamento financeiro e credibilidade cívicos, superação de antigos clichês e doutrinarismos em programas e retórica, com revisão ampla, geral e irrestrita de léxicos e a cremação do pragmatismo como cultura. Este, cuja assertiva-mor é "é verdadeiro o que é útil", quedou-se no próprio conceito: não é mais (ou não está mais) verdadeiro porque se tornou inútil.

Não se trata só de transformar vaquinha em crowdfunding, intercâmbio de experiências em benchmarking, participação social em accountability, mandato coletivo em coworking. Não se trata de renovar coronéis nem da ascensão de novos de plebeus ao coronelato.

Não se trata de multiculturalismo, mas de viola caipira como trilha para a universalização cosmopolita. Tomar Vandré para ir à Jobim.

Iniciativa. Audácia. Surpresa.

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